Por uma vida mais simples

Como sobreviver com estilo na era de excessos

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
Marc Jacobs, e sua coleção de uniformes, exemplificou o desejo de acordar de manhã e apenas vestir uma única mesma roupa. Como faziam os personagens de Maurício de Souza. Lembra do armário da Magali? 

No momento em que eu acordo, pego o meu celular. Em poucos minutos eu passei os olhos por dezenas de posts, notícias, ideias, bobagens, emails, desabafos e mensagens. Eu nem levantei da cama e minha mente já está a mil. 

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Vivemos em uma era cheia de excessos.A quantidade de informações que nós absorvemos hoje em redes sociais, canais de TV, trabalho, Netflix, rua, etc, écentenas de vezes maior e mais intensa do que a de qualquer geração passada que viveu neste planeta. Isso não é novidade, mas acredito que estamos começando a nos esgotar com o stress que esse estilo de vida traz.

Eu tive vontade de escrever essa matéria depois que percebi que eu estou constantemente me tratando para combater stress e ansiedade. Meditação, massagem, yoga, Rivotril, acupuntura e, mesmo que eu encontre soluções a curto prazo, a única solução que me parece viável a longo prazo é a busca pela simplicidade. 

Fazer escolhas menos estressantes. 

Antes de me aprofundar no assunto, você deve estar pensando: por que uma coluna de moda está falando sobre esse assunto? 

A moda reflete os comportamentos de consumo e, claramente, estamos entrando em uma era em que a simplicidade é desejo de consumo, como uma resposta aos excessos que nos acostumamos. Produtos e serviços que proporcionem essa simplicidade devem chamar nossa atenção e criar soluções para uma vida que evita o stress ao invés de curá-lo. 

Uma das premissas da vida urbana hoje é querer mais: mais magreza, mais beleza, mais dinheiro, mais seguidores, mais roupas, mais viagens, mais botox, mais aplicativos, mais likes, mais, mais e mais! Esse estilo de vida competitivo gera uma ansiedade geral, um desconforto coletivo e uma sensação de que não somos bons o suficiente. 

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Eu ouvi outro dia uma senhora (acima de 60) frustrada, conversando no hall de um prédio de escritórios. “Eu preciso postar mais no Instagram”. Eu quase olhei pra ela e perguntei: Por quê? 

Com os valores distorcidos, vivemos vidas sem autenticidade na busca por ter mais e acabamos fazendo escolhas nada simples.

Como entramos nessa bagunça? 

A culpa é da internet. Vivemos com muita informação. Por exemplo, no campo profissional, é muito difícil se lançar no mercado com um projeto novo sem se preocupar com o que os outros estão achando. Hoje os ‘likes’ medem nossa vida. Medem nossa atitude e nos apavoram. As pessoas querem ser queridas e nem sempre isso acontece. Somos os protagonistas do nosso próprio show e todos estão olhando. 

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Nos anos 80, quando meus pais estavam iniciando a vida de casados, ninguém sabia com o que os vizinhos trabalhavam, onde eles iam de férias ou as roupas que tinham usado nos eventos que frequentavam. Hoje sabemos tudo de todo mundo. Eu encontro pessoas na rua, que não vejo há anos, que sabem exatamente onde estive nos últimos meses. Assustador. 

Na moda, essa reflexão atingiu as passarelas internacionais de Primavera Verão 2015 e, torço, deve atingir os nossos guarda roupas. 

Marc Jacobs, e sua coleção de uniformes, exemplificou o desejo de acordar de manhã e apenas vestir uma única mesma roupa. Como faziam os personagens de Maurício de Souza. Lembra do armário da Magali? Somente vestidos amarelos. Podemos incluir no estilo da Turma da Mônica, o armário de Karl Lagerfeld, que também só tem variações da mesma roupa. 

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Outro fenômeno que está crescendo é a mulher se apropriar do estilo masculino. A moda masculina é muito mais simples. Os homens saem praticamente todo dia com a mesma roupa, independente de quem são ou o que fazem. Camisa, calça, camiseta, terno, bermuda, moletom, tênis e sapato. Essas peças agora são chave no guarda-roupas feminino. 

Nos EUA, marcas que faziam exclusivamente roupas masculinas, como Band of Outsiders e Public School, entraram no universo feminino com estilo muito próximo às suas coleções originais. Além disso, com mais frequência, as coleções femininas - de Chanel a Prada - apresentam maior quantidade de sapatos sem salto, tênis, camisas e camisetas. Isso simplifica a vida das mulheres por não sentirem a pressão de estarem lindas e sensuais em todos os momentos. Outro fenômeno muito comum em marcas francesas é a moda unisex. São roupas praticamente iguais, simples e confortáveis para homens e mulheres. 

A chave para sair desse caos, que é o mundo a nossa volta, é pensar em cada decisão e se ela vai nos trazer conforto ou ansiedade. É simples assim. Se a resposta for ansiedade, procure uma resposta que traga conforto e siga em frente. 

Na moda, a maneira de simplificar é se vestir para você, e não para os outros. Se libertar da pressão e da comparação que fazemos com os corpos e armários alheios. 

Se começarmos a pensar assim, já é um bom começo na busca por uma vida mais simples.

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