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Saiba como fazer e utilizar plantas secas na sua decoração

Processo de secagem prolonga a vida das espécies, exige menos trabalho dos moradores e é sustentável

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Por Ana Lourenço
Atualização:
Diferentes tonalidades dominam o ateliê da designer floralSuelen Grana. Entre as folhas e folhagens secas, algumas tingidas, outras naturais Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Lembro que a primeira vez que vi uma daquelas folhas grandes, cor-de-laranja, típicas do outono norte-americano, guardei dentro de um livro, na esperança de não quebrá-la. Ainda está no mesmo lugar e, cada vez que a vejo, me sinto de volta ao parque em que estava quando a peguei do chão. Sua beleza, para mim, está nos detalhes e na história que ela me conta. E essa forma meio poética de desfrutar o passar do tempo nas flores e folhagens não é exclusividade minha. Existe até um mercado para isso, que vem crescendo cada vez mais e ganhando espaço dentro da decoração.

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As flores e folhagens secas são plantas naturais que sofreram um processo de desidratação. Suas exigências são: frescor, zero umidade e baixa luminosidade. A prática também é considerada sustentável, pois você descarta flores com menos frequência. “A principal questão é a durabilidade. É muito comum comprarmos um buquê de flores frescas, colocar na água e mesmo com todos os cuidados, ele morrer em sete dias. Já a planta seca vai durar, no pior dos cenários, seis meses”, conta a designer floral Suelen Grana, da loja Primeira Planta.

Para ela, houve dois momentos na pandemia que foram significativos para o aumento da procura por plantas. “No início, as pessoas estavam muito mais em casa e queriam ter algo que crescesse e que elas pudessem acompanhar. Mas aí, a questão do home office, mais ou menos em janeiro deste ano, foi caindo, e eu comecei a perceber que as pessoas queriam só decorar a casa, não queriam mais cuidar”, diz Suelen. “Hoje em dia, o seco virou meu carro-chefe.”

O preconceito está nas pessoas associarem as plantas secas com plantas mortas. “A partir do momento que uma flor é colhida, ela começa um processo de decomposição que vai demorar conforme ela for preservada. Então a planta fresca de corte já não é uma planta viva”, explica a arquiteta e paisagista Virgínia Fraiz, da loja Verdifique Plantas.

A florista Marília Fialka, da loja Fialka, tem a mesma opinião. “Dá para brincar com textura, movimento, peso. Eu realmente vejo muita beleza nas plantas secas. A flor se transforma e eu fico muito feliz porque nos últimos três meses eu vi que as pessoas estão entendendo isso”, conta.

Apaixonada por flores desde pequena, Marília sempre gostou de observá-las. “Cada vez que eu pegava e sentia o arranjo seco, ele me ensinava muito sobre os ciclos. Inclusive quem compra meus arranjos recebe essa mensagem sobre a beleza dos ciclos naturais, para as pessoas verem que existe beleza nos aniversários, no envelhecer. Acho que há bastante poesia nele”, relata.

Arranjos, buquês, quadros, marca-páginas. As opções não faltam na hora de eternizar a beleza das plantas secas. Seu processo de secagem, no entanto, deve ser cuidadoso. “Um bom arranjo com flores secas não é velho ou descartável, muito pelo contrário. A flor tem de ser colhida e estar num excelente estado para passar pelo processo de secagem”, ensina Virgínia.

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'Acho que há bastante poesia nos arranjos secos', opina a florista Marília Fialka Foto: Sofia Hage

Algumas espécies secarão em sete dias, outras em um mês – vai depender da região e da época do ano. “Na primavera, as flores vão secar mais rápido, diferente de uma época mais úmida e mais fria, quando seca mais devagar”, explica a proprietária da loja Verdifique Plantas. Nesse período de secagem, é indicado que elas não recebam luz direta do sol para não se tornarem marrons e quebradiças. “Se colocada em um ambiente apropriado, a planta pode durar três anos ou até mais. Mas ela vai sim mudar de coloração, porque está em processo de decomposição e vai perder tonalidade, mas é bem lento”, diz.

Uma opção é tingir as espécies com tinta spray (a mesma usada para grafite) ou anilina. O processo é usado também para aumentar as possibilidades de cores. No entanto, há quem prefira as cores naturais das flores.

“Eu acho legal entender a cor de cada espécie. Os pontos de amarelo, de rosa, eu sempre busco na flor seca mesmo”, conta ela, que também gosta de trabalhar com arranjos mistos, com diferentes estágios de decomposição, sendo algumas frescas e outras bem secas. “Para mim, o legal é que é um processo de muita observação.”

Se por um lado é bom o mercado de plantas secas estar crescendo, por outro a demanda – e o preço – aumentou. “Quando eu comecei, era bem mais barato. Eu faço minhas compras no Mercadão das Flores e lá só tinham dois boxes de flores secas antes, hoje tem milhares”, diz Suelen. 

