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Nova geração de produtos para a pele aposta no poder de probióticos

Pós e comprimidos turbinados prometem benefícios dermatológicos por meio de intestino saudável

Por Courtney Rubin
Atualização:
Uma onda de pílulas e pós probióticos, com marcas como Glow e Inner Beauty, relaciona a saúde da pele à do seu intestino Foto: Andrea D'Aquino/The New York Times

Há três anos Danielle Fleming, corretora de imóveis em Hoboken, Nova Jersey, começou ter uma erupção de acne persistente em torno da linha do queixo. “Eram espinhas absurdas, horríveis”, diz. Depois de mudar o sabonete, o spray de cabelo e qualquer coisa que achasse que seria a causa, ela acabou recorrendo ao dermatologista para pedir uma receita de isotretinoína [o Roacutan] para tratamento da acne ou talvez um tratamento a laser. Mas saiu do consultório com outra coisa: uma dieta.

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Danielle, 43, levou dois anos para adotar o regime proposto pelo Dr. Whitney Bowe, dermatologista de Nova York. De acordo com o livro do médico, “The Beauty of Dirty Skin”, a dieta se compõe basicamente de alimentos com baixo teor glicêmico eprobióticos fermentados ricos em bactérias. O que significa alterar a população de trilhões de microorganismos gastrointestinais, reduzindo a inflamação, inclusive as erupções na pele.

Mas Danielle, viciada em açúcar, relutava em abandonar seu iogurte adoçado artificialmente e deixar as visitas habituais à confeitaria, e achou que, se adotasse partes da dieta, seria o suficiente. No final ela cedeu. “Desde então acabaram as erupções. E as pessoas me perguntam o que estou fazendo para minha pele”.

Corrigir a flora intestinal tem relação com uma ampla série de benefícios para a saúde (segundo alguns estudos auxilia a diminuir a incidência de câncer, AVC e obesidade) e grande parte dos cuidados com a pele hoje se concentra no intestino como sendo o segredo para uma cútis perfeita.

E assim surgiu a onda de pós e pílulas probióticas - elegantemente embaladas, com nomes como Glow e Inner Beauty, sugerindo que podem fazer muito do trabalho pesado de manter o bom funcionamento do seu intestino.

A Beauty Chef, empresa australiana fundada por um ex-editor de beleza, oferece sete produtos à base de probióticos que são vendidos no Net-a-Porter e no Goop. Este ano, a guru da maquiagem Bobbi Brown introduziu um probiótico com sabor de limão, embalado como sachê, que não precisa ser diluído em água, na sua linha Evolution de 18 produtos para o bem-estar do corpo.

Sonya Dakar, cosmetóloga, vende um probiótico chamado Acidophilus Flora. Rose-Marie Swift, artista de make-up, conhecida por criar a pele resplandescente de Kate Bosworth, Gisele Bundchen e Miranda Kerr,lançou há pouco suplementos de probióticos que levam sua marca RMS, inspirada em parte por sua relativa falta de sucesso em conseguir que as modelos adotem alimentos com culturas vivas.

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“Você tem essas belas modelos e na verdade elas têm uma pele realmente ruim”, diz Rose-Marie que, por causa de uma doença que teve há tempos atrás, vem recomendando probióticos e cosméticos mais seguros antes de virarem moda. “Digo a elas para ingerirem alimentos fermentados, mas ninguém faz isso”.

O site Net-a-Porter agora oferece 12 marcas de probióticos comestíveis, e Newby Hands, a diretora de beleza da companhia, informa por email que esta é uma das categorias com crescimento mais rápido, na casa dos dois dígitos por ano. “Em Londres e Los Angeles observamos que alguns suplementos estão superando em vendas os séruns e outros produtos que antes estavam no topo da procura”, completa.

Então é só tomar um suplemento?

