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O ‘power dressing’ ganha um novo (e engajado) visual

Feminismo, igualdade racial e outros temas invadiram as passarelas da última temporada de desfiles

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Por Redação
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O inverno 2017 da Louis Vuitton. Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

Paris – os desfiles de Paris – e toda a temporada de prêt-à-porter – chegou ao fim em sete de março no Cour Marly do Louvre, sob a pirâmide de vidro de I.M. Pei e um céu escurecido, em meio a esculturas de mármore dos séculos XVII e XVIII de corpos nus e cavalos tombando.

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Pelo meio deles vagaram as guerreiras da Louis Vuitton: mulheres desligadas de referência ou década; mulheres enraizadas no chão com botas de solado grosso até o joelho, misturando o pastoral e o urbano, o folclórico e o futurista. Embora algumas delas usassem rendas, não tinham qualquer traço de fragilidade. O dia seguinte foi o Dia Internacional da Mulher, mas no que diz respeito à moda, ele já havia chegado.

Pode ter havido menos política escancarada nas passarelas da Europa do que nas de Nova York (as camisetas exibindo frases não atravessaram o oceano, mas o ‘chapéu de gatinha’ e a faixa de cabelo significando ‘juntas’, sim). Mas isso não significa que o clima social atual não tenha sido um subtexto em quase todas as coleções: os estilistas tentaram armar as mulheres para a luta, enfeitá-las para a guerra, tomar conta delas para que possam enfrentar as batalhas ou apenas fazer com que a questão do vestir seja mais racional para que possam... bem, batalhar.

Moncler Gamme desfilou em Paris. Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

À medida que a multidão da moda deixou a França, Saint Laurent se viu em maus lençóis por causa de uma campanha que mostrava garotas muito magras usando meia-calça arrastão e patins de salto fino, com as pernas abertas. A campanha sofreu amplo protesto e foi vista como degradante para as mulheres.

Mas verdade seja dita: mulheres como brinquedos sexuais é tão temporada passada! O ‘power dressing’ adquiriu um visual novo – um que não necessariamente tem a ver com imitar o emprego que se quer, mas com ter confiança em fazer o que precisa ser feito. Como repaginar as roupas masculinas da maneira que quiserem, com ombros fortes, casacos de chuva e cintos marcando a cintura.

Havia calças de terno, claro, mas eram apenas uma opção entre muitas. Os corpos apareceram mais cobertos do que estiveram durante muito tempo. Houve pouco peito à mostra gratuitamente. As barras ficaram, na maioria, abaixo do joelho.

Após o desfile da Vuitton, depois de posar com Michelle Williams, Jennifer Connelly e Jaden Smith sob o brilho de centenas de flashes, o designer Nicolas Ghesquière disse que, se dependesse dele, em um mundo onde muros estão subindo, o foco da moda deveria ser mostrar que há a possibilidade de “quebrar todas as barreiras possíveis” e misturar todas as categorias e culturas; que a moda em si não era uma mensageira, mas a mensagem.

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As cores e texturas daMiu Miu. Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

Assim, seus vestidos de alcinha tinham como complemento capas de tecido e as calças jeans boca de sino faziam par com jaquetas em que vários tipos de peles foram usados, as mangas encurtadas para fazer um efeito epaulet. Vestidos sem manga xadrez foram banhados de lantejoulas para adquirir brilho. 

Na Moncler Gamme Rouge, Giambattista Valli usou tweeds sobre algodão florido techno com rendas em casacos alpinos com nervuras, e adicionou roupa de cama e mochila combinando para uma autossuficiência mais glamurosa. E então questionou seu ponto apresentando uma equipe da guarda montada canadense no final do desfile. Eles foram apenas mais um acessório.

Antes, em uma enorme sala que foi quase que completamente forrada com plush roxo (porque, você sabe, às vezes a gente quer apenas bater com a cabeça na parede), Miuccia Prada disse estar preocupada com o desfile de sua Miu Miu, pensando no que o glamour significa em um mundo de incertezas.

Sua resposta: tecidos felpudos em tons pastéis; casacos com golas parecidas com grandes xales e botões ainda maiores; chapéus, luvas e botas. E crepes das vedetes dos anos 1940 que tomavam refrigerante nos bares com estampas retrô, graciosos gatinhos ou cristais colocados prudentemente em locais determinados. Ela quer dizer: roupas confortáveis para uma inteligência fina.

Suas modelos variaram muito de cor e altura. Porque se você está recomendando a inclusão como resposta ao isolacionismo, termine o pensamento: isso não se aplica apenas a grupos culturais diferentes. Saint Laurent não foi a única marca a virar alvo de protestos; outras (Lanvin, Margiela) também foram muito criticadas por apresentar modelos muito homogêneas.

O mundo da moda ainda tem um longo caminho a percorrer. Todo mundo sabe disso. Mas quando as luzes se apagaram no Louvre, que foi aberto a todos no dia seguinte, a realidade estava – em grande parte – engajada intelectual e esteticamente.