'Trabalho para que as pessoas queiram sem precisar', diz estilista

À frente da Tufi Duek, Eduardo Pombal fala sobre a necessidade de se aproximar do consumidor final, a decisão de não participar mais do SPFW e as estratégias da marca para driblar a crise

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Por Anna Rombino
Atualização:
Edu Pombal em evento com a modelo Isabeli Fontana, a musa da Tufi Duek. Foto: Divulgação

Despertar no consumidor o desejo pelas suas criações, ainda que eles não precisem delas. Eis a principal missão de Eduardo Pombal, que há sete anos comanda a direção criativa da grife Tufi Duek. Ao vestir famosas como Ivete Sangalo, Isabeli Fontana eGiovanna Ewbank, o estilista se tornou um dos mais relevantes da moda brasileira atual exatamente por traduzir tendências em vendas. Faz parte da estratégia de focar cada vez mais no consumidor final a decisão tomada pelo grupo AMC Têxtil, do qual a Tufi Duek faz parte, de que a grife não participaria mais dos desfiles da São Paulo Fashion Week. A marca lançou neste ano sua segunda coleção sem apresentação SPFW - nada que tenha comprometido o DNA da grife nem o resultado das vendas. Sobre moda e mercado, o estilista Eduardo Pombal fala na entrevista a seguir. 

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Como você enxerga o atual cenário da moda no Brasil?  O País está uma confusão, passando por um momento de crise. Pensamos na forma de trabalhar e trazer os consumidores para perto, mas tem que ter uma força-tarefa para isso acontecer, porque vai chegar uma hora que as pessoas irão cansar de seguir tendências e irão se interessar por moda. As marcas estão tentando aproximar as semanas de moda do consumidor. Acho bom que isso aconteça rápido, antes que seja tarde e eles comprem só o necessário. Não vivamos disso, precisamos inspirar pessoas, criar o desejo. Eu quero que o consumidor olhe para uma criação minha e pense "Preciso disso para mim, não sei quando vou usar, mas preciso disso". 

É por isso então que a Tufi Duek não participa mais do SPFW?  No ano passado começamos a discutir essa movimentação. Sentimos uma necessidade dos franqueados e da rede de lojas da reaproximação com o cliente. Fomos para as cidades que temos filiais, fizemos desfiles menores, tudo em caráter experimental. Ainda é cedo para saber se deu certo. A semana de moda ainda é extremamente importante e não acho que seja a maneira errada de comunicar, mas temos que casar os desejos e as necessidades de todos. Estamos com uma equipe nova de marketing e uma de comunicação, que estão reavaliando o que eramos antes de sair da SPFW e como ficamos no ano passado para chegar a uma conclusão, misturar tudo e saber qual será o nosso próximo passo. 

Vocês sentiram muito os efeitos da crise?  As pessoas não compram mais por impulso. Temos que mostrar as coisas na hora certa para dar aquele desejo. O consumidor tem que receber um atendimento bacana para você mostrar a qualidade da roupa, que tem uma costura bem feita, um produto bem cortado, bem modelado, que teve todo um trabalho envolvido nisso. No fast fashion, você compra uma roupa que dura duas usadas depois já é descartada. Nós criamos uma peça que você já usou dez vezes e ainda é uma coisa legal, que você quer guardar por toda vida. 

Como é para você ser estilista de uma marca que pertence a um grupo que exige resultados e números? Há muita cobrança? Sou um péssimo administrador. Posso até montar uma marca que a imprensa vai achar legal, mas quanto tempo eu vou durar? O grupo dá um respaldo para a gente. Ele me dá o suporte comercial para que eu possa fazer meu trabalho bem feito. 

Como é o seu processo criativo?  A viagem para mim é um momento importante, porque desligo a chavinha da rotina de trabalho. Qualquer coisa pode ser uma inspiração. Para a coleção de outono/inverno 2016, estava em um mercado de pulgas em Paris e encontrei dois artistas que pegavam fotos antigas de filetes de nanquim e colocaram a cara de personagens de desenhos animados. 

Isabeli Fontana no making-of da campanha de outono/inverno 2016 da Tufi Duek Foto: Divulgação

Qual foi a inspiração para a coleção outono/inverno 2016? O ponto de partida foi o principado de Mônaco, que tem uma história de princesas e integrantes da família real, de Grace Kelly a Charlotte Casiraghi. É um país que quase não tem inverno, por conta disso o lifestyle acaba ficando parecido com o brasileiro. As pessoas usam cor e não estão sempre cobertas. Ao falarmos de inverno, sempre buscamos por casacos e coberturas, mas no Brasil vestimos cada vez menos casacos e mais decotes e saias. 

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A princesa da Tufi Duek não é clássica e tradicional, certo?  Acho que o gostoso de quando a gente estabelece um tema é trabalhá-lo de uma forma não óbvia. Na coleção, tem um vestido com um corte princesa, acinturado, com uma manga que remete à essa coisa doce, mas olhando a coleção inteira, não tem essa leitura, essa obviedade. Quando você vê a campanha, percebe uma mulher mais forte, que exala personalidade. Imaginamos uma princesa contemporânea, não uma formal, toda durinha, que tem protocolos a seguir, queríamos uma pessoa que saísse das regras. 

Qual a melhor maneira de lidar com o mercado da moda hoje?  Na moda, o legal é não se levar a sério. Você liga um rádio, vai ver uma televisão, é tanta coisa para baixo, sempre falando de crise. É tanta coisa não positiva que é muito fácil transportar isso para a roupa. A maneira de ficar mais leve é botar uma cor, uma estampa, então não faço coisas sisuda, fechada, depressiva. 

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