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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Vida aberta

É só dar uma passada de olho nas redes sociais para perceber. Em algum momento, sem querer, alguém vai publicar algo que será íntimo demais. E não estamos falando de ideias, artigos etc. Essa é a grande parte interessante das redes. Estamos falando de momentos muito pessoais mesmo. Uma amiga que trabalhava em um restaurante me contou, dia desses, que muitos pedidos de casamento aconteciam lá. O noivo, fofo, tirava o anel, fazia a surpresa e tal, mas que o momento de emoção - entre os dois e somente os dois - durava muito pouco, porque, logo, ambos já estavam fotogrando e postando. E a mágica acabava ali.

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Por Marilia Neustein
Atualização:

Acho normalíssimo querer dividir momentos felizes. A vida é muito dura e insossa, então, quando acontece algo emocionante, é legal mostrar. Postar. Mas onde fica o espaço da intimidade? Será que o comportamento das pessoas na internet será visto, daqui a alguns anos, como cinto de segurança e protetor solar? Sabe? Dessas coisas que nossos pais falam: "Nem existia cinto de segurança na época" ou "protetor era uma coisa de E.T ou de gente muito rica". Se a moda - hoje sabidamente errada - era passar Coca-Cola no corpo e torrar no sol, será que olharemos para trás e diremos: "Privacidade? Não existia essa coisa na minha geração". Afinal de contas, é tudo tão exposto. Seu amor, seu casamento, a expressão louca do seu amor, o fim do seu amor, seu novo amor. "Meu mundo", "minha deusa", "minha razão de viver". Daí acaba. Silêncio nas redes. Daí começa de novo. "Minha nova razão de viver"; "my love". Na praia, na cabana, no centro de São Paulo, comendo comida chinesa, fazendo ginástica.

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Intimidade é um conceito vintage, sem dúvida. Sabemos quem está louca para casar, quem dá mensagens cifradas de que está grávida, todos os detalhes do parto, o que comeu cada recém-nascido. Lembrando: isso é compartilhado com pessoas com as quais, em situação normal (não-virtual), você muito provavelmente não dividiria. Ou você encontraria a menina com quem ia para o acampamento na pré-adolescencia e diria: "Nossa, fulana-que-eu-não-vejo-há-20-anos, estou tãããããão apaixonada! Eu amo muito meu marido e ele também me ama loucamente. Olha como nós dois nos amamos tanto, olha como nós somos felizes, olha a gente comendo no restaurante mais caro do Brasil". Nunca se viu tanto amor por aí. E nunca esse amor foi tão passageiro e cheio de hashtags. O quanto disso será realmente genuíno? Será que essa superexposição também não desgasta os relacionamentos? Afinal de contas, se ontem você exibiu para os seus 9.748.365.782 seguidores que ama muito e é muito amada, de alguma forma há uma pressão para segurar isso tudo. Ou não?

Proponho o debate. O bom é que podemos pensar sobre tudo isso, não é? Podemos postar, seguir e refletir ao mesmo tempo. Também sabemos que o protetor solar e o cinto de segurança são muito mais do que necessários. Sempre foram, só não sabíamos disso. Privacidade também não será? Fica o vídeo para alimentar a reflexão.

//www.youtube.com/embed/QxVZYiJKl1Y

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