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Comportamento Adolescente e Educação

Trânsito ao redor das escolas volta a chamar atenção

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Por Carolina Delboni
Atualização:

O trânsito nas ruas voltou e com ele as questões que envolvem o entorno das escolas como fila dupla ou carro estacionado em cima da faixa de pedestre. Como vai o entorno da escola do teu filho?

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Com a volta das atividades presenciais, escolas abertas funcionando normalmente e uma certa presença da vida como estávamos acostumados, o trânsito de São Paulo resolveu dar suas caras novamente. Voltamos a pegar a Marginal Pinheiros congestionada às 18h ou avenidas como 9 de Julho e Santo Amaro praticamente travadas.

O mesmo acontece ao redor das escolas que tiveram que recolocar em prática programas de combate ao trânsito, além de relembrar às famílias regrinhas básicas como não parar em fila dupla ou estacionar na porta do vizinho mesmo que seja "só um minutinho".

Começo de ano letivo é sempre um momento em que as escolas retomam alguns combinados com as famílias. É comum o envio de comunicados relembrando horários de entrada e saída, funcionamento da cantina e autorizações permanentes, por exemplo. Mas alguns assuntos requerem um diálogo mais constante e permanente, como é o caso da organização do trânsito na porta das escolas.

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Educação no trânsito também acontece na porta da escola  Foto: Estadão

"Para que possamos manter o trânsito fluido na entrada e saída dos alunos, agora com um número muito maior de veículos, lembramos a todos do projeto de trânsito implementado pelo CET em meados de 2018, anexo aqui, e pedimos a colaboração e atenção dos pais e responsáveis para o cumprimento integral das leis de trânsito na porta e imediações da nossa escola.

Pedimos a atenção especial para por favor não estacionarem na faixa de embarque e desembarque dos alunos e nem em fila dupla, bloqueando o trânsito na faixa de rolagem. Além de ser local proibido, atrapalha o fluxo de entrada e saída as crianças. Atenciosamente, Núcleo de Direção"

O assunto não é novo, mas ele é constante, basta observar o comunicado acima enviado por uma escola privada da grande São Paulo. Quando se trata de educar vale a máxima "da porta para fora também é assunto da escola" uma vez que cabe a ela alertar pais e responsáveis sobre como se portar na hora de deixar seus filhos na instituição.

É frequente vê-los estacionando em lugares proibidos com a justificativa de que "é rapidinho, só vou deixá-lo ali e já volto". Ou parando em fila dupla, abrindo a porta do carro no meio da rua para o filho descer porque "a fila tava grande e já estamos atrasados, é rapinho". Ou ainda estacionando na frente da garagem de algum vizinho já que "ninguém sai a essa hora mesmo e é rapidinho".

"É rapidinho" é a frase mais usada como justificativa ao não cumprimento das regras que são coletivas. Burlar as leis de trânsito que se aplicam à porta das escolas parece não ter problema - ou não ser problema. É como se existisse naquele contexto uma suposta permissividade. Mas por quê?

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O atraso de uma criança pode justificar? A pressa de um pai justifica? O conforto de um aluno justifica? O que justificaria adultos poderem descumprir regras coletivas na porta da escola de seus próprios filhos? O que eles ensinam a essas crianças?

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Educação no trânsito é um assunto que parece se resumir ao momento em que o cidadão vai tirar sua carta de motorista ou renová-la. Mas educação no trânsito é um assunto cotidiano - ou deveria ser.

A pé, de bicicleta, transporte público ou carro, a partir do momento em que saímos de casa para a rua, para o ambiente funcionar coletivamente de maneira segura, respeitosa e organizada é preciso que as regras e as leis sejam cumpridas por todos, como diz a lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. É o "tal"exercício da cidadania.

Nos primeiros três meses de 2021, a Companhia de Engenharia de Tráfego contabilizou quase 60% a mais de registros de infrações na volta às aulas. Foram 57 mil registros e entre as maiores autuações estão os clássicos: parar em fila dupla, estacionar em local proibido, passar no sinal vermelho e fechar o cruzamento.

A relações públicas da Escola Waldorf Rudolf Steiner, Larissa Ventriglia, relembra que em parceria com a CET, em 2018, foi feito um estudo nas mediações da escola e ajuste foram propostos para atender a demanda de carros da região que é residencial.

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O programa Operação Escola, uma iniciativa importantíssima desenhada pelo CET em 2014, foi implementado na sequência com o intuito de garantir maior segurança aos alunos e fluidez do trânsito local. "Além disso, contamos com um segurança terceirizada que guia os carros, há também uma sinalização feita com cones para desembarque e embarque rápido na faixa da direita, onde a escola está localizada." conta Larissa.

