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Por que a campanha do papel higiênico preto pode ser considerada racista

Slogan do produto, 'Black Is Beautiful', é o nome de um movimento de resistência afro-americano

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Por Redação
Atualização:
Marina Ruy Barbosa é a estrela da campanha, clicada porBob Wolfenson Foto: Bob Wolfeson/Personal/Divulgação

A Personal anunciou na segunda, 23, o mais novo lançamento da sua linha: o primeiro papel higiênico preto do Brasil. Para a campanha da novidade, a marca trouxe fotos da atriz Marina Ruy Barbosa, clicada pelo renomado fotografo de moda Bob Wolfenson, enrolada no produto sob o slogan Black Is Beautiful (preto é lindo, em português).  "O preto é lindo. A cor sempre foi considerada ícone de estilo e refinamento nos universos de luxo e da moda. Agora, Personal Vip Black traz este conceito também para a decoração e nossa campanha reflete essa integração entre a cor e a sofisticação", conta Lucia Rezende, chefe de marketing da marca.  Porém, internautas estão apontando uma problemática na frase que dá o tema da campanha. Ela é o nome de um movimento surgido nos Estados Unidos nos anos 1960, criado por artistas e intelectuais, para aumentar a autoestima dos negros. Angela Davis, Martin Luther King JR. e Nina Simone foram alguns de seus integrantes.  Na página do produto no Facebook, que foi fechada para comentários e avaliações, internautas estão criticando a campanha, postando emojis de vomito e explicando o por que a frase não pode ser usada neste contexto. Todos os posts com o antigo slogan foram removidos. 

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A Santher, empresa detentora da Personal, e a agência Neogama, responsável pela campanha, anunciaram que não irão mais usar o slogan: 

"A mensagem criativa da campanha para o produto Personal Vip Black foi selecionada com o objetivo de destacar um produto que segue tendência de design já existente no exterior e trazida pela Santher para o Brasil. Nenhum outro significado, que não seja esse, foi pretendido. Refutamos toda e qualquer insinuação ou acusação de preconceito neste caso e lamentamos outro entendimento que não seja o explicitado na peça. Desta forma, Santher e Neogama vem a público informar que tal assinatura foi retirada de toda comunicação da campanha e apresentar suas desculpas por eventual associação da frase adotada ao movimento negro, tão respeitado e admirado por nós." 

Em seu Facebook, o escritor Anderson França, que possui mais de 100 mil seguidores, explicou por que a campanha é racista e preconceituosa. 

Veja na íntegra: 

"Black is Beautiful é o nome de um movimento criado por intelectuais e artistas afro-americanos na década de 1960, que influenciou de forma definitiva o pensamento de milhões de outras pessoas pelo mundo. Nas periferias e subúrbios, esse movimento não só é uma referência como é um estado de espírito. Se você digitar "black is beautiful" em QUALQUER LUGAR DO MUNDO, você encontrará referências a Angela Davis, Malcolm X, O Partido Panteras Negras para Autodefesa, Fela Kuti, James Baldwin, Nina Simone, mas não no Brasil. No mundo todo, teses, dissertações, filmes, peças de teatro, exposições artísticas, fotográficas, música, discurso político, várias manifestações seríssimas giram em torno desta mesmíssima expressão: Black. Is. Beautiful. Essa expressão, quando dita e repetida pelo militante negro da década de 1960, saía de uma garganta quase sufocada pela bota de um policial branco em Montgomery. Saia pela boca que golfava sangue no chão, baleada por racistas da KKK na Carolina do Sul. Saia com esforço dos pulmões de jovens que iam aos shows de James Brown, Say it Loud, I'm Black, and I'm Proud, na noite da morte do Rev. Martin Luther King Jr. Pessoas morreram para que essa expressão fosse reverenciada até hoje. Pessoas continuam morrendo e essa expressão é mais importante e vital que nunca antes. Mas no Brasil, se você digitar #blackisbeautiful você vai encontrar papel de bunda. Papel de c*. Pra limpar o c*. Pra secar a b*ceta. Pra secar o p*u.  Aquilo que você usa pra se limpar de excremento, e em seguida elimina, tomado de nojo e aversão. Aquilo que tem apenas uma função: limpar fezes e secar urina de suas carnes, e ir para o lixo. Se isso não é uma demonstração explícita de racismo e humilhação étnica, criminosa, eu perdi alguma aula. Suas definições de CAGAR TUDO foram atualizadas. A Santher - Fábrica de Papel Santa Therezinha S/A, detentora da marca Personal (No facebook: https://www.facebook.com/familiapersonal/ ), decidiu que aqui no Brasil essa expressão deve se referir não ao histórico de lutas de lideranças pretas americanas e de outras pelo mundo, mas a Santher, numa atitude racista e irresponsável, consciente e deliberada, decidiu que essa expressão deve remeter a papel higiênico, cuja função qualquer pessoa conhece. Esse não é senão um dos mais graves ataques racistas praticados por uma empresa brasileira. E eu pouco me importo com a opinião de consumidores ou leitores brancos racistas e safados DESTA página. A CAMPANHA, veja bem CAMPANHA, planejada, produzida, apresentada E APROVADA pela Santher fere de maneira criminosa e racista um símbolo da comunicação da militância negra mundial. É simples. Basta compartilhar essa hashtag com a cagada que a Personal / Santher fez, para que artistas, intelectuais e personalidades negras do mundo todo se perguntem o que está acontecendo no Brasil, e o porquê da associação desse lema com papel higiênico, e nós veremos, mais uma vez, o brasileiro passando a merda da vergonha que sempre passa. Aliás, é isso. Que cagada, hein, Santher?  Que MERDA. Essa aí, não tem papel preto, nem branco, nem rosa, que limpe. Aliás, lembra do papel rosa? Aquele sim. Pros distintos da Santher, só papel de lixa, grossa, de parede. No meio da cara do diretor que aprovou essa p*rra."