Tecidos tecnológicos repelem insetos e combatem a celulite

Fibras inteligentes prometem ainda secagem rápida e prevenção de odores. Já há estudos para disponibilizar no mercado roupas com sensores eletrônicos

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Por Marília Marasciulo
Atualização:

Roupas que não molham e repelem insetos, calças que combatem a celulite e camisas que previnem odores. Tudo isso existe e está disponível no mercado a preços razoavelmente acessíveis. Com o avanço da tecnologia têxtil, estuda-se, inclusive, incorporar eletrônicos a tecidos, criando, por exemplo, camisetas que medem os batimentos cardíacos. Mas vamos com calma. Para entender o futuro do setor de vestuário, é preciso conhecer o passado.

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A revolução começou lá na década de 1940, quando surgiram as fibras sintéticas. Até então as que existiam eram as naturais e as artificiais.As naturais, como o algodão, o linho e a lã, são encontradas quase prontas na natureza e têm origem vegetal ou animal. As artificiais, a exemplo da viscose e do bambu, também vêm da natureza, mas precisam ser processadas. Já as sintéticas são derivadas de petróleo - as mais comuns são o poliéster e a poliamida (o famoso náilon).

 

Embora mais resistentes, as fibras sintéticas daquele tempo não tinham leveza e flexibilidade e não absorviam bem a umidade do corpo. Até o aparecimentos das microfibras, nos anos 1970. “Com espessura menor que a de um fio de cabelo, elas representam uma espécie de 'naturalização' das fibras sintéticas”, explica o engenheiro têxtil André Peixoto, coordenador de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do SENAI CETIQT. A partir daí, tornou-se mais fácil acrescentar características específicas aos tecidos. “É como uma massa de bolo: você tem uma base e pode ir adicionando outros ingredientes para variar o sabor”, compara Mayra Montel, gerente de marketing da Rhodia, empresa química referência na área de tecnologia têxtil.

Um dos grandes sucessos da Rhodia atualmente é o Emana, um fio com minerais bioativos que absorvem o calor do corpo e o transforma em raios infravermelhos, que melhoram a circulação sanguínea. Os principais benefícios são a redução da celulite e da fadiga muscular, por isso algumas marcas de roupas esportivas e calças jeans apostam na tecnologia. Outros tecidos tecnológicos encontrados no mercado hoje prometem repelência a óleo ou água, resistência a fogo, combatem a odores, repelência a insetos, proteção contra raios UV, regulação térmica e secagem rápida.

 

O preço, segundo Peixoto, varia de acordo com a propriedade. Em geral, uma peça com repelência a óleo ou água é barata, já as que têm essências são mais caras, pois trata-se de um processo complexo. No caso do Emana, o valor final do produto é em média 15% a mais que o tradicional, de acordo com Graciela Dayan, criadora da marca de moda fitness For The Win, que aposta na tecnologia.

 

Uma vantagem é que a inclusão dos componentes químicos não altera o caimento e a modelagem da roupa. Em raras situações, há alguma alteração no toque. O desafio agora, na opinião de Peixoto, é acrescentar as mesmas qualidades às fibras naturais. “O poliéster é a fibra mais usada no mundo, mas devemos lembrar que ela vem de um recurso não renovável e precisamos iniciar a busca por alternativas sustentáveis”, diz. 

Outro desafio é incorporar eletrônicos às roupas para tornar viável a chamada "wearable tech" (tecnologia vestível). Seja para efeitos estéticos, como criar roupas que mudam de cor ou estampa, ou funcionais, como camisetas que medem batimentos cardíacos, a ideia é transformar os tecidos em sensores. Algumas empresas, caso da gigante de tecnologia Google, começaram a investir em pesquisas para tirar a ideia do papel. “Trata-se da próxima etapa da revolução têxtil, já que os tecidos passarão a ser, de fato, inteligentes e capazes de interagir com o meio externo”, afirma Peixoto. 

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