Marcas de sapato investem em trabalho manual aliado a design

Com o cuidado de artesãos por trás de cada peça e couro de primeira qualidade, designers deixam de lado a produção em massa e apostam cada vez mais na exclusividade

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Por Marina Domingues
Atualização:
A designer Bruna Botti aposta no conforto aliado ao design, tudo em couro Foto: Eliaria Andrade/Estadão

Em tempos de moda rápida, com produtos que duram uma estação - às vezes pela qualidade, outras por seguir uma tendência muito pontual -, encontrar itens duráveis com design singular ficou mais difícil. E foi exatamente nesse mercado que a paulista Bruna Botti mirou quando abriu a sua marca, há um ano e meio. A designer, que emprestou seu sobrenome para a marca, sempre primou o conforto para os pés. “Meu primeiro estágio na faculdade de Moda foi com a Paula Ferber, especialista em sapatos artesanais, e lá me apaixonei por esse universo”, explica ela, que também estudou Administração. O interesse pelo trabalho manual nasceu aí, mas Bruna não o colocou em prática imediatamente e foi ganhar experiência no mercado sapateiro. Produziu peças para grandes nomes da moda, como NK Store e Thelure, e passou por fábricas de outras, como Capodarte, Zeferino e Grupo Arezzo, que detém as grifes Arezzo, Anacapri, Schutz e Alexande Birman. “Aquilo era a Disney para mim, uma liberdade de criação incrível, foi uma escola.” Foram dez anos de bagagem antes de alçar vôo solo com a Botti.

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“Sabia que queria um sapato com conforto, design e preço possível”, defende ela. “Sonhava com essa Alta-Costura do calçado.” Com trabalho manual e matéria prima de primeira, tudo é feito em couro, a designer encarou o desafio de criar um produto com saltos médios, sem ter carinha de vovó, mas com bossa. “Sempre via as mulheres na rua com saltos altíssimos, andando com dificuldade, e percebia que essa não era a melhor opção”, conta. Ela começou então a armar o DNA da Botti, e usou as amigas como termômetro, com uma pequena produção inicial, que eram entregues na casa das clientes em forma de delivery. 

“Elas pediam os sapatos, provavam no conforto do lar, e compravam.” A aceitação foi imediata e a designer sentiu o desejo de ampliar a gama - abriu assim, em maio de 2014, o espaço nos Jardins, em São Paulo, que funciona como uma extensão da casa de cada cliente, com carpete no chão e um café para conversar, no maior estilo papo de amigas. “A exclusividade e o conforto são os pontos mais fortes da marca”, afirma Bruna, que produz cerca de 20 pares de cada modelo. “Posso ter o mesmo modelo em outro couro, outra estampa, mas nunca uma produção em massa, são cerca de 15 pessoas na fábrica, é tudo muito pequeno.” Nadando contra a corrente da moda rápida, a paulista defende o cuidado manual, a atenção extrema e particular com a cliente e a durabilidade das peças. “Não pode ser um alívio tirar o sapato do pé no fim do dia, ele não pode te machucar.”

As linhas limpas e o conforto extremo são os grandes aliados de Dani Cury, designer da Septis Foto: Eliaria Andrade/Estadão

Dani Cury, nome à frente da Septis, também defende a máxima do conforto acima de tudo. Depois de alguns anos como diretora de arte e envolvida no mundo da moda, seu último cargo antes da marca foi na Maria Bonita, a designer decidiu tornar a paixão por sapatos em profissão. “Era apaixonada por esse universo, comprava sapatos número 34 em viagens, sendo que calço 38, só pelo objeto mesmo”, explica ela, que criou a Septis, em 2010. Com pés sensíveis, passou a desenhar peças que queria para si, mas não encontrava no mercado, já que tudo machucava sua pele. “Decidi investir em sapatos com acabamento em couro por dentro e por fora, fazia testes em mim, e assim foi nascendo o trabalho hand made”, conta. Com o passado de diretora de arte e artista plástica, Dani deixou a criatividade correr solta, com inspirações na natureza, nas formas orgânicas e em prédios arquitetônicos - sua sapatilha preferida da marca tem referências de um edifício em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Com linhas limpas e sem rococó, a Septis aposta em clássicos com um twist, como scarpins com saltos modernos ou sapatilhas com recortes estratégicos, sem muito decorativismo. “Não me identifico com o efêmero, crio peças que vão contra a ideia de ser descartável ou substituído.”

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