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Passei três dias tentando vomitar na E3 2016

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Por Gus Lanzetta
Atualização:

Em busca da tal "náusea da realidade virtual" (um enjôo profundo e duradouro que algumas pessoas sentem com jogos de muito movimento em VR) comecei o ultimo dia da E3 2016 num apartamento próximo ao Los Angeles Convention Center subindo em uma bicicleta ergométrica equipada com botões e sensores. É a VirZOOM, uma mistura de equipamento de exercício com controle para jogos em realidade virtual. Bem mais completo que o protótipo que testei ano passado, o VZ controller (como também é chamado) agora usa a inclinação e posição da sua cabeça para fazer curvas ao invés de um guidão móvel.

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O uso de uma bicicleta para controlar carros de Formula 1 pilotados por cachorros, tanques de guerra, um cowboy e seu cavalo, entre outras coisas, pode parecer estranho, mas é bem intuitivo e serve bem para imergir o jogador na atividade virtual. Foi sendo um Pégaso no VirZOOM que tive uma das sensações mais profundas de desconexão espacial na realidade virtual: ao pousar rápido demais, meu corpo todo estava preparado para sentir um impacto que, é claro, nunca veio.

Esse frio na barriga foi o mais próximo que tinha chegado de alguma reação digestória à realidade virtual. E olha, eu tentei: jogos de terror como Sisters, Resident Evil 7 e Here They Lie me fizeram gritar bastante, mas nem o movimento direto - feito pelo direcional analógico - dos dois últimos me fez ficar tonto ou com ânsia. Fapoint, um jogo de arminha com aranhas alienígenas gigantes que também me deixava andar totalmente independente de pra onde eu olhava chegou a fazer outros presentes passarem mal, passei incólume e me diverti muito.

 

Depois da bicicleta fui ver um simulador de combate aéreo: War Thunder, o jogo com aviões da Segunda Guerra Mundial que já está disponível para PC e PS4 receberá uma atualização para torna-lo compatível com os visores das respectivas plataformas. Não foi dando piruetas pelos céus do Terceiro Reich que atingi o nirvana bulímico. Fiquei bem decepcionado, o produtor que me acompanhou na demonstração tinha falado, "muita gente fica meio enjoada, mas é normal, você ficaria enjoado num avião desses" e que uma jornalista havia testado o War Thunder e dito: "me faz querer vomitar, mas de um jeito bom". Como que minhas vísceras ainda estavam fingindo que nada aconteceu?

Sem querer forçar um atrito entre eu e uma tecnologia em seus dias tenros, rumei a um estande que oferecia meditação guiada em realidade virtual. O criador, Josh Farkas, disse que ele e o resto da Cubicle Monkeys (empresa que criou a experiência) não queriam fazer nada violento em VR e disso veio a ideia da meditação, atividade que Farkas pratica há dez anos. Ele disse que era uma experiência ideal para pessoas que, como eu, já pensaram em meditar muitas vezes, mas nunca começaram. Me sentei numa cadeira, botei o GearVR na cabeça, fones sobre os ouvidos e escolhi, a esmo, um cenário, uma música e um script. Imediatamente eu estava numa geleira do ártico, vendo um céu alaranjado pelo pôr do Sol e ouvindo uma senhorita britânica dizer "you deserve to be happy" entre uma orientação de respiração e outra.

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Não acho que eu realmente tenha conseguido meditar naqueles cinco minutinhos, eu ainda estava num galpão com milhares de pessoas andando, barulhos de todo tipo e ainda por cima tentando prestar atenção na experiência do app de meditação para pode conversar sobre ele com Farkas. Porém, consegui baixar meu batimento cardíaco de 91 para 68 BPM. Achei interessante e talvez até útil para começar a meditar, mas não consegui deixar de achar que uma fita cassete com a mesma trilha sonora faria o mesmo. Farkas argumentou que, mesmo que você medite de olhos fechados a maior parte do tempo, abri-los e ver um espaço diferente, mais tranquilo e pacífico, pode ajudar na meditação. Acho que ele pode ter razão.

O encerramento da minha E3 foi no Indiecade, estande que reúne vários estúdios e desenvolvedores independentes. Lá testei quarteto de jogos muito legais (talvez os mais legais) no HTC Vive, Oculus Rift e no GearVR.

Irrational Exuberance lhe coloca num asteroide no meio do espaço e lhe deixa destruir partes da rocha e encontrar cristais. Parece simples... E é, mas é também muito bonito e seu uso de escala (objetos bem próximos contrastados com a imensidão do espaço sideral) é embasbacante. Ben Vance, criador de Exuberance, me disse que o projeto final terá cerca de duas horas. Quem já tem o Vive em casa pode baixar esse prólogo que testei no Steam.

A clareza dos cristais flutuantes que vi me deixou certo de uma coisa: jogos em realidade virtual têm que começar a botar as coisas mais perto de você. Desde espaços claustrofóbicos a bichos e estruturas gigantescas perto de você, é na proximidade que você sente o poder desse meio. Até porque, no momento, a resolução dos visores é muito baixa para renderizar de maneira minimamente fiel objetos que estão pequenos no horizonte. Percebi isso claramente em War Thunder com seus aviões inimigos longínquos e em Serious Sam VR, que bota a maioria dos seus alvos a uma quadra de futevôlei de distância.

Star Trek, da Ubisoft, não me deu ânsia alguma. Eu até gostei. Não sou fã da série, mas adorei a experiência de colaborar com outras pessoas em VR. Multiplayer em realidade virtual tem tudo pra ser fascinante. EverestVR, uma recriação 3D do cume do monte mais famoso do mundo, não me fez tremer as pernas e eu tenho muita vertigem. Muita mesmo. Castlestorm e um outro jogo de zumbis que joguei no GearVR tinham framerates péssimas e nem assim eu devolvi meu almoço ao mundo. E olha que eu tinha ouvido falar que taxa de quadros baixa era receita certa para um enjoozinho.

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Terminei o dia com Floor Plan, um jogo de puzzle que se passa inteiramente em um elevador. Ficar paradinho foi um bom descanso depois de tanto me abaixar e mexer os braços pra construir máquinas em Fantastic Contraption.

Não foi dessa vez, a única vez que vomitei na E3 continua sendo depois daquele show do Bodycount em 2011.

Foi uma grande busca. Uma jornada que vale muito mais que o destino, que foi divertida na maior parte do tempo e assustadora de uma maneira boa... Mas não consegui deixar de pensar que esses visores de VR e as experiências que ando vendo neles são coisas volúveis. Paixonites de carnaval. Fico pensando se o futuro é realmente ter um desses em casa ou se não está na hora de voltarem os fliperamas, dessa vez cheios de Oculus Rifts, HTC Vives e PlayStation VRs.

Mais um GIF antes de partir: 
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