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Os detalhes do figurino do musical Wicked

Vestidos de 9 kg e 15 mil dólares feitos sob medida para as protagonistas e peças feitas artesanalmente na China e na Inglaterra compõem o guarda-roupa dos personagens da peça da Broadway, que estreia em São Paulo na sexta, 4

Por Marília Marasciulo
Atualização:
Sucesso da Broadway, o musical Wicked estreia em São Paulo para uma temporada que vai até o dia 31 de julho Foto: Gabriela Biló/ Estadão

Um desfile de alta costura no qual, em vez de caminhar por uma passarela, as modelos cantam, dançam, pulam e voam. Assim poderia ser considerado o musical Wicked, se fosse levado em conta só o figurino. A montagem, que estreia no Brasil na próxima sexta, 4, para uma temporada que vai até 31 de julho, conta a histórias da bruxas de "O Mágico de Oz" antes da passagem de Dorothy pela estrada de tijolos amarelos. Trata-se de uma das produções da Broadway mais elaboradas de todos os tempos - o que se estende também para o figurino. Os modelos criados por Susan Hilferty impressionam pelos detalhes e luxo. No total, são cerca de 200 peças customizadas, com bordados feitos à mão em um processo de fabricação que vai dos Estados Unidos a países como China, Inglaterra e Índia. 

Para os sapatos e acabamentos de luvas, chapéus e roupas, são usados 179 tipos diferentes de couro. Os vestidos das personagens principais, Elphaba, a bruxa "má", e Glinda, a "boa", levaram cerca de seis semanas para serem produzidas, com várias pessoas trabalhando ao mesmo tempo. Eles pesam cerca de 9 kg e custam US$ 15 mil. “É tanto detalhe que eu poderia ficar para sempre falando sobre o figurino de Wicked”, diz a figurinista assistente Amanda Whidden, que participou da criação do figurino original e veio ao Brasil para ajudar na adaptação da peça. A seguir, ela conta mais sobre o processo criativo e de confecção das roupas.

Amanda Whidden, figurinista assistente, participou da criação do figurino original e veio ao Brasil para ajudar a trazer o musical ao País Foto: Gabriela Biló/ Estadão

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 O figurino do musical é super elaborado e essencial para ajudar a criar o mundo fantástico de Wicked. Como foi o processo e de onde vieram as inspirações para a criação? Susan Hilferty, a figurinista principal, sempre descreve o processo como "Eduardiano retorcido". Eduardiano é o período entre 1890 e 1910, quando "O Mágico de Oz" foi escrito. Esse é o nosso ponto de partida, nossa inspiração. Mas aí ela é retorcida para criar um mundo mágico, no qual os animais falam e as pessoas fazem bruxarias. A criação do figurino levou muitas, muitas semanas, e cada vez que fazemos uma nova produção também demora muito para reproduzi-los. Nós temos um exército de costureiros, bordadeiros, tintureiros e artesãos para fazer tudo acontecer.  Quais os principais detalhes dos vestidos das protagonistas? O vestido de Glinda, azul e com muito brilho, como os raios do sol, tem como objetivo fazer parecer que ela vem do céu. Ele é cheio de paetês e plissados. Já o de Elphaba transmite a mensagem de que ela veio da terra, por isso é inspirado em minerais, pedras e estalactites saindo do chão. Para causar esse efeito, usamos um patchwork de centenas de tecidos diferentes. Não existe um tecido para fazer todo o vestido. Nós criamos os tecidos primeiro e depois montamos a peça. São necessários quase 40 metros só para confeccionar a saia.

É um trabalho que se assemelha muito ao de alta costura, mas as atrizes precisam dançar e atuar com eles. Exatamente. É muito parecido e tão elaborado como na alta costura, cada peça é única. Mas ainda há o estresse de oito shows por semana, os atores têm que escalar, lutar e dançar. É um desafio conseguir balancear o visual primoroso com tudo o que eles precisam fazer no palco.

E a que detalhes específicos vocês precisam estar atentos? Nós precisamos pensar em detalhes como o gancho de segurança no vestido de Glinda, para quando ela "voa" com ele, que precisa estar inserido dentro da roupa, ser parte da costura. A Elphaba tem que dançar com seu vestido de bruxa má, então ele não pode arrastar no chão. Os macacos também precisam voar e ter asas nas costas, então há muitas considerações técnicas que vão além da beleza das roupas. Para conseguir dar conta, usamos alguns truques no desenho e nos tecidos. Os uniformes dos estudantes da escola Shiz, por exemplo, são feitos com um tecido que estica, que ajuda a dar mobilidade na hora de dançar. Nós tentamos levar isso tudo em consideração na hora de criar cada peça.

 Que desafios enfrentam na hora de criar o figurino de uma peça como Wicked? São tantos! É um show incrivelmente técnico, com muitas questões bem específicas. Não é só criar roupas: fazer tudo funcionar no palco é de uma complexidade tremenda. Nós temos macacos que precisam ter asas de uma hora para a outra, chapéus que precisam esconder partes dos microfones e não criar barreiras para o som... Agora, 13 anos depois da estreia na Broadway, é difícil conseguir no varejo os mesmos tecidos usados na produção original, então eles precisam ser feitos especificamente para nós. É tudo customizado.

Às vezes me entristece que a plateia precise estar tão longe porque aí não dá para perceber o quão bonito ele é

De qual roupa você mais gosta? O vestido de Elphaba é o meu preferido. Considero uma obra prima. Quanto mais perto você chega, mais lindo fica. Às vezes me entristece que a plateia precise estar tão longe porque aí não dá para perceber o quão bonito ele é. 

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Quando levam o musical para outro país, fazem algum tipo de adaptação? Não, o objetivo é manter o show igual ao original. Eu quero que a plateia do Brasil veja exatamente o que a da Broadway vê. Ele sempre vai ser tão luxuoso e preciso quanto lá. Nós podemos fazer algumas adaptações funcionais para cada ator, mas o visual é o mesmo.  Como foi o processo de trazer o figurino para o Brasil? Há um time brasileiro para auxiliar nas trocas e no backstage, mas trazemos todas as roupas dos Estados Unidos. Com exceção de alguns pares de sapato, que foram feitos por uma empresa de São Paulo especializada em calçados para teatro e musicais. Eles fizeram um bom trabalho.

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