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Paris Fashion Week Review

Novidades e temas que marcaram a semana de moda francesa

Por Jorge Grimberg
Atualização:
Looks da coleção de Primavera 2015 da Givenchy, formada por mulheres fortes e sedutoras Foto: Stylist.com

A temporada primavera verão 2015 terminou em Paris com a apresentação do melhor da moda global. A inovação dessa vez cedeu espaço para a continuação de estilos que funcionam e vendem. Comercial é a palavra da vez nas passarelas. Não de uma forma crítica, e sim, com uma conotação positiva.O comercial é acessível. O comercial é a moda que as pessoas podem usar e não ilusões artísticas na passarela. O trabalho de Nicolas Ghesquiere na Louis Vuitton representa bem o significado dessa temporada com o seu desfile. Ele projeta o seu estilo no universo fabulosos da Louis Vuitton. Nicolas tem acesso aos recursos mais raros para o desenvolvimento de produtos e ele consegue transformar os materiais mais extraordinários em peças usáveis para o dia-a-dia. Nada é over. tudo é perfeitamente correto. 

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Dois principais temas chamaram a minha atenção dos desfiles de Paris: continuidade e sexo. 

Continuidade. A continuidade de coleções passadas - e não a novidade - foi a fórmula usada por estilistas para representar a temporada. Algumas das melhores coleções, como Givenchy e Lanvin, não buscaram trazer algo novo ou inédito para as passarelas, e sim, o melhor de seus arquivos. Ou seja, roupas que nunca vão sair de moda. Um respeito ao passado foi apresentado. Na Saint Laurent, um sentimento de continuidade na coleção de Hedi Slimane mal a separa das temporadas passadas. Slimane criou um estilo próprio que evolui a cada temporada e é reconhecível na passarela. Uma mulher que gosta do estilo ‘rocker’,com cumprimentos ultra-curtos, muito brilho e couro, clima anos 70. A peça hit da temporada foi um chapéu, mix cartola do mágico com rabino, que deve fazer a cabeça dos fãs do estilista - como Kate Moss - e virar febre no mercado fast-fashion. 

Na Dior, um respeito ao passado com pinceladas de um futuro sugerido. A base da coleção de Raf Simons foi justamente sua coleção passada de haute-couture. O estilista expressou seu desejo de aperfeiçoar o conceito que foi apresentado recentemente e levá-lo para a coleção ready-to-wear. As formas clássicas de Dior estavam lá, mas também apareceram bermudões e óculos espelhados, refletindo uma sensível referência ao street style e aos reais desejos de compra da mulher contemporânea, que quer usar Dior, mas quer ser moderna. 

A continuidade em Paris estabeleceu um passo seguro para as marcas que preferiram continuar apontando em estilos e temas que se provaram certos no passado e não em apresentar novidades a cada temporada, uma resposta a nossa ansiedade por uma vida menos acelerada. É até um alívio ver os estilistas propondo mais do mesmo, já que receber novos conceitos de moda com a frequência e velocidade que recebemos hoje é muitas vezes exaustivo e excessivo. Os conceitos dessa temporada devem permanecer por mais tempo, tanto nos guarda-roupas como nas ruas. 

Sexo. Sexo vende. Em tempos de crise global e olho no retorno financeiro, nada melhor que fazer coleções que respiram sexo. Ninguém faz isso melhor que Balmain. O jovem estilista Olivier Rousteing começou a mostrar com mais força sua influência sobre a marca. Ele assumiu a direção criativa da marca em 2011 com apenas 25 anos, substituindo Christophe Decarnin que revolucionou a marca e foi afastado por problemas de saúde. Rousteing conquistou fãs/seguidoras como Beyoncé, Rihanna e Kim Kardashian, os maiores ícones sexuais da geração atual. Na sua coleção, macacões de lurex com recortes profundos e muito movimento que com certeza irão marcar a próxima temporada de tapetes vermelhos em Hollywood. A base da coleção, porém, foi a transparência, que veio em cristais, lantejoulas, plásticos e sedas. 

Até a marca sueca Acne, que geralmente apresenta proporções que não são muito sensuais para mulheres, abusou de decotes triângulos até o umbigo e bodies com recortes assimétricos que funcionariam na Sapucaí durante o carnaval. 

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Agora falando de sexo, o melhor show foi realmente Givenchy. Riccardo Tisci apresentou o melhor de si mesmo depois de abraçar outros universos nas últimas temporadas, como África e basquete. A primavera Givenchy foi formada por uma série de mulheres fortes e sedutoras, com botas e sandálias acima do joelho, muitos recortes e trabalhos detalhados em couro e seda. A coleção toda em preto, branco e tons de terra parecia um ‘best of’ do trabalho do estilista. 

Com praticamente a mesma cartela de cores de Tisci, a estilista Isabel Marant também usou da sensualidade das suas mulheres para apresentar sua coleção. Mas amulher de Marant - francesa, cool e descabelada - é mais leve que a de Tisci. Ela usa a sensualidade de maneira mais delicada, com sandália rasteira de ráfia e tecidos leves, com proporções sempre desconstruídas, com jeito de ‘eu acordei assim’. 

Ainda com apelo sensual, o brasileiro Pedro Lourenço também ousou com um tanto de sexo na sua coleção. O filho de Glória e Reinaldo apresentou decotes em V ao revés em ponta-cabeça, criando um formato cropped nas blusas, além de estampas de cobra e outros animais feitas com lantejoulas e recortes. Nada é o que parece na estamparia do estilista. 

Esse é um momento mais sensato da moda, onde ao invés de novas ideias, surge o que certamente foi encomendado pelos diretores de venda das marcas. Peças usáveis e (muitos) decotes foram as grandes (não) novidades das semanas de moda primavera verão 2015 em Paris e, tirando alguns estilistas que tem inovação no seu espírito, como Rei Kawakubo e Dries Van Noten, o resto é mais do mesmo. 

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