'Torre de Babel': explosão trouxe discussão de homofobia em 1998
André Carlos Zorzi - O Estado de S.Paulo
03/08/2020, 07:01
Casal formado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer foi vítima de desastre em shopping na novela de Silvio de Abreu, que volta em 2020, no Globoplay
Silvia Pfeifer (Rafaela) e Christiane Torloni (Leila) viveram casal lésbico em 'Torre de Babel' Foto: Globo / Divulgação
É possível assistir novamente à novela Torre de Babel, lançada pela Globo em 1998. Desta vez, a produção está disponível no Globoplay, serviço de streaming da emissora, a partir desta segunda-feira, 3.
Torre de Babel ficou marcada principalmente pela explosão de um shopping durante a trama, que acabou dando um 'fim' a personagens rejeitados pelo público - como o casal lésbico interpretado pelas atrizes Christiane Torloni e Silvia Pfeifer.
O protagonista, Tony Ramos, era um vilão que começava a história assassinando a esposa. A novela também marcou a carreira de Cacá Carvalho, com o personagem Jamanta, e teve um de seus atores, Danton Mello, o 'Chicletinho', causando comoção nacional ao se envolver em um acidente de helicóptero em Roraima.
Christiane Torloni, Silvia Pfeifer, Tony Ramos, Adriana Esteves e o shopping de 'Torre de Babel' Foto: Rosane Bekierman / Estadão | Jorge Baumann / Globo / Divulgação | André Durão / Estadão
Relembre alguns momentos da novela Torre de Babel, do autor Silvio de Abreu, abaixo.
A história de Torre de Babel
A trama abordava temáticas como assassinato e o vício em drogas, incluindo algumas cenas pesadas, como uma em que o personagem de Tony Ramos assassina a esposa.
Logo no início da novela, o marceneiro José Clementino flagra sua mulher (Patrícia Gordo) lhe traindo com dois homens durante a inauguração do Tropical Tower Shopping. Ele mata ela e um dos homens com golpes de pá, e o empresário César Toledo (Tarcísio Meira) testemunha o crime.
"[Foi] terrível [fazer a cena do assassinato]. Eu me concentrei por dois dias, fiz várias sequências e havia efeitos especiais. Tinha a preocupação de não machucar a atriz [...]. Foi de primeira, até porque não havia possibilidade de ficar repetindo"
"O personagem de Tony Ramos é produto do meio, era hostil, não mau, mas sai pior da cadeia. Já o de Marcello Antony é diferente: é mau por natureza, apesar de ter nascido em berço de ouro", explicava o autor Silvio de abreu ao Estadão em 1998.
Questionado se considerava seu personagem um vilão, Tony Ramos analisava: "Essa novela vai subverter esse conceito. Um assassino confesso é um vilão na sua essência. Só que ele é um vilão que chora, emociona-se, pede carinho ao pai e, em troca, recebe impropérios."
"Clementino é vilão, sim. Ele mata duas pessoas. Mas a emoção desse homem vai confundir e mobilizar o telespectador", definia.
Explosão do shopping
A cena mais marcante de Torre de Babel provavelmente foi a explosão do shopping Tropical Tower. O capítulo foi ao ar na mesma semana em que o Brasil foi vice-campeão da Copa do Mundo de 1998, perdendo a final diante da França.
Na sinopse original, estava previsto que a personagem de Torloni morreria e a de Silvia se envolveria com Marta, vivida por Glória Menezes.
Porém, à época, em grupos de discussões com telespectadores, a emissora constatou uma reação negativa à possibilidade de a atriz veterana interpretar uma homossexual. Além da sexualidade, a violência era outra temática que incomodava o público.
"Nunca pude imaginar. Sei lá, uma coisa com essa tem explicação? Tem sim... Só pode ser esse maldito preconceito!", foram as últimas palavras da personagem de Christiane Torloni, que, apesar de fazerem parte da trama, pareciam se encaixar bem à situação. A retirada do casal LGBT na novela gerou diversas críticas na época.
Cartas de leitores do 'Estadão' falando sobre a novela 'Torre de Babel' em 1998 Foto: Acervo / Estadão
Ernani Moraes, Cacá Carvalho e Oscar Magrini durante gravações de 'Torre de Babel', em 1998 Foto: André Durão / Estadão
A frase mais lembrada de Torre de Babel com certeza é o bordão do personagem de Cacá Carvalho, Jamanta, que trabalhava em um ferro-velho junto a Boneca (Ernani Moraes) e Gustinho (Oscar Magrini).
