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O que suas férias revelam a seu respeito

Pesquisadores constataram que os introvertidos preferem as montanhas enquanto os extrovertidos preferem o oceano

Por Arthur C. Brooks
Atualização:
O planejamento das férias costuma provocar em si felicidade Foto: Susana FErnandez/ Creative Commons

Há 23 anos, eu e minha esposa discutimos a respeito de como comemorar o nosso primeiro aniversário de casamento. Como o dinheiro estava apertado, tivemos de escolher entre passar uma temporada na praia ou comprar um sofá, que não tínhamos. Sendo espanhola, ela naturalmente escolheu a praia. Sendo um americano pão duro, eu defendia a compra do sofá, porque era algo permanente. No final, chegamos a um acordo - fomos para a praia.

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As férias revelam muita coisa a respeito das pessoas. Principalmente porque o lugar escolhido indica que elas gostam de estar cercadas de gente. Num novo estudo para o Journal of Research in Personality, psicólogos da Universidade de Virginia indagaram a estudantes sobre suas preferências geográficas, e constataram que os introvertidos preferem as montanhas enquanto os extrovertidos preferem o oceano. Os pesquisadores encontraram mais evidências disso quando analisaram quem realmente vive em tais lugares: os habitantes de estados particularmente montanhosos são, em média, mais introvertidos do que os que vivem em regiões mais planas.

Esta conclusão é bastante intuitiva. Nas montanhas, é fácil encontrar lugares solitários e isolamento. As praias costumam estar repletas de estrangeiros seminus, um cenário que talvez não chegue a atrair os introvertidos, mas que é exatamente o mais procurado pelos extrovertidos.

Há uma surpreendente quantidade de pesquisas sobre as férias, e sobre os aspectos mais agradáveis. Para começar, o planejamento das férias costuma provocar em si felicidade. A pesquisa da revista Applied Research in Quality of Life mostra que as pessoas estão mais felizes com suas férias quando começam a planejá-las. Esta descoberta poderia sugerir bastante tempo para o planejamento e a criação de um itinerário complexo, em lugar de uma escapada espontânea.

Mas se as viagens bizantinas super planejadas produzem uma alegria muito grande na época do planejamento, correm o risco de não proporcionar nenhuma felicidade ao se concretizarem. A pesquisa citada pela Harvard Business Review mostra que as pessoas não se sentem felizes com férias que lhes renderam considerável estresse. Os itinerários em meio a um monte de gente e com extremas conexões talvez pareçam animadores no papel, mas podem acabar significando que as pessoas não voltam mais felizes do que quando partiram.

Somente as pessoas que fazem viagens simples, relaxadas, encontram mais felicidade. Pensem nisto como o Paradoxo das Férias: você precisa escolher entre ser feliz antes, ou ser feliz depois. Desculpe.

O fato de as pessoas tirarem férias revela um bocado de coisas sobre o sucesso de uma carreira, mas a relação é o oposto do que se poderia imaginar. Segundo um estudo do Project: Time Off, iniciativa voltada para a pesquisa da U. S. Travel Association, em 2013, os trabalhadores americanos perderam 169 milhões de dias de descanso pago, por um valor de US$ 52,4 bilhões. Qual foi o benefício para a carreira? Negativo, segundo o estudo.

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Os que não usaram de 11 a 15 dias tiveram 6.5% menos chances de obter um aumento ou uma bonificação do que os que usaram todos os dias de suas férias. Não sabemos se isso ocorre porque os funcionários que não tiveram férias estavam super estressados, ou se por causa de funcionários incompetentes que não conseguiram terminar o seu trabalho pularam as férias. Mas isso indica que os que tiram férias não se sacrificam em nome de sua carreira. 

As férias também revelam algo sobre o país de origem. Nos Estados Unidos, o tema das conversas que costuma quebrar o gelo com um estrangeiro é em geral: "O que você faz na vida?". Na Europa, o assunto ao qual as pessoas costumam recorrer é: "Onde pretende passar as férias este ano?" Todos têm uma resposta - em geral, várias semanas na praia ou nas montanhas.

Os dados sobre as férias respaldam o aforismo segundo o qual os americanos vivem para trabalhar e os europeus trabalham para viver. O trabalhador médio de uma empresa privada americana tem direito a apenas 16 dias de férias pagas e de feriados anuais, e não tem nenhuma garantia legal de dias de folga. Em comparação, na Itália ele tem 31 dias, na Espanha 34 dias, e em Portugal 35 dias.

Estas estatísticas provocam espanto nos americanos, que destacam, por exemplo, os 23% da taxa de desemprego da Espanha. Mas como morei na Espanha durante anos, posso assegurar que chamar a atenção para a relação entre preguiça voluntária autorizada e a preguiça involuntária, ou o desemprego, provoca reações que vão da confusão ao menosprezo. 

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Finalmente, para as crianças, as férias de verão influem no rendimento escolar.

Em 1996, pesquisadores da Universidade de Missouri e a Tennessee State University concluíram que o estudante médio perde um mês de progresso acadêmico nas férias de verão, e que o maior impacto é sentido pelas crianças pobres, que perdiam uma parte considerável de sua capacidade de ler em comparação às de famílias de classe média. Obviamente há outros objetivos para o verão, mas devemos indagar se nosso rígido sistema centenário de férias de verão atende realmente os estudantes como deveria. 

Portanto, o que é que suas férias revelam a seu respeito? Pessoalmente, fiz as pazes com as férias ao longo dos anos, por isso este mês vamos viajar - mas não pelo mês inteiro, como os espanhóis; apenas respeitáveis dez dias como os americanos. Na ausência de um consenso a respeito de gostarmos ou não de gente, iremos para as montanhas e também para a praia. E quando regressarmos, as crianças - com um certo déficit de conhecimentos - vão se instalar no sofá que finalmente compramos.

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Arthur C. Brooks é presidente da American Enterprise Institute e é autor do livro 'The Conservative Heart'

Tradução de Anna Capovilla

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