'Globo Repórter' exibirá 'Em Pauta' com jornalistas negros

Programa irá ao ar na Globo na sexta-feira, 5, com 'participação especial' de Gloria Maria

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Por Redação
Atualização:
Maju Coutinho, Aline Midlej, Flavia Oliveira, Lilia Ribeiro, Zileide Silva e Heraldo Pereira na edição do 'Em Pauta', do canal pago Globo News, em 3 de junho de 2020 Foto: Reprodução de 'Em Pauta' (2020) / Globo News

A Globo anunciou que reexibirá o programa Em Pauta, da Globo News, que contou com os jornalistas negros Heraldo Pereira, Maju Coutinho, Aline Midlej, Zileide Silva, Flavia Oliveira e Lilia Ribeiro no Globo Repórter da próxima sexta-feira, 5. Segundo comunicado divulgado pela emissora nesta quinta-feira, 4, a ideia é "ampliar o alcance do debate sobre racismo exibido ontem na Globo News".

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O programa discutiu as manifestações decorrentes do assassinato de George Floyd por um policial e a questão racial brasileira. "O debate será exibido na íntegra, apenas sem as reportagens ao vivo dos repórteres nas ruas dos Estados Unidos", informa a nota. Haverá uma introdução ao tema por Sandra Annenberg e a participação especial de Gloria Maria. O Globo Repórter sobre a "vida selvagem nas capitais urbanas", previso para ir ao ar na sexta-feira, 5, foi adiado.

VEJA TAMBÉM: Artistas e jornalistas que chegaram ou saíram da Globo em 2020

Edição história do 'Em Pauta'

A edição do Em Pauta da quarta-feira, 3, foi considerada histórica pelo público ao colocar no ar somente jornalistas negros para discutir a onda de protestos contra a discriminação racial pelo mundo após a morte de George Floyd pelo policial Derek Chauvin, nos Estados Unidos

A ideia veio após críticas que a emissora recebeu ao escalar somente jornalistas e formadores de opinião brancos em algumas ocasiões para discutir o tema na terça-feira, 2.

O apresentador Marcelo Cosme introduziu o tema: "Os jornalistas que dividiram comigo a cobertura ontem, experientes e de alto nível profissional, eram todos brancos. Eu estarei mentindo se dissesse que foi um acidente. A Globo tem a diversidade como um valor e se orgulha dos profissionais negros que tem em frente às câmeras e por trás delas."

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"Por razões históricas e estruturais de nossa sociedade, também na Globo os colegas negros não são tantos quanto o desejado. Essa foto do Em Pauta de ontem acabou viralizando com a seguinte frase: 'rapaziada... a pauta é racismo'. Pois bem, nós entendemos o recado", prosseguiu, citando a frase que foi usada no programa indicando uma autocrítica da emissora.

Ao apresentar seus colegas que fariam o debate do Em Pauta, Cosme ressaltou que eles iriam "discutir um tema [racismo] que conhecem muito bem, porque o enfrentam em suas vidas".

Durante a exibição, Heraldo Pereira se emocionou ao lembrar de sua trajetória. Vindo de família simples de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ele contou que começou a trabalhar aos oito anos de idade, depois arranjou emprego como office boy e guarda, antes de se tornar um dos grandes jornalistas consagrados do País. 

"O trabalho me levou para a profissão de jornalista, radialista, e com o trabalho eu cheguei aqui na Globo, cheguei no jornal das dez, tive essa possibilidade", afirmou.

"Fico pensando a cada momento que apresento os telejornais nos meninos e meninas negros e negras, que são tantos por esse imenso Brasil, à espera de uma oportunidade que será dada. Vamos construir uma nação", completou. Heraldo foi o primeiro jornalista negro a apresentar o Jornal Nacional, em novembro de 2002.

Aline, de 37 anos, recorda que, no começo de sua carreira jornalística como produtora, aos 22, ouviu do chefe que precisa mudar o cabelo crespo para ser "assimilado pela audiência". "A vida dá voltas. Depois de uns anos eu fui chamada para voltar para essa emissora e não voltei", lembra.

Zileide também lembrou de um episódio de racismo na profissão. Ela contou que foi à Fiesp entrevistar o presidente da entidade, com um cinegrafista branco. Chegando lá, foi ignorada pela secretária.

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“Entramos e a secretária não se dirigiu a mim. Ela só conversou com o cinegrafista Ricardo. De repente a porta abriu, saiu o presidente da Fiesp, me deu um abraço e falou ‘Zileide, que ótimo você aqui’. Olhei para a cara dela, e ela completamente constrangida”, relembrou, sem citar nomes ou datas.

“O que eu fiz? Eu levantei o nariz, porque não dá para aceitar esse tipo de situação em nenhum momento. Falo isso porque quero que colegas negras e negros como eu saibam que não dá jamais para abaixar a cabeça, em nenhum momento, em nenhuma hipótese. Nunca esqueci esse momento”, completou.

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