À época com carreira no teatro, mas um "analfabeto na TV", segundo suas próprias palavras, Cacá aprovava a recepção do público: "Tenho a sensação de que ganhei um monte de amigos". O ator curtia inclusive as frequentes piadas do Casseta e Planeta com seu personagem: "É uma homenagem que me prestam. Não perco um programa"
"Jamanta não tem um comportamento normal, mas não é um débil mental", dizia Cacá, sobre o personagem se irritava com os destratos de Sandrinha (Adriana Esteves) e paquerava a empregada Luzineide (Eliane Costa).
O personagem de Oscar Magrini chegou a se lançar cantor sertanejo bancado pela recém-enriquecida Bina (Claudia Jimenez), personagem que costumava evocar "santa Izildinha". "Fiz aulas de violão e canto, mas estou muito longe de ser um Zezé Di Camargo e Luciano", brincava.
O personagem Jamanta voltou anos depois, na novela Belíssima, também de Silvio de Abreu, em 2005. Desta vez, em vez do trio, seu personagem contracenava com o mecânico Pascoal, vivido por Reynaldo Gianecchini.
Acidente de helicóptero com Danton Mello
Danton Mello e Karina Barum em gravação de 'Torre de Babel' Foto: Globo / Divulgação
Um acidente de helicóptero envolvendo Danton Mello, que dava vida ao personagem Adriano, o 'Chicletinho', par romântico de Shirley 'Manca' (Karina Barum).
Seu irmão, Selton Mello, chegou a deixar um set de filmagens em Minas Gerais para se juntar aos familiares após Danton ter desaparecido por cerca de sete horas, e depois retornado com a saúde debilitada, em 15 de setembro.
A equipe do Globo Ecologia, então apresentado por Danton, viajava pelo Estado de Roraima, onde gravavam, desde o dia 5 de setembro de 1998, reportagens sobre o Monte Caboré e o Monte Roraima.
No helicóptero que caiu, estavam Luiz Fernando Parracho (repórter), Danton, Cláudio Savaget (diretor), Sérgio Vertis (cinegrafista), Almir Bezerra (piloto) e Ricardo Cardoso, operador de áudio que morreu no acidente.
Ao Estadão, logo após o acidente, Parracho contou que o grupo "sentia muita dor" e o "pânico era total", diante de uma forte tempestade e sobre um frio de quase zero grau. O piloto ainda conseguiu desmontar a carrenagem do helicóptero, que serviu como abrigo ao grupo.
As cenas envolvendo o personagem Adriano, que havia surgido no decorrer da trama, precisaram ser reescritas. Em seu retorno, Danton Mello fez as cenas em uma cadeira de rodas.
Anos depois, Danton Mello relembrou o acidente: Eu estava na janela do lado direito e me lembro de sentir, olhar o chão se aproximando e a pancada. Ficamos lá quase 30 horas esperando o resgate".
Em 2018, 20 anos após a novela, Danton Mello e Karina Barum se reencontraram durante uma edição do Vídeo Show. Clique aqui para relembrar o momento.
Desentendimento nos bastidores de Torre de Babel
O clima durante as gravações da novela não foram sempre em tom harmonioso, conforme a coluna Persona, publicada pelo Estadão em 12 de novembro de 1998:
"Na semana passada, Claudia Raia fez um escândalo com Letícia Sabatella na sala de maquiagem da Globo por ciúmes das tórridas cenas dela com seu marido, Edson Celulari. Tanto que Denise Saraceni, a diretora, deu uma bronca em Claudia, pelo alto-falante do estúdio.
Claudia caiu em si. No dia seguinte levou um brinco de ouro para Letícia e pediu desculpas".
VEJA TAMBÉM: Torre de Babel como estão os atores 20 anos depois da estreia
'Torre de Babel': explosão trouxe discussão de homofobia em 1998
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'Torre de Babel'
Em 25 de maio de 1998, ia ao ar o primeiro capítulo da novela das oito 'Torre de Babel', que ficaria no ar até 15 de janeiro de 1999. Escrita por Silvio de Abreu, a trama ficaria marcada pela explosão do shopping Tropical Tower, que envolveu diversos núcleos da trama. Veja como estão os artistas que participaram da novela hoje em dia!
