O impacto da nude de Kim Kardashian 

Ao publicar uma selfie nua na última semana, a celebridade levantou o debate sobre o papel do corpo no empoderamento feminino - e sua influência nem tão positiva para a nova geração 

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Por KATIE ROGERS
Atualização:
Uma das polêmicas selfies de Kim Kardashian. Foto: Reprodução

Poderia parecer que para alguém como Kim Kardashian West - rainha das selfies, quebradora da Internet, mãe de dois filhos - publicar uma selfie praticamente nua nas redes sociais seria algo básico. Mas a sua última foto picante, publicada na semana passada no Twitter e no Instagram com uma legenda mundana ("quando você pensa que não tem nada para vestir, risos"), rapidamente provocou um debate entre celebridades jovens e poderosas: seria a imagem um símbolo de empoderamento sexual ou o exemplo de uma mulher poderosa se vendendo por pouco?   Em um clima em que o assédio e bullying de jovens mulheres online alcançou níveis alarmantes, especialistas dizem que o encorajamento de liberdade de expressão sexual saudável entre mulheres é cada vez mais necessário. Mas, ao mesmo tempo, também é importante discutir sobre o que exatamente constitui empoderamento e por que. Embora Kim possa compartilhar uma foto nua e ser louvada (ou mesmo paga) para isso, sua legião de jovens fãs podem ser explorados, atacados ou expostos à vergonha se tentarem o mesmo. E eles não têm marcas valiosas para preservar. 

Dias depois de provocar discussões por publicar uma selfie semi nua, Kim Kardashian publicou esta foto com a legenda "#liberated" (libertada) Foto: Reprodução

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Até Kim não está totalmente protegida: além de receber milhares de mensagens que a chamam de "rainha" e "mãe", ela encarou uma quantidade significativa de mensagens abusivas e críticas. "Quando Kim faz algo assim, ela está 'trabalhando'", diz Pamela Rutledge, diretora do Media Psychology Research Center. "Adolescentes precisam entender que a fama de Kim veio por ela ser fora do comum, mas isso só é sustentado porque ela continua a quebrar padrões."   Mesmo sendo criticada por atrizes como Bette Midler, Kim recebeu o apoio de outras famosas que enxergaram as críticas como uma afronta à liberdade de expressão. "Qualquer pessoa que tenta determinar a maneira como uma mulher deva mostrar seu corpo está errada, desinformada e enganada", escreveu a atriz Abigail Breslin, de 19 anos, no Twitter.   Outra atriz de 19 anos, Chloë Grace Moretz, foi acusada de julgar o corpo alheio por expressar uma opinião diferente. "Eu sinceramente espero que você saiba o quanto é importante ajudar a determinar metas para jovens mulheres e ensinar a elas que nós temos muito mais a oferecer que só nossos corpos", escreveu em uma mensagem para Kim. Kim Kardashian, que tem 35 anos, respondeu: "vamos todos dar as boas vindas à @ChloeGMoretz no Twitter, já que ninguém sabe quem ela é". Ela também mencionou uma capa da revista Nylon na qual Chloë aparece seminua.   Enquanto as mulheres famosas debatiam em público, a narrativa mudou de "por que ela fez isso" para "por que ela não pode fazer isso?". Kim Kardashian pode, e ela fez, e ela provavelmente vai fazer de novo, até que isso se converta em dinheiro. Inclusive, Kim interrompeu a discussão para dizer que ganhou US$ 80 milhões com seu jogo para smartphone.

O motivo pelo qual ela ostenta sua riqueza e poder nas redes sociais pode ser para que o mundo saiba que ela está cansada de se sentir envergonhada pelo vídeo de sexo que a tornou famosa em 2003. "Não vou viver minha vida ditada por problemas que vocês têm como minha sexualidade. Vocês sejam vocês e deixem que eu seja eu", escreveu em um texto no app em que compartilha sua vida pessoal (US$ 2,99 por mês).

  Kim Kardashian West aprendeu a transformar perseguições passadas em uma máquina de ganhar dinheiro, e com isso controlar sua imagem. Ela é ao mesmo tempo sexualmente empoderada e, diria a própria, liberada. Jovens mulheres sem o mesmo acesso ao poder ecoam esse comportamento quando suas fotos caem nas mãos erradas, de acordo com a escritora Nancy Jo Sales, autora de "American Girls: Social Media and the Secret Lives of Teenagers" ("Garotas Americanas: as Redes Sociais e as Vidas Secretas das Adolescentes", em tradução livre).   "É um tipo estranho de feminismo por defesa", diz Nancy, acrescentando que muitas meninas reagem dizendo "faça o que quiser, eu já fui explorada." Parte de um capítulo do livro, para o qual ela entrevistou mais de 200 meninas entre 13 e 19, é dedicado a como essas meninas se sentem em relação a Kim Kardashian, que é um ídolo para muitas. "Você me inspirou a ser gostosa e famosa", disse uma delas a Kim durante uma sessão de autógrafos.   A base de fãs de Kim (41 milhões só no Twitter) é devota e mobilizou apoiou a ela em relação às críticas. Enquanto milhares ficaram surpresas pela discussão entre Kim e a atriz Chlöe Grace Moretz, Nancy afirma que essa interação realça um problema frequente que as meninas encaram: se elas questionam o status quo sexual, elas frequentemente ouvem que suas opiniões são inválidas. "Existem muitas formas de responder a uma adolescente que são melhores do que dizer que ela simplesmente não tem importância", afirma Nancy.   A pressão em cima das garotas para "mandar nudes" - um pedido que pode ser enviado em um cartão em formato de coração no aplicativo de teclado customizado para celular de Kim (também US$ 2,99) - é tão constante, afirma Nancy, que às vezes pode se transformar em ameaças. "Para Kim, isso significa dinheiro", diz Nancy. "Esse não é o caso quando você é uma estudante de primeiro grau crescendo em uma cidade pequena, onde todo mundo conhece você e pode ver aquela imagem."

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