Sem medo de fracassar

'Os momentos em que estamos fora da nossa zona de conforto são aqueles que mais nos fazem crescer. Não devemos lutar contra isso, e sim abraçar o processo'

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Por Steven Petrow
Atualização:
'Durante a maior parte da vida compreendi meus fracassos como limitações pessoais' Foto: Behrooz Nobakht/ Creative Commons

Duas de minhas sobrinhas estão partindo para a faculdade. Receberam muitos conselhos recentemente, desde os ansiosos ("aprenda a definir os limites") até os jocosos ("não esqueça de comer as verduras e legumes"). Meu conselho contraria o esperado: aceite seus fracassos.

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Para mim, essa perspectiva pouco ortodoxa se cristalizou durante um debate do qual participei na Universidade Duke, pela qual sou formado. O propósito era convencer os estudantes de graduação a deixar de lado a obsessão específica pela ideia de ganhar dinheiro, ou, parafraseando a banda ABBA, dar uma chance à vida. Entre os participantes do debate estava Courtney Spence, formada em Duke, que descreve a si mesmo como "contadora de histórias global", e administrou a organização sem fins lucrativos Students of the World desde o terceiro ano. O conselho dela para os jovens lutadores: "No mundo real, nem sempre vencemos", disse ela. "É preciso aprender com os fracassos".

Agora com 35 anos, Courtney disse aos estudantes que, no segundo ano de faculdade, perdeu a disputa por um cargo de representatividade discente. "Foi humilhante", admitiu ela. Mas, em vez de se candidatar outra vez, ela percebeu que tinha de fazer outra coisa. "Os fracassos são momentos de oportunidade", disse ela aos graduandos - e a mim - recebendo olhares como se ela viesse de outro planeta. "Os momentos em que estamos fora da nossa zona de conforto são aqueles que mais nos fazem crescer. Não devemos lutar contra isso, e sim abraçar o processo. Se tivesse ganho, não teria passado pelo momento de profundo questionamento que eu precisava vivenciar".

Ao ouvi-la falar, percebi como teria sido bom se alguém tivesse exaltado as virtudes do fracasso anteriormente na minha vida. Embora não me considere um perdedor, certamente tive minha parcela daquilo que eu chamaria de fracassos. Quando prestei exames para entrar na faculdade, duas das cinco instituições que escolhi me rejeitaram. Em minha vida profissional, fui demitido duas vezes (talvez três?). Não se passou um único ano sem que alguém no meu dia a dia de trabalho dissesse: "sinto informá-lo"; ou apenas "desculpe".

É claro que li C. S. Lewis na adolescência, mas devo ter pulado o trecho em que ele escreve: "os fracassos são os postes sinalizando o caminho para o sucesso".

Em vez disso, durante a maior parte da vida compreendi meus fracassos como limitações pessoais. Duas faculdades me rejeitaram? Deve haver algo errado comigo. Demitido? Não sou bom o bastante.

Então, alguns anos atrás, uma rejeição teve sobre mim um efeito particularmente duro: meu editor recusou uma proposta de livro, golpe que recebi na véspera de ano novo, aumentando meu consumo de álcool e estragando minha festa.

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Mas a ressaca do dia seguinte trouxe um benefício inesperado num momento epifânico: aquilo que eu tinha internalizado como fracasso se transformou em algo menos pessoal, mais administrável: um obstáculo, como uma pedra no caminho. Sem poder avançar, nesse caso por causa da rejeição do editor, não tive escolha além de optar por um caminho diferente e desconhecido. Era exatamente a isso que Courtney estava se referindo quando falou em "momento de oportunidade" disfarçado de fracasso.

Se a proposta de livro tivesse sido aceita, eu não teria tempo de escrever a coluna de jornal que me pediram para assumir pouco depois, nem de tirar férias mais longas com o marido, nem de ficar com meus pais, agora com a saúde frágil. Fiz tudo isso, e agradeço por ter a liberdade e o tempo necessários para tanto.

Não me entendam mal: a rejeição do livro doeu bastante, e minha "oportunidade" só se materializou dali a quase um ano. Ainda assim, aprendi que o caminho do sucesso não é sempre direto, e o significado de vencer nem sempre é aquele que pensamos ser.

Atenção, jovens: queria ter aprendido essa lição antes da crise da meia idade.

Tradução de Augusto Calil

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