A moda está diversificando o significado da beleza. Como uma resposta à plasticidade das imagens do Instagram, em que a perfeição tornou-se tão desejada quanto banal, estilistas passaram a expor o diferente - e até o feio - como opções estéticas para a moda.
Neste contexto, John Galliano volta a ocupar seu lugar no topo da pirâmide. Após o episódio trágico de 2010, quando foi demitido da Dior e julgado publicamente por fazer infelizes comentários antisemitas no famoso Café de Flore, em Paris, o estilista retornou nesta temporada de prêt-à-porter no comando da Maison Margiela. O desfile de estreia parece ser uma metáfora do próprio comportamento do estilista: todos somos bonitos e feios e expressamos esses dois lados de maneira diferentes. Afinal, cinco anos atrás, ele deixou vir à tona um lado muito feio de sua personalidade. Modelos com as costas curvadas, maquiagem e cabelos pesados na passarela realmente destacavam esse lado de Galliano.
Na Givenchy, o estilista Riccardo Tisci criou uma estética perturbadora na beleza de suas modelos, definida por ele mesmo como “uma estética agressiva”. Com estilo vitoriano, a coleção trouxe os elementos decorativos da época, porém sem respeitar qualquer código feminino de beleza atual.
A diversidade estética hoje vai além das passarelas internacionais e torna-se, mais que uma tendência pontual, um movimento consistente. Marcas como Hood By Air e Rick Owens ganham fãs ao redor do mundo ao propor novos universos estéticos e aspiracionais. São grifes que, por meio das roupas, desafiam a percepção do belo trabalhando sem molde. Criando o novo sem compromisso com padrões de beleza pré estabelecidos.
Tal proposta fica clara na escolha das modelos, nas campanhas das marcas e, claro, nas roupas e acessórios. Novas modelagens, amplas e desproporcionais, ganham adeptos em escala, principalmente entre os consumidores cansados de ostentação e beleza plástica. Trata-se de um movimento que transcende a beleza e promove um encontro do consumidor com a autenticidade, oferecendo um caminho genuíno de consumo.
Essa nova onda está ganhando as ruas de Nova York e é celebrada na festa "prettyugly" (em português, algo como lindamente feio). A dupla Erich Conrad e Drew Elliot decidiu agitar a vida noturna de Manhattan, que há muito vem perdendo força para as noites do Brooklyn, e lançou o evento em outubro de 2014. Não demorou para a iniciativa ganhar adeptos em busca de diversão real e cansados das poses perfeitas do Instagram. O nome da festa e os flyers divertidos dizem tudo: divirta-se sendo quem você é.
Uma premissa que realmente define o espírito do movimento.