Olho gatinho? Esses blogueiros (homens) são especialistas

James Charles, Manny Gutierrez e outros jovens conquistaram o universo da beleza na internet

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:
O blogueiro de beleza Alex Rivera. Foto: Brittany Sowacke/The New York Times

Blogs de beleza que ensinam como fazer o olho gatinho perfeito e como dominar a arte do contorno. Ajudam milhões de seguidoras a superar as dificuldades na hora de escolher o rímel certo e a base mais duradoura. Alguns rendem centenas de milhares de dólares graças a um público cativo e às parcerias com as grandes marcas, ansiosas para se beneficiarem de sua credibilidade. E são feitos por homens.

PUBLICIDADE

Eles podem não ser famosos, mas são seguidos por verdadeiras multidões. James Charles, um nova-iorquino de 17 anos, que é o primeiro ‘rosto’ masculino do rímel da CoverGirl, tem 1,5 milhão de seguidores no Instagram. Manny Gutierrez, conhecido na internet como Manny Mua, tem 3,3 - os famosos ‘Mannyacs’. Sua página exibe o seguinte slogan: "Acho que os rapazes também merecem reconhecimento cosmético".

"Personalidades online como Charles e Gutierrez representam o pensamento progressista e a perspectiva nova de um mercado antigo. O mercado de beleza, cuja competitividade é notadamente feroz e onde a diferenciação é essencial, se mostra mais que disposto a lucrar com os blogueiros", afirma Neil Saunders, analista de varejo que comanda a GlobalData.

Eles tendem a projetar uma estética de beleza tradicionalmente feminina; barba, bigode, cavanhaque? Nem pensar. O negócio é cílios no melhor estilo Kardashian. Muitos são gays e dizem que o carinho virtual dos seguidores representa uma reafirmação poderosa.

"Eu saí do armário aos doze anos, mas só comecei a trabalhar com maquiagem há um ano e meio. Comecei em mim e meus pais acharam que eu era transgênero. Não sou. Foi um custo para explicar para eles", conta Charles.

Para Alex Rivera, blogueiro de beleza de 26 anos de Chicago que também é gay, o mundo dos cosméticos tem lhe oferecido um grande apoio. E acrescenta: "Você se sente diferente por causa da sexualidade e orientação, mas é uma comunidade super-receptiva."

Charles, que concluiu o ensino médio este ano e se mudou para Los Angeles, se especializou em vídeos passo a passo que podem levar de 90 minutos a sete horas para serem produzidos. Em um dos mais recentes, chamado ‘Tutorial de Maquiagem com glitter para o Dia dos Namorados’, ele mostra, em menos de doze minutos, como criar um visual com batom rosa e delineador – e, ao mesmo tempo, promove vários produtos pelo nome, além do videogame que patrocinou o segmento.

Publicidade

"Sempre fui um garoto da internet. Assisti aos tutoriais de maquiagem do YouTube durante uns cinco anos antes de começar a praticar nas minhas amigas", revela Charles. Como outros blogueiros de beleza, ele fatura com as parcerias, participação nas vendas de produtos que promove, comparecimento a eventos, acordos com grandes marcas e através dos anúncios do próprio YouTube.

As fãs desses ‘astros’ são consumidoras ávidas, tanto dos vídeos como dos produtos que eles endossam. Jordyn Birden, estudante de 19 anos da Virginia Tech, vê de cinco a seis por dia, cada um com no mínimo quinze minutos. "É meio que um vício", confessa.

"Depois que comecei a acompanhar esses caras, descobri uma infinidade de truques de beleza. Vejo as técnicas deles, do uso do delineador, por exemplo, e aprendo também. Agora já sei usá-lo bem e consigo até umas coisas mais caprichadas, como fazer aquele olhão."

Os blogueiros mais bem-sucedidos usam marcas baratinhas, encontradas nas farmácias. "Eles influenciam o que eu compro, sem dúvida. Quase sempre recomendam coisas acessíveis para o pessoal comum, gente como a gente. Se não for marca de farmácia, dá meio uma brochada."

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Hillary Kline, relações-públicas de 29 anos de Mineápolis, adora os blogueiros de beleza. "Acho o máximo a forma como eles compõem o visual."