Infelizmente limpar seu intestino (e sua pele) não é tão simples como tomar um probiótico. Existem pequenos estudos associando determinadas cepas de bactérias à redução da acne, à hidratação e à elasticidade da pele. Por exemplo, uma chamada lactobacillus casei subsp.casei 327 (ou L.K-1) parece melhorar a barreira epidérmica e reduzir o ressecamento da pele, de acordo com um estudo japonês de 2017. Outra, o lactobacillus rhamnosus SPI, tem sido ligada a uma redução da acne em adultos, segundo um estudo realizado em 2016.

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Por que você não pode simplesmente engolir as cepas em forma de comprimido e elas terão um efeito automático?

Em primeiro lugar, não está ainda bem determinado que um estômago robusto em termos de bactérias, é o segredo da pele limpa. Não sabemos exatamente quais são as relações mecânicas entre a flora intestinal e a pele, afirma Justin Sonnenburg, professor de microbiologia e imunologia da Escola de Medicina da universidade de Stanford.

É verdade que o que ocorre no intestino não se limita ao intestino, mas faz parte de um sistema integrado, que é você, diz ele. Seus microorganismos gastrointestinais afetam o metabolismo, a resposta imunológica, o estresse. Mude algo na flora intestinal – e a dieta é um dos recursos mais poderosos para isso - e os efeitos se propagam, potencialmente,para a pele.

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Mas ainda não há bons estudos que avaliam de uma maneira sistemática e controlada se a mudança da flora intestinal influencia a saúde da pele, disse Sonnenburg.  Afirmar que você vai ingerir um probiótico que terá impacto a ponto de mudar a saúde da sua pele será uma próxima etapa.

Segundo a Dra. Yasmine Belkaid, diretora do programa ligado a microbioma no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, essas empresas estão dando um passo lógico à frente, pois afinal a flora intestinal influencia órgãos periféricos,  mas muito mais pesquisa científica é necessária. “Grandes promessas têm surgido muito rápido”, pondera ela. “Mas somente nos próximos dez ou quinze anos veremos produtos poderosos no mercado”.

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E embora o grupo da Academia Americana de Dermatologia que trabalha com o problema da acne tenha oferecido pela primeira vez diretrizes para o tratamento,  em 2016,  elas não incluem os probióticos, observando que  “as evidências existentes não são robustas o bastante para respaldar alguma recomendação nesse sentido”.

O problema dos atuais probióticos é que a flora intestinal de cada pessoa é diferente. Há variações no sistema imunológico e no microbioma da pele de cada indivíduo e isto implica que se um dado probiótico vai ter algum efeito é um pouco uma loteria. Segundo um estudo realizado em 2016 e publicado na revista Cell Host & Microbe, quando um probiótico é administrado por via oral ele se fixa somente em um terço dos participantes (o estudo não monitorou os efeitos para a saúde, apenas se as bactérias se instalaram).

O triunfo da dieta não sexy

Mesmo que ciência acabe encontrando uma relação de causa e efeito entre a flora intestinal e o brilho da pele, os probióticos não deverão ser a única solução. “A suplementação em si não é suficiente”, diz o dermatologista Whitney Bowe. Ele recomenda os probióticos, mas apenas combinados com uma dieta alimentar correta.

Até agora a melhor maneira de melhorar sua pele é uma mudança alimentar que seja duradoura, especialmente adotando uma dieta que tenha outros benefícios para a saúde: alimentos integrais, pouca gordura saturada, o mínimo de açúcar refinado. Neste caso os probióticos como suplementos são mais eficazes.

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“As pessoas me dizem que começam a usar meu produto e se animam a mudar sua dieta alimentar porque sentem uma melhora da sua saúde”, disse Carla Oates, da Beauty Chef, cuja empresa nasceu inspirada pelos seus esforços culinários para curar suas alergias e depois o eczema da sua filha. “Meus filhos cresceram comendo alfarroba e adoram chucrute”, conta ela.“Meus amigos ao verem a cena, diziam ‘Oh, meu Deus! Que nojo!”. // Tradução de Terezinha Martino

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