Com jovens cada vez mais desconectados da TV e habituados à oferta de vídeos sob demanda, manter ativo um canal que nasceu para agradar a este tipo de público é navegar contra a corrente. Os sócios Antônio Ricardo e Ricardo Bocão, criadores do canal a cabo Woohoo, estão sempre atentos a estas mudanças comportamentais do telespectador. É graças a esta atenção que hoje o canal completa 10 anos de atividade.
"Brigamos com a internet, mesmo sabendo que quase sempre vamos perder", avalia Bocão, que, junto com o seu sócio, encontrou uma maneira de reduzir a frequência destas derrotas: a transmissão ao vivo, recurso habitual da TV aberta, mas pouco explorado entre os canais a cabo. "Há dois anos nós miramos na internet, não em outros canais da concorrência. O ao vivo é uma das soluções que encontramos. O cara vai ver algo no Woohoo e pensar: 'poxa, não vi isso no Facebook e nem no Instagram'. Assim conseguiremos fidelizar ainda mais a nossa audiência", completa. "Tudo fica mais rápido, gera incremento no jornalismo. O que é uma boa maneira de estar bem mais perto e oferecer um serviço de qualidade para os jovens. Operacionalmente falando, também tivemos alguns benefícios. E, no final, podem gerar novos formatos artísticos", complementa Antônio Ricardo.
A programação do Woohoo engloba atrações voltadas aos esportes de aventura (surfe, skate, snowboard, etc.), música, moda, gastronomia e comportamento, e tem como foco os 'jovens' de até 45 anos. Os donos do canal já não pertencem, há alguns anos, ao target de seu alvo, mas sabem qual é o tipo de onda que seu público gosta de surfar.
"Há uns 20 anos, os jovem adultos têm mostrado mais vontade em melhorar a qualidade de vida. Quando eu tinha 18 anos, final dos anos 1960, o objetivo do meu pai e dos meus tios era dinheiro e poder. Eles batalharam a vida inteira para isso. Eu cresci e minha prioridade era conseguir dinheiro para me sustentar e ter uma vida boa e feliz. Esta necessidade pela qualidade de vida transformou os jovens adultos. Você pode ver que os homens de 40 anos hoje se vestem com os meninos de 20 anos, praticam esportes e têm uma vida menos burocrática. Portanto, enquanto estivermos tratando dos mesmos assuntos de interesse da nossa época, estamos acertando", reflete Bocão.
Outro fator que ajuda o Woohoo a falar a mesma língua de seu público é o time de apresentadores. A maioria está entre os 20 e 30 anos de idade, e são rostos que praticamente foram criados pelo canal, que não conta com nenhuma grande estrela da TV em seu casting. Talvez o nome mais famoso seja o de Sabrina Kanai, ex-MasterChef Brasil, que estreará o programa de culinária Bistronomia em julho. "Dentro da nossa proposta, isso não é uma necessidade básica", explica Antônio.
O começo de tudo. Ricardo Bocão e Antônio Ricardo são amigos de longa data. Hoje com 61 e 52 anos de idade, respectivamente, eles criaram, em 1979, a revista Realce, livremente inspirada na americana Rolling Stone (que ainda não tinha sua versão brasileira). Escreviam sobre surfe, skate, voo livre e outros esportes de aventura que dispensam motores para a prática.
O sucesso da publicação os levou para a TV Record, onde permaneceram por nove anos comandando um programa batizado com o mesmo nome da revista. De lá, saltaram para a MTV e lançaram o Ombak, primeiro programa esportivo de todas as MTVs do mundo. Três anos mais tarde, foram contratados pela SporTV e ficaram lá até criarem o próprio canal.
"Temos 23 anos de produção independente. Conseguimos abrir o nosso canal por conta de nossos conhecimentos, contatos e também por causa do nosso arquivo. Em 1983, uma 'mosquinha' disse para não apagarmos nenhuma fita do nosso material bruto. Custava caro comprar fita, mas nunca apagamos nada. Quando abrimos o canal tínhamos mais de 5 mil horas de gravações. No período em que estivemos na SporTV tínhamos quase um minicanal, precisávamos criar cinco coisas novas por semana. E quando lançamos o Woohoo não tínhamos nenhum concorrente", explica Bocão.
Nestes dez anos de atividades, a dupla passou por diversas dificuldades e conquistou a independência financeira em outubro de 2010, quando deixou de depender de investidores para acertar o caixa. As receitas com publicidade e com assinaturas permite que boa parte de seus programas sejam autorais, feitos por sua própria equipe. "Só uns 20% do que exibimos vem de produtoras parceiras. O resto somos nós que fazemos. Temos uma equipe ótima, que além de dar conta do recado, sempre traz ideias novas", conclui Ricardo Bocão.