'Chelsea', na Netflix, parece com os talk shows que diz não ser

Enquanto o Chelsea Lately, no canal por assinatura E!, era carregado de sexo e focado em celebridades, o novo programa seria sobre explorar o mundo e aprender

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Por James Poniewozik
Atualização:
O novo talk show de Chelsea Handler,Chelsea, estreou no Netflix na última quarta-feira, 11 Foto: Patrick Wymore/ Netflix

Na estreia de sua nova série na Netflix, Chelsea Handler diz que quer conduzir o programa "como a educação universitária" que ela nunca teve. Se for assim, seu primeiro compromisso é definir Chelsea. Até aqui, sua graduação está, no mínimo, incompleta. 

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Chelsea foi promovido como algo diferente do típico talk show de fim de noite. Entra online às 0h01, hora do Pacífico, de quarta a sexta-feira, mas dado o hábito da audiência streaming, deverá ser visto segundo a programação do espectador. Na verdade, Chelsea segue o espírito otimista do bebedor diurno: é sempre noite em algum lugar. 

Mas, protestos e tecnologia à parte, o programa sem dúvida se parece com um talk show: tem bancada, entrevistas de celebridades e um cenário com iluminação sutil que lembra um bar de hotel. Após uma promissora abertura direta - Chris Martin, do Coldplay, entra cantando Everglow em tom de lamento como se fosse o último episódio da apresentadora - Chelsea Handler, de camiseta Pat Benatar, leu então um monólogo que, insistiu, não era um monólogo, mas "uma explicação". A explicação foi que o programa será uma experiência educacional. 

Enquanto o Chelsea Lately, no canal por assinatura E!, era carregado de sexo e focado em celebridades, o novo Chelsea seria sobre explorar o mundo e aprender. 

Chelsea Handler já havia dado uma pista do formato na série de quatro episódios Chelsea Does, também na Netflix, que combinava documentário com discussão: cada episódio era sobre um tema, como raça ou tecnologia, e, às vezes, ainda mais: Chelsea Handler aprendendo sobre o tema.   Em Chelsea, ela é aluna e professora. O primeiro convidado, o ministro da Educação, John B. King, submeteu Chelsea Handler a um teste de conhecimentos gerais (o programa, assinale-se a seu favor, não suprimiu uma pergunta sobre geografia em que a apresentadora, solicitada a dizer o nome dos sete continentes, esqueceu-se da África).

Depois foi a vez de Pitbull e Drew Barrymore. Um talk show típico inverteria a ordem dos convidados; não inverter foi uma mudança. Mas as perguntas na maioria ficaram na zona de conforto do "fale-me de sua vida". Drew Barrymore levou vinho rosé e falou sobre dicionários e sobre seu divórcio. 

Chelsea Handler, no centro, em seu programa com Drew Barrymore e Pitbull Foto: Patrick Wymore/ Netflix

Não que haja alguma coisa errada em conversar, mesmo que Chelsea pretenda ser algo diferente. Ela parecia mais à vontade conversando com os convidados - e interrompendo-os com frequência - que lendo a declaração sobre o objetivo do programa. Reforçando o clima de descontração, o cachorro de Chelsea Handler, Chunk, passeava pelo cenário.

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Ela reassegurou aos fãs que a velha libertina-sem-culpa Chelsea Handler não desaparecera. "Evitei a gravidez", afirmou, "na maioria das vezes".

Estranhamente, a estreia apenas esboçou o que poderá ser o maior diferencial do programa: uma série de gravações que Chelsea Handler fez em viagens a países como Rússia e México. Em vez disso, foram apresentados dois desengonçados vídeos cômicos sobre a Netflix. 

O formato de talk show já foi tão detonado quanto o Papaléguas do cartoon e, como ele sempre dá um jeito de voltar intacto. Talvez episódios futuros de Chelsea possam realmente modificá-lo, graças ao formato streaming.

Criar episódios para serem vistos com hora marcada (o modo pelo qual cada vez mais vemos talk-shows) significa fazer um programa menos imediatista: além da obrigatória piada sobre Donald Trump, havia poucos eventos atuais no roteiro. E, embora o primeiro capítulo não tenha me entusiasmado muito, será fácil voltar ao programa se ele encontrar o passo. 

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Mas, será que Chelsea Handler quer ser mais que uma mera apresentadora de talk-show? Ela sabe o que faz, acima de tudo. O interessante projeto do Chelsea, e seu desafio oculto, é a tensão entre arriscar-se a crescer e caprichar no que sabe fazer melhor. Sobre isso, Chelsea Handler pareceu ter sentimentos mistos dentro do mesmo episódio de 37 minutos. "Para mim, está tudo bem em parecer estúpida", disse ela na abertura do programa. Já para Drew Barrymore ela disse que tinha medo de alguém chamá-la de estúpida.  No fim do programa, Chelsea Handler estava de pé na mesa do set, cantando rap em frente de Pitbull. Foi penoso. Mas valeu, no espírito de provocação de um, sim, talk-show. 

Uma coisa Chelsea Handler ainda precisa aprender em seu projeto de educação continuada: às vezes, o que você parece ser é o que realmente você é. 

TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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