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O novo clipe de Beyoncé e o racismo na moda

Lançado no sábado, 6, ‘Formation’ é um manifesto contra o racismo e traz a cantora vestida de Gucci e Chanel para passar sua mensagem em um momento em que o universo fashion, finalmente, começa a discutir o tema

Por Marília Marasciulo e Giovana Romani
Atualização:
Na cena inicial de 'Formation', Beyoncé veste Gucci em cima de um carro de polícia prestes a submergir em Nova Orleans Foto: Reprodução

Um dia antes de se apresentar no Super Bowl, final do campeonato de futebol americano que ocorreu no domingo, 7, Beyoncé lançou o clipe mais político de sua carreira. Em 'Formation', a cantora faz um manifesto contra o racismo, citando desde os problemas gerados pelo furacão Katrina em Nova Orleans para a população pobre, majoritariamente negra, até a violência policial contra etnias. O vídeo menciona ainda questões históricas, como o passado escravocrata dos estados sulistas norte-americanos e a luta de Martin Luther King pelos direitos civis. Para falar de tudo isso, Beyoncé lança mão de tranças e penteados afro e roupas poderosas que ajudam a fortalecer sua mensagem. Mais que isso, o visual de Beyoncé transforma-se em uma mensagem em si.   Além de mencionar diretamente a grife Givenchy na letra da música (Beyoncé vestiu um longo sob medida feito pelo estilista da marca, Riccardo Tisci, no último baile do Met), ela aparece no clipe usando joias da Chanel e peças recém-saídas da passarelas da Gucci. Por exemplo, na primeira cena, em que está em cima de um carro da polícia prestes a submergir em Nova Orleans, vestindo saia e top da Gucci, cuja estampa traz o nome da marca escrito várias vezes. À primeira vista, já é curioso observar o contraste entre o visual grifado e o entorno assolado pela água. Ao tirar a roupa do contexto do desfile e das lojas, Beyoncé contrapõe riqueza e pobreza, glamour e vida real. Faz isso se unindo às mais incensadas empresas de moda atualmente. Desde que assumiu a direção criativa da Gucci, Alessandro Michele instaurou uma discussão sobre gênero na moda e trouxe os holofotes para si - a participação no clipe de Bey é mais uma ação de marketing social da marca. Na Chanel, Karl Lagerfeld vem sucessivamente levantando a bandeira do empoderamento feminino

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Disso Beyoncé entende. Uma das mulheres mais poderosas do showbiz mundial, ela agora traz a questão do racismo para o universo fashion. Um tema caro dentro da moda, que vem ganhando luz neste exato momento. As edições de fevereiro das revistas Elle americana e Vogue brasileira trazem negras na capa (vale a nota: há, sim, preconceito velado no mundo editorial. Não é por acaso que atrizes e modelos negras, a exemplo de Naomi Campbell e Camila Pitanga, sempre surgem com os cabelos lisíssimos). Na Elle, Viola Davis, a premiada protagonista da série 'How to Get Away with Murder', aparece com os fios crespos naturais, assim como Taraji P. Henson, de Empire, que ilustra outra versão de capa da mesma revista. Na Vogue Brasil, a modelo negra inglesa Jourdan Dunn usa uma peruca afro para, veja só, esconder suas madeixas lisas e loiras. 

Em 'Formation', Beyoncé lança mãos de penteados diversos para passar seu recado, 'black is beautiful'. Ora de rastafári, ora com coroas de tranças, a popstar defende o orgulho dos traços naturais dos negros. Passa de empregada a senhorio em uma troca de cabelo ou look. Para retratar os negros tomando o lugar dos patrões nas casas grandes, ela veste um longo preto ejoias Chanel. Lagerfeld, irônico e causador como Beyoncé, deve ter aplaudido. Além do conjuntinho Gucci no olho do furacão, ela veste outra produção da grife, uma camisola roxa e verde água, e ainda um uniforme feito sob medida pela marca quando se junta a seu exército de mulheres. "Usar uma coleção atual para mostrar como a história define nossas ideias de beleza é uma forma perspicaz de exemplificar como as associações históricas - renda branca, golas altas, corseletes - sobrevivem na moda", analisou Jess Cartner-Morley, crítica do jornal britânico The Guardian. 

Durante a apresentação no Super Bowl, Beyoncé apareceu ao lado de um exército de dançarinas vestidas como os membros dos Panteras Negras Foto: Reprodução

Enquanto boa parte dos famosos encondem os filhos, Beyoncé, diva que é, foge à regra. A pequena Blue Ivy, de 4 anos, fruto do relacionamento da cantora com o rapper Jay-Z, faz sua aparição toda linda, dançando com os cabelos soltos e volumosos - acredite ou não, a criança já foi criticada nas redes sociais por causa de seu cabelo. A menina participou também da apresentação da mãe no Super Bowl, uma espécie de extensão do clipe lançado no dia anterior. Com uma roupa da DSquared2, inspirada no visual de Michael Jackson no mesmo evento em 1993, Beyoncé entrou no palco acompanhada por dançarinas vestidas como os membros dos Panteras Negras, movimento que em 1960 lutou contra o racismo e a segregação. 

Capas do mês: Viola Davis, na Elle americana, e a modelo Jourdan Dunn na Vogue Brasil Foto: divulgação
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