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Infotenimento sobre cultura pop e vida moderna

Um futuro assustador

Por Gus Lanzetta
Atualização:
 

Uma das primeiras coisas que vi num dos pavilhões da E3 2016 foi a acalorada aglomeração de homens em volta de dois ou três visores Gear VR. Não havia nenhum jogo sendo demonstrado, era pornografia em realidade virtual. Acabei não pensando muito nisso no momento, afinal eu já vi pornografia num Gear VR e só pareceu que alguém tava empurrando minha cara contra uma TV passando putaria. (Teve também a estranha sensação de ser mais magro, mas com peitos maiores quando eu testei um pornô que era do ponto de vista da moça envolvida). Ao fim da terça-feira, um amigo mencionou que a meia dúzia de babões aglomerados que vi eram agora a maior fila de todos os estandes.

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Esse é o efeito da realidade virtual, talvez por ser realmente mais imersivo que telas comuns, ou no mínimo pela novidade de tudo associado com a tecnologia no momento.

Já faz uns anos que os visores de realidade virtual aparecem aqui na E3, mas esse ano eles estão em todo lugar. A presença do HTC Vive e do Oculus Rift nas mãos de consumidores e a chegada próxima do PlayStation VR abrem caminho para mais desenvolvedores investirem seu tempo e recursos nessas experiências. Por isso, agora temos (pelo menos a promessa de) jogos mais completos e robustos, como Resident Evil.

Eu tenho um problema sério com jogos de terror: nenhuma parte de mim quer continuar seguindo em frente num jogo que vai me dar medo. Fico tenso, desconfortável, não tenho vontade de continuar ali. Essas sensações foram amplificadas monumentalmente jogando Resident Evil. Eu havia testado a demonstração não interativa do projeto no ano passado, quando ainda era chamada somente de The Kitchen, e tremido minhas pernocas. Mas esse ano, tendo que andar numa casa abandonada, tendo que eu usar os analógicos do controle pra tomar a decisão de me enfiar em mais e mais cantos que eu sei que vão me assustar, esse ano eu gritei. Eu gritei, eu me contorci, eu inúmeras vezes falei alto: "não! Não!"

Um comportamento que eu percebi jogando Resident Evil e Here They Lie (outro jogo de terror para PlayStation VR) é que eu ia desacelerando meu passo quando previa que ia rolar algum susto e dava muita risada imediatamente após ser chocado. Era como um estilingue emocional em que o elástico ia sendo tensionado lentamente para atirar longe o medo. A risada era muito catártica porque o meu receio era gigante, era um contraste de emoções muito grande.

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Acho que o que mais me assustava é o fato de que eu me sentia em outro ambiente mesmo. Num ambiente que eu sabia ser criado para minha "tortura" psicológica por desenvolvedores onipotentes nesse mundo virtual. Tudo é possível naquele mundo e nada pode me salvar disso. Eu ouvi as pessoas que estavam perto de mim falando e até conversava um pouco com elas, mas era como se eu estivesse numa jaula com um bicho feroz e eles estivessem do lado de fora. Ninguém podia me ajudar.

Eu nunca vou jogar algo assim por diversão, sozinho na minha casa. Os dez ou quinze minutos que passei em cada jogo foram exaustivos e toda risada do mundo depois de cada homem bode que me matou ou zumbi das montanhas que me furou não foi o suficiente pra me fazer sentir que valeria a pena... Pra mim. Eu tenho certeza que muita gente vai amar a sensação de montanha russa emocional que essas casas mal assombradas virtuais proporcionam. São as Noites do Terror do Playcenter sem o risco de furto e com verba ilimitada de efeitos especiais.

Agora é a hora em que você se pergunta como que eu amarro isso com o primeiro parágrafo sobre sexo em realidade virtual... Deixa eu tentar aqui: todo esse morde e assopra de sensações me fazem pensar que o terror em realidade virtual pode ser um novo sadômasô solitário.

P.S.: Talvez a sensação mais visceral que eu tenha sentido foi a ojeriza que me tomou conta quando me aproximei de uma mesa cheia de baratas.

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