Foto: Reprodução de 'Torre de Babel' (1998) / TV Globo
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Agenor Silva e Jamanta (Juca de Oliveira e Cacá Carvalho)
Um dos nomes mais lembrados pela sua fala, após a explosão do shopping ('Jamanta não morreu'), possuía alguns tiques nervosos e só era compreendido por Shirley (Karina Barum). Era apaixonado por Sandra (Adriana Esteves), apesar de ela tratar-lhe mal. Foi criado por Agenor, que, por sua vez, era pai de Clementino (Tony Ramos), avô de Sandra (Adriana Esteves) e Shirley (Karina Barum).
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Cacá Carvalho
O ator está há mais de uma década afastado do mundo televisivo, mas segue atuando em peças teatrais com alguma frequência. Sua última participação na Globo foi na minissérie 'A Pedra do Reino', em 2007. Dois anos antes, curiosamente, reviveu o próprio Jamanta em 'Belíssima', novela de Silvio de Abreu, contracenando com Paschoal (Reynaldo Gianecchini) em uma oficina mecânica. Em entrevista ao Blog do Arcanjo, em 2016, contou sentir falta: "Ninguém se afasa da TV, a TV que não te chama."
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Alexandre, Shirley e Adriano (Marcos Palmeira, Karina Barum e Danton Mello)
Shirley era apaixonada por Alexandre, que, por sua vez, gostava apenas de sua irmã, Sandra (Adriana Esteves). Em certo momento, a personagem se envolve com Adriano. Shirley também era conhecida por andar mancando, por conta de um problema que teria em sua perna, causado após uma briga com a irmã no passado.
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Karina Barum
Em 2016, Karina deu algumas entrevistas à imprensa graças ao 'retorno' da personagem, desta vez, interpretada por Sabrina Petraglia em 'Haja Coração'. No novo milênio, a atriz havia conseguido poucos papéis na TV, apenas com participações em programas como 'Carga Pesada' e 'Linha Direta', além do 'Tribunal na TV', da Band, em 2011. Seguindo no mundo do teatro, Karina se mudou para Florianópolis e passou a dar aulas.
Foto: Reprodução de 'Vídeo Show' (2016) / TV Globo
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Silvia Pfeifer
Com a quantidade de papéis reduzindo ao longo dos anos, o trabalho mais recente da atriz na emissora foi em 2014, em 'Alto Astral'. Recentemente, em 2017, passou pela TV portuguesa, atuando na novela 'Ouro Verde'. Em 2018, pôde ser vista novamente nas telinhas, porém, desta vez, sem personagem, no reality show 'Que Marravilha! Aula de Cozinha', do GNT.
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Isadora Ribeiro
Sua última novela na Globo foi em 'Celebridade', no ano de 2003. Posteriormente, passou pela TV fechada, SBT e Record TV. Está afastada das telas há alguns anos, mas seguiu fazendo outros papéis em teatro.
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Marta Toledo (Gloria Menezes)
A personagem era casada com César (Tarcísio Meira, seu marido na vida real), com quem tinha os filhos Alexandre (Marcos Palmeira), Henrique (Edson Celulari) e Guilherme (Marcello Antony). Tem uma mudança radical em seu comportamento ao longo da trama, e chega até a se envolver com outro homem, Bruno (Stênio Garcia).
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Gloria Menezes
Sua aparição mais recente na TV se deu em 2018, uma participação especial em esquete do humorístico 'Tá no Ar: A TV na TV', em que participa de uma operação policial. Sua última novela, porém, foi 'Totalmente Demais', em 2015. Em fevereiro de 2018, precisou ficar internada por alguns dias, mas felizmente recebeu alta.
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Henrique (Edson Celulari)
Era casado com Vilma (Isadora Ribeiro), com quem tinha dois filhos: Júnior (Caio Graco) e Tiffany (Stephani Neves). Administrava o shopping de seu pai, César (Tarcísio Meira), e tinha um temperamento bastante diferente dele, sendo vaidoso.
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Marcello Antony
Envolvido com drogas, seu vício gerava frustração entre sua família: os pais César (Tarcísio Meira) e Marta (Glória Menezes) e os irmãos Henrique (Edson Celulari) e Alexandre (Marcos Palmeira).
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Cláudio (Carvalhinho)
Na trama, dava vida ao mordomo da família Falcão. Rodolfo da Rocha Carvalho, seu verdadeiro nome, morreu em março de 2007, após o alimento que estava comendo ter entrado em suas vias respiratórias, aos 79 anos de idade. Sua última novela foi 'Da Cor do Pecado', em 2004, quando deu vida ao personagem Silveirinha.
Foto: Globo / Divulgação
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