Provocação romântica na Prada

Jorge Grimberg narra a experiência de assistir ao inovador desfile da grife de perto e confirma: "Miuccia Prada se mantém no papel que ocupa melhor, o de puxar as fronteiras da moda"

PUBLICIDADE

Por Jorge Grimberg
Atualização:

Na última quinta-feira, 26, um grupo seleto de jornalistas e compradores dos quatro cantos do mundo foram convidados para visitar o QG da Prada, em Milão, para conhecer a coleção outono-inverno 2015/16 da marca. Em vez de uma passarela convencional, salas - cada uma em uma cor - separavam os convidados. Elas eram interligadas por pequenos corredores metálicos, que pareciam estruturas bordadas feitas de espelhos. 

 

Em cada ambiente, só havia três filas de bancos para os espectadores. Não havia muita diferença entre os lugares da A e os da C, o que resultou em uma democracia rara em desfiles de tamanha importância. Todos conseguiam ver a coleção bem de perto em uma atmosfera intimista. 

 

Quando começou a apresentação, em vez de as luzes se apagarem, elas se acenderam. Pouco a pouco, as modelos seguiam caminhando pelos diferentes quartos coloridos e uma explosão de cores suaves - em materiais estruturados - emergiu na passarela inovadora. Nos looks, tons como verde-menta, rosa-salmão e amarelo-limão contrastavam com variações de cinza, mostarda, verde floresta e amora. A combinação de cores ganhou equilíbrio graças aos materiais das roupas, como jérsei duplo (que parece neoprene), couros variados (inclusive de avestruz) e plástico que imita couro.Muitos enfeites, como laços e flores em estampas 3D, também tiveram destaque. 

 

PUBLICIDADE

Trata-se de uma coleção nova e sensível. As modelagens estilo baby doll em neoprene, a alfaiataria rígida perfeita e a combinação de tons, tão estranha quanto bela, causaram uma sensação especial entre os presentes e fizeram do desfile da Prada um ponto de luz na semana de moda de Milão. Miuccia Prada, estilista da grife, sempre traz uma mensagem subliminar de comportamento e reflete o espírito do tempo na passarela. 

O clima de romance estava no ar de maneira enigmática. As modelos usavam penteados altos com fivelas brilhantes, luvas que escondiam seus braços e looks com bordados ultrafemininos. Todo esse romantismo era quebrado por peças como o terno de couro de avestruz verde e as camisas de seda apresentadas sob malhas de tricô, que davam um aspecto masculino ao visual. Mas o que impedia mesmo o clima romântico de se instalar era a claridade da sala de desfile. Com a luz acesa, não há mistério nem romance. A luz passa confiança e transparência.

 

A apresentação prova que, neste momento de expansão global, a Prada faz questão de se comunicar com consumidores do mundo inteiro, inclusive do Brasil, em que possui 6 lojas. Para o brasileiro, é uma grife nova dentro dos shoppings. Nos anos 1990, a marca italiana ganhou o mercado dos Estados Unidos e, pouco a pouco, foi conquistando espaço frente às concorrentes locais. A primeira compra do novo cliente normalmente é uma bolsa ou mochila de náilon, um clássico da marca. Os acessórios desse material estão sempre à venda, independentemente da estação.

 

Não é à toa que o livro/filme 'O Diabo Veste Prada', um marco na história da moda contemporânea, tem a grife no nome. Se existe hoje no mercado fashion uma marca que hipnotiza e carrega uma tradição familiar sólida - sem mudanças na direção criativa nem um grande grande grupo investidor nos bastidores -, essa marca se chama Prada.

Publicidade

Miuccia Prada parece estar constantemente à frente de seu tempo. Não muito adiante a ponto de assustar o consumidor, mas o suficiente para criar desejo e impulsionar o futuro. Em sua coleção de outono/inverno 2015, a estilista confirmou seu pioneirismo e fez o que sabe melhor: criar antes as tendências que deveremos ver em outras marcas somente na próxima estação. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.