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O império da moda asiática

Enquanto grifes de luxo se inspiram no Oriente, de olho no consumidor asiático, uma nova geração de estilistas chineses, coreanos e japoneses inventa moda e não apenas copia

Por Maria Rita Alonso
Atualização:
Exposição: a influência da China na moda contemporânea é o tema da nova mostra do Met Foto: divulgação

Vamos dar uma volta pela exposição de moda mais badalada do momento, em cartaz até dia 16 de agosto no The Metropolitan Museum, em Nova York. A sala de entrada está escura, mas logo você será abraçado por um jogo de espelhos estrategicamente pensado para valorizar as peças de arte, que no caso são vestidos. Embora o mote da mostra seja a China, há obras emblemáticas de John Galliano, Alexander Mc Queen, Tom Ford, entre outros grandes costureiros europeus que brilharam no final do século XX. “A ideia era exatamente essa, explorar a influência da estética chinesa na moda ocidental contemporânea, destacando criações de estilistas famosos e jogando luz a esse diálogo cultural”, diz Andrew Bolton, curador de China: Through the Looking Glass (China: Através do Espelho).

Na verdade, o tema não poderia ser mais oportuno. Com economias lentas, Paris, Milão, Londres e Nova York já não são mais os centros dominantes no varejo de luxo. A China deve ultrapassar os Estados Unidos como maior mercado de vestuário em 2017, além de impulsionar o crescimento de vizinhos como a Coréia do Sul, o Japão, Cingapura e Hong Kong. De acordo com dados da consultoria Euromonitor, desde 2008, as vendas na Ásia-Pacífica subiram de 383 bilhões de dólares para 606 bilhões de dólares em 2014. A previsão é de que região represente 35% do mercado global de moda em 2018. As vendas globais de vestuário devem chegar a 2,4 trilhões de dólares em 2018, o que representará um aumento de 500 bilhões de dólares em quatro anos.

Rihanna usa vestido criado pela estilista chinesa Guo Pei Foto: AFP

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Atentas aos números, as principais grifes promovem um movimento acelerado de expansão rumo ao leste, desbravando mercados e buscando identificação com o consumidor local. “Hoje há um cenário crescente de entrada de marcas internacionais do segmento de moda para suprir a demanda do mercado de alto padrão chinês”, afirma Rafael Prado, gerente executivo de Imagem e Acesso a Mercados da Apex-Brasil. “A demanda dos consumidores chineses por roupas está crescendo – não apenas em quantidade, mas em qualidade, design, estilo e funcionalidade.”

No ano passado, por exemplo, depois de abrir lojas em Seul, Tóquio e Hong Kong, o estilista Michael Kors inaugurou uma flagship no Jing’An Kerry Centre, em Xangai, com toda a pompa que prega o estilo de vida do “jet setter” americano, símbolo de sua marca. Em fevereiro, foi a vez da Valentino abrir as portas de uma megastore com quatro andares em Hong Kong. Para a Prada, a Ásia já responde por mais de 35% de suas vendas, representando hoje o seu maior mercado.    A Chanel, que tem endereços espalhados por toda a região, foi além e decidiu apresentar a coleção Cruise 2015 em um grande desfile em Seul, no início de maio, bancando a estadia de parte dos 220 jornalistas convidados e de todas as celebridades presentes. Na passarela, Karl Lagerfeld, um mestre na arte de unir referências e reinventar os clássicos de Coco Chanel, trouxe aplicações de flores de lótus, símbolo da prosperidade, ao lado das camélias, estilizou o hanbok, traje típico coreano, e fez referências aos mangás, adotando uma cartela de cores ultra-pop. Desde o primeiro período do contato europeu com a China no século 16, o Ocidente tem se encantado com os símbolos culturais e as imagens enigmáticas da Ásia. Com o estreitamento das relações comerciais, o vestuário, o artesanato e toda a sorte de símbolos ligados à religião e à mitologia têm povoado a imaginação de criadores da moda.   Do lado de lá, paralelamente, há uma movimentação crescente de estilistas coreanos, chineses e japoneses, e investimentos altos nas semanas de moda locais. “Há 15 anos, quando ainda estava no início da carreira, eu me lembro que os chineses só sabiam copiar. Hoje há uma nova geração capaz de criar o design e desejo também. Se eles continuarem evoluindo nessa velocidade, vai ser cada vez mais difícil para o Brasil competir”, diz o estilista Alexandre Herchcovitch. A chinesa Guo Pei, que vive no norte de Pequim, acaba de ser alçada ao estrelato internacional depois de vestir a cantora americana Rihanna na última noite do Met Gala, o baile que marca a abertura da exposição de moda no Metropolitan. O vestido amarelo, com 25 quilos e cauda imperial que usou (amplamente satirizado nas redes sociais, diga-se), foi um dos momentos mais espetaculares no tapete vermelho.

Esse baile virou na última década um dos maiores acontecimentos do mundo da moda porque envolve todo o mercado, reúne as estrelas mais cobiçadas de Hollywood e os poderosos Wall Street, do Vale do Silício e de Washington. A anfitriã da noite é a jornalista Anna Wintour, aquela editora-chefe da revista Vogue que inspirou o livro O Diabo Veste Prada e que há tempos antecipa os rumos da indústria fashion. Foi ideia dela homenagear a China no Metropolitan este ano. E todo mundo da moda sabe que ela não dá ponto sem nó.

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