Na crise, moda investe no modelo 'veja agora, compre agora'

Riachuelo traz coleção para ser vendida na passarela após o desfile enquanto estilistas apostam no artesanal na SPFW

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Por Maria Rita Alonso e Giovana Romani
Atualização:
Isabeli Fontana no desfile de Karl Lagerfeld para a Riachuelo: as peças começaram a ser vendidas na passarela logo após a apresentação Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Em tempos de crise econômica e sucessivas quedas no varejo, a moda divide-se em dois extremos: de um lado, o criador autoral, dos pequenos ateliês, das roupas elaboradas feitas para durar, com preços altos e voltadas ao mercado de luxo. Do outro, a moda rápida, fácil, acessível. Quase não há espaço para a coluna do meio. No segundo dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, esse jogo de opostos ficou evidente. O evento começou na casa da estilista Paula Raia, uma mansão no Jardim Europa, e acabou no desfile apoteótico de Karl Lagerfeld para a Riachuelo, no prédio da Bienal, no qual as roupas da coleção foram trazidas em araras para a passarela imediatamente após o desfile. É fast fashion elevado à máxima potência.

“Antes, a moda era elitista e excluía, hoje existe um movimento de inclusão”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo. “Com parcerias com nomes como Lagerfeld consigo atender o cliente de A a Z, do topo à base da pirâmide. Isso quebra o paradigma da segmentação de público para o produto.” Estrelada pela top Isabeli Fontana, o desfile trouxe peças inspiradas no próprio guarda-roupa de Lagerfeld. Há blazers pretos, camisas brancas, calças de couro e bolsas divertidas e mochilas, que foram atacadas pelos convidados da marca enquanto vendedores comercializavam as peças ali mesmo, na passarela. 

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As camisetas trazem estampas com o rosto de Karl, que é diretor criativo da Chanel, ícone entre fashionistas e gênio do marketing na moda. Com preços entre R$ 49,90 e R$ 349,90, a linha tem 75 peças e deve chegar hoje a 140 lojas da rede. Nesta edição, assim como a Riachuelo, novos nomes apostam na visibilidade da SPFW para alavancar vendas. Entre eles, a marca carioca A. Brand, que estreou com uma coleção inspirada no Havaí. Na passarela, estampas bem coloridas com hibiscos e paisagens típicas da ilha surgiram ao som de Elvis Presley em clima hula hula. A grife integra o grupo Soma, dono também da Animale, ausência sentida na temporada. Segundo Roberto Jatahy, presidente do grupo, a marca ficou de fora agora para se adequar ao movimento do “veja agora, compre agora”. “Não saímos como camicases abrindo uma porção de lojas, mas temos a crença de que o Brasil não vai quebrar”, diz Jatahy. “Assim que tivermos uma definição política, vamos com tudo.”

Na contramão da movimentação da moda comercial, a estilista Paula Raia está puxando a fila entre os designers brasileiros que acreditam em um modelo de vendas menor e artesanal. Ela é a grande defensora do slow fashion por aqui. Por isso, levou meses para preparar a coleção baseada em vestidos claros, feitos em camadas e boa parte deles a partir do modelo de camisas. O tema era justamente o tempo – as peças tinham cores desbotadas e envelhecidas, cordas de algodão com pontas desatadas e estampas craqueladas, como se tivessem sofrido a ação dos anos. Sofisticada e com referências orientais, a moda praia de Adriana Degreas também segue uma linha mais “couture”. 

Em meio à crise, do slow ao fast fashion, as marcas têm buscado alternativas. A Osklen, famosa por sua roupa casual sofisticada, participou do evento apenas com uma apresentação da nova coleção, sem modelos, na loja da Vila Madalena. Já Patrícia Bonaldi tomou partido e fez um desfile com tom patriota. Mostrou peças cheias de brasilidade, com cores e desenhos da bandeira. "É difícil falar de Brasil sem ser literal, mas decidi ser otimista”, diz ela. “Para afastar a crise, busquei uma mensagem positiva.”

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