Márcio Usmari, gerente geral administrativo do colégio Dante Alighieri, diz que também contam com o apoio de seguranças no entorno para garantir a operação. "São pelo menos oito profissionais por turno, vestidos com colete para rápida identificação. Esta equipe faz parte dos funcionários CLT do Dante, muitos deles com anos de casa, o que proporciona relações amistosas e de extrema confiança entre esses profissionais e a comunidade escolar", diz.

Ele esclarece que os seguranças alertam quando o motorista está com o carro parado por mais tempo que o necessário, orientando quanto à fila correta para embarque e desembarque de alunos, fazendo assim toda a organização do trânsito com relação às faixas de pedestres.

"O Colégio também tem com uma equipe de funcionários designados para auxílio no embarque e desembarque seguros, especialmente no caso dos alunos menores", explica Márcio.

Além das medidas nas mediações do trânsito escolar, as mesmas reforçam os comunicados via agendas, e-mails e até campanhas. Recentemente, as instituições têm enviado também um croqui com desenhos e mapas indicando locais corretos de embarque e desembarque, colaborando com mais informações.

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Larissa, da Rudolf Steiner, conta que logo no começo do ano as informações foram todas reenviadas aos pais e responsáveis relembrando as leis do 'Operação Escola'. No colégio Dante Alighieri não é diferente. "A circular mais recente foi enviada aos pais final de janeiro" afirma Márcio.

"Além do lembrete de como funciona o trânsito escolar, explicamos que o Colégio dispõe de várias saídas no entorno do terreno para pedestres, possibilitando a entrada e saída a pé das famílias, que moram em condomínios próximos", fala o porta-voz do colégio Santa Maria, que tem um espaço interno no colégio onde a maior parte dos veículos é colocada em fila dentro do terreno do colégio.

"São em média 380 veículos das 12h às 13h, sem contar o grande número de vans escolares que também usufruem desse benefício. E mesmo tendo acesso a parte interna do colégio, nos horários de entrada e saída, o trânsito por ali fica bem intenso e a movimentação de um grande número de veículos é inevitável", diz.

As escolas também promovem ações internas e campanhas de incentivo para que pais deixem o carro em casa, usem a bicicleta ou que possam ir a pé, para os que moram nas proximidades.

No Santa Maria, as saídas para pedestres têm tido grande aceitação dos pais que moram na região. "Em uma delas são cerca de 80 alunos, em outra cerca de 250 estudantes", diz. "Antes da pandemia, tínhamos um procedimento de "carona solidária" que diminuía o número de carros dentro da instituição, porém, com a pandemia, suspendemos temporariamente", conta o porta-voz.

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"Já tivemos campanha para os alunos em que eles eram orientados sobre boas práticas no trânsito, e praticavam na entrada e saída dos veículos no horário de pico. Eles usavam um colete de trânsito e orientavam os pais no trânsito interno" conta.

Na Rudolf Steiner, há também um grande esforço para conscientização de adultos infratores e para isso a escola conta com o suporte da Coordenadoria de Pais que auxilia diariamente na capacitação de adultos que orientam outros pais para que não estacionem em locais irregulares.

"Confeccionamos e espalhamos cartazes por toda a escola. Até porque, isso é especialmente sensível no caso da nossa Escola, que está localizada em uma área residencial em uma rua estreita," afirma Larissa.

 Foto: Estadão

Programa Permanente

Há mais de 30 anos, o Detran SP oferece o Clube do Bem-te-vi, um programa educativo de trânsito para crianças, que é coordenado e desenvolvido pela Diretoria de Educação para o Trânsito e Fiscalização em parceria com a Polícia Militar do Estado de São Paulo.

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Mauro Voltarelli, gestor de Educação para o Trânsito do Detran SP, compartilha que o programa é totalmente voltado à educação das crianças, mas tem um viés focado na transformação da família em relação à conduta no trânsito.

Para ele, a ideia é que as crianças se tornem multiplicadoras de boas práticas, sobretudo em casa com os pais. "O Clube do Bem-te-vi já atendeu a mais de 345 municípios em quase 5 mil escolas e entidades como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Nosso projeto oferece materiais didáticos com informações sempre atualizadas sobre as regras de trânsito."

Mauro conta que os alunos também recebem um Talão de Multa Mirim de fiscalização para praticar de forma lúdica, o que aprenderam em sala de aula. "Quando estão no carro, as crianças aproveitam para 'multarem' os próprios pais, quando percebem que eles infringiram alguma regra de trânsito, principalmente durante a ida ou volta da escola," afirma.

Além disso, os agentes de trânsito e os policiais militares aproveitam o espaço para brincadeiras e fazem teatros com fantoches voltados para a diversidade, que abordam questões de inclusão para crianças com deficiências.

Para agendar uma visita do programa ao município, a solicitação deve ser feita pela própria escola, pública ou privada, via site do programa Bem-Te-Vi.

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