O que as novas gerações de mulheres pensam do dia 8 de março
Anita Efraim - O Estado de S.Paulo
08/03/2016, 07:00
Para feministas, data é de militância, não comercial
Feminismo é uma luta pela conquista da igualdade de direitos entre homens e mulheres Foto: Reprodução
O Dia Internacional da Mulher foi estabelecido em 8 de março no início do século 20. Há diferentes eventos que explicam a escolha da data, mas existe algo em comum entre eles: a luta das mulheres pelos seus direitos.
Ao longo do tempo, a data foi ganhando novos significados. Um deles é o lado comercial, também usado em comemorações como Dia das Mães, dos Pais e dos Namorados. No entanto, para representantes do movimento feminista, não são esses os valores que deveriam ser pregados neste dia.
A tradição do dia é dar flores às mulheres, mas, na opinião de ativistas do feminismo, deveriam ser outras atitudes que dão valor a esta data. Nana Queiroz, editora executiva da revista AzMina, acredita que, para dar mais significado ao Dia da Mulher, “em vez de homens darem chocolate para mulheres, poderiam ajudas ONGs de mulheres que precisam, em vez de levá-la para jantar, aprender a cozinhar e a lavar louça”.
Gabriela Franco, criadora do coletiva MinasNerds explica que o feminismo é uma luta por igualdade sócio-econômica e cultural entre os gêneros, não uma seita que “prega a transformação forçada de mulheres em super-heroínas ou em mulheres masculinizadas”.
Na opinião da mestre em filosofia, Djamila Ribeiro, o dia só existe porque homens e mulheres ainda não vivem igualmente. Enquanto essa disparidade existir, na opinião delas, o Dia Internacional da Mulher é importante, mesmo que qualquer outro dia seja dia de lutar pelos direitos das mulheres.
Em comum, para as mulheres que acreditam na importância do feminismo, 8 de março é um dia de luta, em que a data é usada para falar dos direitos que as mulheres ainda precisam conquistar.
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Juliana de Faria
Na opinião da jornalista Juliana de Faria, 31 anos, o Dia da Mulher é um dia para rever, relembrar e valorizar o papel da mulher na sociedade. “É um dia que a gente precisa aproveitar para colocar nossa voz, se posicionar. Os holofotes estão muito na gente”, opina a ativista. No entanto, Juliana reforça que o debate de gênero deve acontecer todos os dias, não apenas no dia da mulher
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Juliana de Faria
A ativista é fundadora da ONG Think Olga, uma organização feminista que luta pelos direitos das mulheres e pelo empoderamento feminino. Para Juliana, é muito importante que um dia do ano seja dedicado às mulheres. “Muitas vezes as pessoas falam que se queremos igualdade, não podemos ter esse dia, mas ainda não chegamos nessa igualdade. Então, precisamos desses holofotes. Enquanto não atingirmos a equidade, precisamos ter orgulho mesmo, aproveitar espaços”, argumenta a jornalista
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Djamila Ribeiro
Djamila Ribeiro, 35 anos, é uma forte representação no movimento feminista e acredita que é importante ativar por esta causa “porque coloca em visibilidade pautas em relação à desigualdade de gênero, à violência que a mulher sofre, só por a gente falar disso e lutar contra isso. São pontos revolucionários que a gente tem de pintar pra mudar a sociedade”. A ativista também afirma que não é possível ser feminista reforçando outras opressões, como o racismo
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Djamila Ribeiro
Para a mestre em filosofia, o Dia da Mulher é importante pela questão histórica: “acaba sendo um dia em que a gente tem oportunidade de falar, porque durante o ano, a gente acaba não tendo tanto espaço pra tratar essa questão”. Como tantas outras engajadas no movimento feminista, Djamila reforça: a luta deve acontecer todos os dias
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Nana Queiroz
Diretora executiva da revista AzMina, Nana Queiroz, 30 anos, usa o jornalismo como ferramenta da luta feminista. “Na real, eu acho que todo jornalismo do mundo devia ser feminista, assim, a gente não teria matérias machistas, matérias estimulando a anorexia e cirurgias perigosas, uso de Photoshop em fotos reforçando um padrão de beleza que não existe”, opina. Além de gerir a publicação feminina, que trata de moda, beleza e jornalismo investigativo, Nana foi precursora do movimento #eunãomereçoserestuprada