Opções no mercado são tantas que, em alguns casos, vale a pena comprar ao invés de secar em casa Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Secagem. Se tiver tempo e disponibilidade, em vez de jogar fora as últimas flores que comprou, retire-as do vaso e comece o processo de desidratação. “Se você colheu a flor, eu recomendo deixá-la um tempo na água para que ela não tenha uma ruptura muito grande. Uns sete dias, trocando a água com frequência. Agora, se você comprou a flor do distribuidor, você pode já chegar no seu ateliê e pendurar”, explica Virgínia. 

Uma das técnicas mais comuns de secagem consiste em deixar as espécies de ponta-cabeça, de forma que a gravidade ajude a secá-las e mantê-las eretas. Assim, faça uma limpeza nos caules, retirando as folhas que estão mais embaixo e também aquelas que estão machucadas. Em seguida, junte algumas e enrole-as com um pedaço de barbante, formando um minibuquê. Pendure-as de cabeça para baixo em uma espécie de varal ou cavalete e deixe-as por, no mínimo, duas semanas. Evite quartos úmidos ou sol direto nas flores, mas valorize a boa circulação de ar. É importante lembrar que a planta é um ser vivo e naturalmente acumula bactérias, então a observação deve ser constante.

Processo de secagem feito por Marília Fialka Foto: Sofia Hage

Depois de prontas, solte gentilmente os ramos e personalize. “Há dois tipos de arranjos. Aqueles que ficam posicionados em uma parede e aqueles para centros de mesa, que em qualquer lado que você olhar ele tem de estar bonito. Para esses, você começa do meio para fora. Agora, no arranjo de parede, você faz do fundo para frente”, ensina Suelen. É importante também dar preferência para as mais delicadas antes das mais rígidas na hora da montagem – afinal, elas vão estar um pouco mais frágeis.

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Para quem está começando a criar arranjos, é recomendado começar com duas ou três espécies diferentes. “É bom juntar flores e folhagens de texturas diferentes. Não é regra, às vezes as pessoas querem um estilo mais padrãozinho e não tão mais despojado. Mas é bom você pegar uma redonda, outra mais espichadinha para dar movimento”, ensina ela.

O vaso também influencia muito no estilo do seu arranjo. Se ele for de barro ou cerâmica, pode ser que contribua para um estilo mais rústico; enquanto um de vidro ou totalmente branco ajude a criar uma atmosfera mais romântica. “Em um vaso alto, você só vai encaixando as folhagens e flores. Já em um baixo é legal fincar numa espuma floral. Então você a espalha no vaso e vai fixando os caules da flor. Ele não quebra justamente por ter a haste resistente quando pendurada de cabeça para baixo”, conta Suelen.

Eucaliptos, sempre-vivas, cravos, estatices, gypsophilas, palmeiras, proteas e capim-dos-pampas são algumas das espécies mais indicadas para o processo. Em sua loja, Marília até incentiva o cliente a aprender sobre o processo de secagem com o arranjo aromático. “Vai lavanda, alecrim e eucalipto. Ele vai fresco, com uma cartinha explicando que a pessoa deve secar, então, pendurá-lo no lavabo ou quarto e o aroma permanecerá”, conta. 

Arranjo montado por Suelen Grana, com caules cruzados. Confira o passo a passo abaixo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Depois de pronto, o cuidado com o arranjo é quase mínimo. Porém, para que sua mesa ou estante não encha de pó e folhagem, é indicado utilizar spray de cabelo, ou laquê, sem cheiro. “Passe o spray com uma sacudida na haste, mas não a toque, senão sairá bastante na mão”, brinca Suelen. Para quem faz questão do aroma das flores, é possível espirrar home spray ou óleos essenciais na própria planta e deixar o ambiente cheiroso.

Prensagem. Para quem não se importa em manter o formato original das plantas, é possível optar por secá-las em 2D, transformando-as em bidimensionais. O processo é feito em uma prensa de madeira, que podem ser encontradas em lojas ou feitas sob encomenda na marcenaria com tamanho mínimo de 19 x 19 cm. É preciso também quatro parafusos, quatro porcas borboletas e quatro arruelas para apertar bem as flores. E papéis mata-borrão ou especiais para aquarela.

Técnica de prensagem feita com agapanthus pela paisagista Virgínia Fraiz Foto: Verdifique Plantas

“É um processo muito cuidadoso. De dois em dois dias eu abria a prensa e trocava todos os papéis para tirar os molhados e não deixar mofar, e então colocava papéis novos. Depois, o processo começa a diminuir. Aí é só montar os quadros e passar um verniz para proteger contra bichinhos e preservar a coloração das plantas”, diz Virgínia, que parou de produzir a arte por falta de tempo.

Como fazer um arranjo com flores secas

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  1. Separe alguns ramos de pelo menos três espécies da sua preferência. Para melhor resultado, opte por diferentes texturas
  2. Vá juntando uma a uma, cruzando seus caules na mão. Se uma foi para o lado direito, a próxima será para o lado esquerdo e assim por diante. Isso dará volume ao seu arranjo
  3. Corte dois dedos dos caules das espécies para evitar acúmulo de bactérias e garantir maior vida ao arranjo e coloque no vaso de sua preferência

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