'A TV brasileira ainda é muito tradicional', diz o diretor argentino Diego Pignataro

Responsável por programas como 'A Liga' e 'CQC', o produtor da Eyeworks conta um pouco sobre as diferenças entre as produções brasileiras e argentinas

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Por André Carmona
Atualização:
Diretor Diego Pignataro posa para foto entre os repórteres de 'A Liga', Mariana Weickert, Thaíde, Maria Paula e Guga Noblat Foto: Divulgação|Band

Além da rivalidade ludopédica, há muito se fala sobre as diferenças entre as produções cinematográficas de Brasil e Argentina. As comparações são inevitáveis: nós, por exemplo, nunca ganhamos um Oscar, ao contrário dos hermanos, que faturaram o prêmio mais cobiçado do cinema por duas vezes: em 1986, com A História Oficial e, em 2010, com o longa O Segredo dos Seus Olhos, estrelado pelo ator Ricardo Darín. Símbolo do "Novo Cinema Argentino", a dupla Darín e Juan José Campanella, aliás, tornou-se também sinônimo de filmes de qualidade, do roteiro à atuação, explorando novas linguagens e sempre trazendo dramas contemporâneos que fogem à mesmice e ao conservadorismo temático. Se nas telonas é assim, será que as produções televisivas seguem a mesma lógica?

Em 2014, a jornalista argentina Martina Soto Pose, ex-repórter de um dos programas mais famosos do país, o CQC (Chamado lá de Caiga Quien Caiga), deixou a atração, na qual exibia toda sua espontaneidade, para assumir a bancada do jornalístico Diario de Medianoche, da Telefe, uma espécie de Jornal da Globo rioplatense. Na teoria, a troca seria drástica: sair do CQC para apresentar um jornal deste porte envolveria o desafio de se enquadrar a um formato mais discreto e cauteloso, certo? Não no caso de Martina. Não no caso da Argentina. Contra todas as previsões, a loira manteve seu estilo: piercings na boca e no nariz, modernos cortes de cabelo e um discurso nada convencional. Elementos que não são muito comuns, por exemplo, no telejornalismo tupiniquim.

Martina Soto Pose no comando do Diario de Medianoche Foto: Divulgação

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Para o argentino Diego Pignataro, da produtora Eyeworks - ex-Cuatro Cabezas -, um dos responsáveis por importar formatos do país vizinho ao Brasil, a exemplo de A Liga e CQC, confirma que a televisão do outro lado da fronteira é, de fato, mais vanguardista. Por um motivo específico: investimento. Ou falta de.

"Na Argentina, há menos dinheiro em jogo. Então, existe um compromisso maior de faltar ao respeito em relação às estruturas estabelecidas. Daí vem a essência de desconstruir e renovar. Lá, como faltam recursos, é preciso buscar saídas em modelos mais descolados", conta o diretor. "A Globo, por exemplo, é uma potência mundial. Com tantos investimentos, é necessário acertar e não renovar."

Se, por motivos financeiros, a televisão brasileira ainda é muito tradicional, outro aspecto também chama a atenção de Diego: a permanência de figuras como Sílvio Santos, Gugu e Ratinho no comando de atrações por anos e anos a fio. 

"É incrível como essas pessoas continuam com grande espaço na mídia. Por um lado, acho maravilhoso pelo fato de terem trabalho e darem trabalho, mas por outro enxergo a necessidade de se abrir espaço para novos talentos", comenta Pignataro, que se sente orgulhoso de suas crias de sucesso no Brasil: "No SBT, tem o Gentili; na Globo, a Mônica Iozzi, o Rafael Cortez, o Felipe Andreoli, o Marco Luque. Há uma revolução em curso que, justamente, tem muito a ver com a nossa produtora. É um orgulho formar talentos assim".

E o público brasileiro que já vá se preparando: outros programas, não apenas da Argentina, mas também da Espanha, podem desembarcar em breve por aqui. De acordo com Diego Pignataro, são "miles e miles" de projetos nos quais a produtora está de olho. "Os programas surgem no momento certo do País. O CQC entrou no ar em um período propício para dar risada dos políticos - e seria bom que estivesse no ar hoje. A Liga, em uma situação de crise, de movimentação nas ruas, também se faz necessária. Assim são gerados desejos e empatia."

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