Assistiu a 'Stranger Things'? Vamos falar a respeito

A narrativa de ficção científica de horror, macabra, também tem muita originalidade, tornando a série de oito episódios mais do que um exercício de karaokê filmado

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Por Jeremy Egner
Atualização:
 Foto: Reprodução / YouTube

Existem homenagens, mas algumas são tão fervorosas que praticamente acabam se mesclando com as obras originais. Stranger Things está nesta segunda categoria. O drama da Netflix, que estreou no início deste mês, conquistou elogios pela história aterrorizante, que se passa em 1983, sobre crianças perdidas e extraordinários eventos numa pequena cidade. O cenário e os temas se tornaram imediatamente familiares para qualquer pessoa que um dia se tornou adepto de escritores populares na década, Stephen Spielberg e Stephen King - um séquito que claramente inclui os criadores séries e irmãos gêmeos Matt e Ross Duffer.

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Com efeito, Stranger Things deixa muito nítidas as suas influências. Com sua atmosfera dos anos 1980 e os habilidosos jovens heróis em bicicletas com vínculos com visitantes de outros mundos, e enfrentam monstros e agentes do governo, a série mostra claramente suas influências, entre elas o ET, de Spielberg e "It" de Stephen King.

Felizmente a série, que acompanha um grupo de amigos marginais e famílias com problemas financeiros, mas tentando se equilibrar, também é enternecedora, o que torna seu material fonte tão amado. A narrativa de ficção científica de horror, macabra, também tem muita originalidade, tornando a série de oito episódios mais do que um exercício de karaokê filmado.

Uma rápida recapitulação: enquanto um grupo de nerds marginais joga Dungeons & Dragons em um porão na cidadezinha ficcional de Hawkins, Indiana, algo ocorre no prédio da administração pública fora da cidade. Resultado: 1 - uma menina enigmática, cabeça raspada aparece sem explicação. 2 - um monstro de dimensão extraordinária é solto em debandada pelo campo; 3 - um dos nerds, Will (Noah Schnapp) desaparece.

Este último acontecimento é que desencadeia a história, com a cidade em busca de Will e sua mãe Joyce (Winona Ryder) enlouquecida, atormentada por estranhos telefonemas e visões. Mas realmente estava enlouquecida de dor, como todo mundo, desde o seu ex até o triste, mas de bom coração, xerife Jim Hopper (David Harbour) afirmam?

Naturalmente não. O acidente no laboratório, supervisionado pelo Dr. Brenner, interpretado por Matthew Modini, abriu um portal para uma dimensão alternativa, prendendo Will numa Hawkins paralela, gótica, descrita como "Mundo invertido". E lá ele se esconde do monstro Demogorgon, saído do jogo Dungeons & Dragons, e ocasionalmente se comunica com a mãe e amigos por meio de um plano metafísico. O "cadáver" de Will descoberto no lago, revela-se falso.

Ao mesmo tempo a menina misteriosa Eleven, exibe seus poderes sobrenaturais. Ocorre que ela adquiriu suas habilidades no ventre da mãe, quando ela foi submetida a testes do governo e foi tratada como uma arma da Guerra Fria, até destruir parte do laboratório e fugir.

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"Stranger Things" cria o suspense por meio de vários componentes como o xerife, Joyce, os meninos e Eleven, os adolescentes Jonathan e Nancy - que não se cruzam nos diferentes momentos da história, e só no final se reúnem.

No final o xerife Hopper faz um acordo para recuperar Will do Mundo invertido, onde ele é usado como uma espécie de incubadora, em troca de dar a localização de Eleven para o Dr. Brenner. Mas a menina mata diversos agentes e depois desaparece, e ao mesmo tempo derrota o monstro antes de o Dr. Brenner encontrá-la.

Num final com enorme suspense, vemos sinais de que o xerife Hopper está em contato com Eleven - ou tentando localizá-la e que Will pode ainda ter os ovos de Demogorgon em seu ventre.

Os irmãos Duffer dizem ter mais histórias para contar se a Netflix permitir.

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Vocês voltarão se ela deixar? Vamos analisar.

Em primeiro lugar, deixemos de fora as referências à cultura pop. A maior influência é claramente "E.T." e alusões específicas ao filme incluem a cena de Eleven se vestindo como menina e colocando uma peruca loira, a sua obsessão por junk-food e uma divertida inversão da famosa sequência das bicicletas voando, com Eleven usando seus poderes para fazer o veículo dos perseguidores voarem no lugar.

Stranger Things também toma emprestado sequências de histórias de Stephen King como Carrie, a Estranha, e Firestarter (Chamas da Vingança), como também Alien, com uma Eleven careca representando uma Ridley júnior enfrentando uma criatura dentuça sedenta de sangue. Outra analogias com Alien incluem a incubadora humana e o ambiente pegajoso do Mundo Invertido. O próprio Demagorgon parece ser o fruto profano de Alien, O Predador e uma planta carnívora.

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Outro grande ponto de referência é John Carpenter, especialmente na trilha sonora, embora seus filmes como "The Fog" (A névoa) e "The Thing" (A coisa) tenham dado o tom no geral de Stranger Things. (O professor de ciências assistia a The Thing na noite do seu encontro e um dos meninos tinha um pôster do filme em seu quarto). Outras inspirações óbvias incluíram ainda filmes infantis de aventura como "The Goonies" e Conta comigo e há alguns vestígios também de Encontros imediatos de terceiro grau, e ainda Indiana Jones e Hora do Pesadelo (o monstro atravessando muros, adolescentes colocando armadilhas numa casa no subúrbio).

Para muitos de nós hoje adultos e que se lembram de ter consumido todo esse material quando crianças, a maior referência de todas foi a lembrança perturbadora da nossa mortalidade ao ver Winona Ryder, ex-símbolo da sarcástica Geração X interpretando uma mãe de meia idade. Ela está genial, engrandecendo cenas que poderiam ter parecido idiotas, como a sequência das luzes de Natal, com uma representação convincente de uma mãe que mal conseguia manter a calma. Este foi o seu segundo trabalho vigoroso em menos de um ano, depois do seu muito bem recebido trabalho na série Show me a Hero.

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O elenco esteve uniformemente bem e o design mesmo com algumas falhas deu à série inteira uma autenticidade natural. Millie Bobby Brown, atriz britânica que interpretou Eleven, foi particularmente excepcional.

Como fui uma criança dos anos 1980, estava diretamente na mira de Stranger Things e os seus detalhes daquele período me envolveram como uma manta de nostalgia. Que incluiu a seleção musical, desde a miscelânea de músicas comoventes apresentando Joy Division e The Clash até Corey Hart, preferido das crianças privilegiadas.

Meu personagem favorito foi o professor de ciências, que sempre aparecia quando um conceito complicado precisava ser explicado e tinha sempre uma resposta genial para a garotada. Então, é noite avançada de um sábado e vocês querem construir uma câmara de privação sensorial? Ok, seus malandros malucos. Têm lápis e papel?

Tradução de Terezinha Martino

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