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Nana Queiroz
Nana avalia o dia da mulher como um momento para lembrar que a desigualdade de gênero ainda existe, mas não deveria existir. Para ela, é essencial que o dia exista, “porque a opressão de gênero é muito específica, ela mora na nossa casa. Você está falando de maridos oprimindo esposas, filhos oprimindo mães, pais oprimindo filhas. E você não enxerga a pessoa que você ama como um inimigo. Em geral, a principal briga feminista se dá no diálogo dentro de casa. E no Dia da Mulher nós podemos lembrar que pessoas que a gente ama também nos oprimem"
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Renata Martins
A cineasta Renata Martins é criadora da websérie Empoderadas, cujo objetivo é dar espaço a mulheres negras para que “sejam protagonistas de suas histórias em todos os aspectos e etapas da produção audiovisual”, para, assim, aumentar sua representatividade e construir espaço para as novas gerações. Para Renata, todos os dias são da mulher, mas por que não uma data especial? “Talvez, ainda hoje, algumas mulheres só se entendam como mulheres por conta de datas como essa”, opina
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Renata Martins
A crítica da cineasta ao dia é que a data virou uma celebração. “Não que celebrar não seja positivo, mas, nesta data em especial, esquece-se em segundos as várias violências cometidas durante e depois da data. Dar flor e parabéns não apaga as manchas invisíveis que o machismo cunha em nossa alma”
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Nana Soares
Nana Soares, jornalista e blogueira do ‘Estadão’, vê o dia 8 de março como de fundamental importância. “Não é a toa que é comemorado no mundo inteiro há um século. É um lembrete de que não está tudo bem, não estamos no mesmo pé de igualdade que os homens”, diz. Para a jornalista, também é um momento de lembrar todas as mulheres que foram responsáveis pelas conquistas do movimento feminista
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Nana Soares
“Tem um dia específico para a mulher porque todos os outros dias ainda são dos homens. Estamos muito melhor do que décadas atrás, mas, enquanto não temos igualdade, precisamos lembrar disso”, afirma Nana
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Gabriela Franco
Determinada a ajudar mulheres a conquistarem espaço no mundo nerd, a jornalista e cineasta Gabriela Franco, 39 anos, criou o coletivo MinasNerds. A ativista argumenta que o dia da mulher é válido para lembrar das mulheres que, em 8 de março de 1857, fizeram o primeiro protesto por melhores condições de trabalho nas fábricas têxteis em Nova York
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Gabriela Franco
“Mas, o que acontece hoje em dia é uma total subversão de seu significado”, opina Gabriela. “Hoje em dia, infelizmente eu vejo a massa tomando o Dia Internacional da Mulher como mais uma data comercial. Dia da mulher é todo dia. Dia de lutar por igualdade é todo dia, a toda hora. Mas acho importante sim, termos um dia para relembrarmos nossa própria história”
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Bianca Santana
Professora e jornalista, Bianca Santana, 32 anos, é associada da Sempreviva Organização Feminista, que organiza a Marcha Mundial das Mulheres. Outro viés da atuação da ativista é em grupos feministas negros, que falam sobre a luta contra o machismo e o racismo. Na visão de Bianca, o dia 8 de março tem duas vertentes: “é um dia para gente falar das nossas lutas, tanto aquilo que a gente ainda precisa conquistar, que não é pouco, mas também celebrar as conquistas que já foram feitas”
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Bianca Santana
Apesar de a data marcar a luta feminista, na opinião de Bianca “todos os dias são dias das mulheres. Todo dia as mulheres precisam ser respeitadas e valorizadas”. A professora reforça que o Dia Internacional da Mulher é uma garantia de que a causa não passe desapercebida, que não vamos deixar de falar sobre as mulheres