Seu favorito é Patrick Simondac, conhecido na internet como Patrick Starrr, que se veste como drag, é patrocinado pelos cosméticos Smashbox e outras empresas e tem 2,1 milhões de assinantes no YouTube. "Além de ser divertido, extravagante e criativo, é um dos homens mais bonitos que já vi", elogia. E também está afiliado a marcas como Tarte e Benefit, duas das favoritas de Hillary. "Os vídeos dele hipnotizam. São excelentes na venda de produtos", reconhece.

Alguns blogueiros – e seus empresários superprotetores – preferem omitir discretamente o quanto ganham. Quando perguntei ao simpático Charles o valor do acordo pioneiro que fechara com a CoverGirl, dois representantes que o acompanhavam nos interromperam, dizendo: "A renda dele é informação particular."

Publicidade

Laura Brinker, executiva de beleza da Coty, grupo a que pertence a CoverGirl, também foi pouco receptiva. "O teor da parceria da CoverGirl com os influenciadores é confidencial. Essas são relações extremamente importantes e os detalhes mais específicos são sigilosos devido à concorrência", escreveu ela em um e-mail.

Alex Rivera conta com uma legião de fãs nas redes sociais. Foto: Brittany Sowacke/The New York Times

"Falar de dinheiro é difícil porque o objetivo de todo blogueiro é permanecer acessível, no mesmo nível que os seguidores. Revelar o quanto ganham pode afastar uma parte do público", teoriza Alex, que posta no Instagram e no YouTube sob o nome @alexfaction.

Em alta
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Ele, que tem uma queda por caveiras e maquiagem no estilo ‘Dia das Bruxas’, há pouco tempo tingiu o cabelo de azul e está de mudança para Los Angeles. Afinal, sabe onde estão seus fãs. "Você é o herói da classe média usando maquiagem de farmácia. É por isso que faz tanto sucesso. Elas não são Beyoncé, mas sim suas melhores amigas", ensina.

Thomas Halbert, 20 anos, é outro blogueiro de beleza que está de mudança para Los Angeles (da terra natal, Asheville, na Carolina do Norte). Loiro, tem um ar que lembra um pouco Justin Bieber. "Sou a primeira pessoa da família a ganhar bastante dinheiro. Sempre fui muito, muito pobre", confessa.

Halbert conta que começou a criar estilos de maquiagem como uma forma de lidar com a ansiedade e a depressão. "Eu me sentia em paz criando arte. Quando percebi, estava indo para o Walgreens comprar produtos. Aí, fiquei meio que perdido. Só sabia que não queria fazer faculdade", prossegue.

Aos quinze anos, Halbert já faturava de mil a 3 mil dólares, ou o equivalente a um mês de anúncios em sua conta no Tumblr. Este ano, no total, ele esperar ganhar 100 mil dólares. "Agora sou um homem de negócios", comemora.

"Os blogs de beleza masculinos começaram a surgir em 2014. Na época, acho que eram uns doze caras; todo mundo se conhecia, trocava figurinha, era um lance de muita união; hoje tem muito mais gente e é claro que a coisa ficou muito mais competitiva", explica.

Publicidade

Muitos executivos acompanham os rapazes em busca de inspiração para produtos. Brent Ridge, sócio da Beekman 1802, está lançando uma nova linha de produtos de beleza feitos a partir de leite de cabra, ideia que teve depois de ler alguns comentários em um desses blogs. "Eles são superimportantes para a questão de pesquisa de mercado porque recebem um zilhão de comentários. Qual é a bola da vez? Estou sempre online, lendo o que escrevem e recolhendo dados."

E a popularização desse nicho não o surpreende. "Ao longo de toda a nossa história, o homem foi um pavão. A diferença é que agora é cada vez mais aceitável. Se você pensar no cliente masculino, ele também está tirando selfies, ou para o Tinder, ou para o Grindr", diz Ridge.

Outro motivo que explica a legião fiel de seguidores é a disposição que blogueiros têm de compartilhar a vida pessoal, como fez Charles em um post do Instagram em junho passado: "Os últimos dias têm sido péssimos como há muito não eram. Um rapaz de quem eu gostava de verdade se aproveitou de mim". E recebeu mais de 55 mil curtidas. "Eles não passam só o tutorial de maquiagem. Contam suas histórias de vida. Se você os assiste todo dia, vai conhecê-los a fundo", conclui Ridge.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.