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'Talento sozinho não basta', diz stylist Daniel Ueda

Um dos campeões de desfiles do último SPFW, ele explica como funciona sua profissão, fala dos desafios da carreira e revela os bastidores do mundo da moda

Por Jorge Grimberg
Atualização:
O stylist Daniel Ueda, um dos campeões de desfiles do último SPFW Foto: Divulgação

Você sabe o que faz um stylist? Na criação de desfiles, editoriais de moda e campanhas publicitárias, o stylist é o profissional que cria conceitos, combina peças e pensa o estilo que será mostrado pelos modelos. Junto com estilistas, editores e fotógrafos, ele gera uma identidade visual para marcas - diferentemente do personal stylist, que foca em vestir celebridades e pessoas reais. 

Na última São Paulo Fashion Week, um nome se destacou nos bastidores das apresentações: o de Daniel Ueda, que ajudou na concepção de oito desfiles (das marcas Lenny, Água de Coco, João Pimenta, PatBo, Ellus 2nd Floor, Helô Rocha, GIG e Juliana Jabour). Tímido, apesar dos seus 20 anos de carreira, Ueda cria looks com uma estética colorida, alegre e jovem, reconhecível nas passarelas e imagens que assina. 

Daniel Ueda também é responsável pelo styling de editoriais de revistas, como o da capa da revista Vogue de maio com a top Naomi Campbell Foto: Divulgação

Superconectado, viajado e sempre com uma energia eletrizante, Dani - como é conhecido no mercado - tem um repertório de moda profundo, trabalhos visualmente deslumbrantes e uma carreira importante para moda nacional. Sobre os desafios da profissão e os bastidores do mercado, ele fala na entrevista a seguir.

O que exatamente faz um stylist? Existem diferentes tipos? Existem diferentes tipos de stylist. O que mais confunde é o personal stylist e o stylist de editoriais e campanhas. São coisas bem diferentes. No meu caso, o que eu faço varia em cada área. Em desfiles, o estilista me convida para, junto com ele, encontrar o melhor caminho para mostrar a coleção, estar com ele em tudo, lado a lado, para ter um resultado mais conciso. A ideia é surpreender a audiência. O papel é ser um catalisador do estilista, traduzir as ideias dele e colocá-las em prática. No caso de uma campanha ou editorial, o trabalho começa na pesquisa do tipo de ideia e imagem que queremos desenvolver. O papel do stylist engloba um pouco mais do que editar roupa. É, junto com o fotógrafo, encontrar o melhor caminho, a melhor luz, o cabelo, a maquiagem. Enfim, definir uma estética e amarrar isso com o fotógrafo. Eu sempre digo que é um trabalho colaborativo. Junto a ideia de todo mundo, filtro e amarro tudo. 

"O papel do stylist engloba um pouco mais do que editar roupa. É, junto com o fotógrafo, encontrar o melhor caminho, a melhor luz, o cabelo, a maquiagem", afirma Daniel Ueda Foto: Divulgação

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Você acha que qualquer pessoa pode tornar-se stylist com um curso ou precisa ter o dom? Um bom curso ajuda bastante, mas é preciso haver um conjunto de fatores. O talento sozinho não basta.Além disso, é preciso ter determinação, inteligência emocional, psicologia, interesse e - o mais importante - paixão por moda. Muita gente acha que, porque gosta de se vestir bem, pode ser um bom stylist e não é isso. A paixão é o que leva adiante. Ninguém vê o que acontece por trás das cortinas. Já vi muita gente começar e desistir.O trabalho em grupo é importante. Você lida com pessoas o tempo todo, então a personalidade conta bastante também. 

Como você começou e chegou até o momento de reconhecimento e sucesso? Sou do interior de São Paulo e mudei para a capital para fazer faculdade de moda. Meu primeiro estágio foi na revista Vogue. Acabei trancando a faculdade porque o trabalho tomava muito o meu tempo. Foi uma ótima prática! Isso foi há 20 anos, com Giovanni Frasson e Patricia Carta como chefes. Acabei saindo para trabalhar como freelancer. Fui assistente do Paulo Martinez e passei muitos anos como assistente, nunca tive muita pressa de trabalhar sozinho. Trabalhar com pessoas diferentes dá uma visão maior e isso foi muito importante. Aos 25 anos, fui convidado para ser editor da Mundo Mix Magazine e foi o meu primeiro cargo importante. Daí em diante, comecei a fazer desfiles. Os primeiros foram Ellus, British Colony e Coven. E, a partir daí, nunca mais parei. 

Quais são os desafios e as oportunidades para quem está começando na profissão?A carreira de stylist é muito mais conhecida hoje. Eu vejo as pessoas começarem mais cedo e logo trabalharem sozinhas. O mercado ficou mais aberto a testar novos talentos. Até porque com a profissionalização da moda no Brasil aumentou o volume de trabalho. Com mais demanda, o campo de trabalho cresceu e talvez seja mais fácil para quem está começando. Acho que o grande desafio é saber lidar com os percalços no caminho. É preciso ter muito jogo de cintura para trabalhar com moda e isso só vem com o tempo. Um conselho que eu dou é trabalhar bastante tempo como assistente para ganhar mais força para aguentar as situações de assumir uma história. 

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Com qual estilista, modelo ou artista você sonha em trabalhar? Tem um artista chamado Nick Cave, que faz roupas com vários tipos de texturas gigantes, eu amo o trabalho dele. Eu amo Miuccia Prada, amo o Dries Van Noten. Com fotógrafos, para mim o Steve Meisel tem um trabalho absurdo. Acho que são esses.   

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