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Opinião|Mais livros gigantes sobre gigantes

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Atualização:

Habemus Rabelais! Agora, para todos os gostos.

(Reprodução do livro Grande Gargantua)  

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Há pouco mais de um ano escrevi nesta coluna uma crônica intitulada Um livro gigante sobre gigantes. Nela, eu saudava o lançamento de Pantagruel e Gargântua (Obras completas de Rabelais 1), com tradução de Guilherme Gontijo Flores. E, além do mais, considerava a obra como o livro do ano de 2021.

Para os que ainda não conhecem, Rabelais veio de uma burguesia rural e chegou até o alto escalão da nobreza francesa: teve primeiro uma formação em direito, foi em seguida monge franciscano, depois beneditino, curtiu uma apostasia, teve três filhos, chegou a ser médico e secretário da família Du Bellay, atuou em embaixadas diplomáticas e foi talvez inclusive espião internacional em serviço da coroa francesa. Tudo isso enquanto traduzia do grego e usava outras línguas vivas e mortas. O mestre de Chinon uniu o mais alto conhecimento do século XVI a um riso dos mais despudorados que até hoje nos espanta.

Agora, a Editora 34 acaba de colocar nas prateleiras Terceiro, Quarto e Quinto Livros de Pantagruel (Obras Completas de Rabelais - 2).

Como na edição anterior, temos a tradução de Guilherme Gontijo Flores, que recriou a multiplicidade da linguagem rabelaisiana, e escreveu também as notas introdutórias que abrem cada capítulo dos três livros.

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O Terceiro e o Quarto livros, publicados, respectivamente em 1546 e 1552, foram incluídos no Index de textos proibidos pela Igreja Católica. Ou seja, se vivesse nos dias de hoje, François estaria cancelado. Ao menos, pela maioria da população brasileira.

O Quinto livro, só apareceu em 1564, 11 anos após a morte do escritor. Ali, se radicalizam ainda mais as suas ironias ao estabelecido e as experimentações linguísticas dos dois primeiros livros, com forte inspiração no Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã.

Para os fãs do humor anárquico de Rabelais, as novidades não param por aqui. Ainda em 2021, a Ateliê Editorial saiu com os quatro primeiros livros da saga pantagruélica. Para os que conhecem o esmero da casa, nem é preciso dizer que as edições, em formato 18 x 27, capa dura, e papel Chambril avena, são um luxo só.

Tradução, introdução, notas e comentários ficaram a cargo de Élide Valarini Oliver.

Élide é professora de literatura brasileira e literatura comparada na Universidade da Califórnia, Santa Barbara, e especialista na obra de Rabelais. A tradução das obras completas de Rabelais vem sendo realizada por ela há mais de 25 anos. Recentemente, Élide completou a tradução de seus almanaques e prognósticos.

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Em 2021, eu redigia o seguinte trecho em minha crônica no Estadão:

 "Visitei quase todas as livrarias de usados do centro de São Paulo, algumas no Rio de Janeiro, outras tantas em Florianópolis. Até nos alfarrabistas portugueses do Chiado fui atrás do velho médico-monge-escriba e nada. As edições que encontrava não me satisfaziam. Ou não traziam as aventuras completas do gigantes rabelaisianos, ou a tradução não contemplava o baixo calão do autor francês. Foram décadas de desilusão literária".

Para quem disse isto, há tão pouco tempo, agora é preciso declarar o oposto: habemus Rabelais! E para todos os gostos.

 

 

 

 

 

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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