Faro comercial, criativo e um jeito muito próprio de interpretar a maquiagem. São conceitos como esses que vêm à mente quando se pensa em François Nars. Afinal, não é todo maquiador que constrói uma marca própria de sucesso, cria blockbusters regularmente, fotografa suas campanhas publicitárias e controla, da idealização à imagem final, tudo que se refere aos produtos que inventa, independentemente de seu vínculo com um grande conglomerado da beleza (desde 2000, a dona da grife é a japonesa Shiseido - François permanece como seu diretor criativo).Como parte das comemorações pelos 20 anos da Nars - que começou com apenas 12 batons disponíveis em um único ponto de venda e que hoje comercializa mais de 400 produtos em 65 países -, François Nars abriu espaço em sua agenda para conversar com o canal de Moda do Estadão.
Como é o seu processo criativo?
Trabalho com um pequeno grupo de pessoas [os maquiadores, por exemplo, são apenas 14 no mundo todo] que compreende meus pontos de vista e que consegue transformá-los em produtos. Além disso, idealizo todas as imagens e visuais que dizem respeito à marca Nars. Quando você tem muita gente envolvida no processo criativo, o conceito se torna diluído e se perde. A preocupação de preservar um espírito jovem também faz muita diferença.
Por que você decidiu se tornar o fotógrafo das suas próprias campanhas publicitárias?
Em 1996, quando decidimos anunciar pela primeira vez, o budget era pequeno. Pegar a câmera acabou sendo um movimento natural - quem seria melhor para interpretar meu ideal de beleza do que eu mesmo? Além disso, sempre tive a sorte de fotografar mulheres bonitas, como Linda Evangelista, Guinevere Van Seenus, Naomi Campbell, Amber Valetta e Daria Strokous, a estrela da campanha atual.
De onde tira inspiração para as coleções?
Lugares para os quais viajei, filmes das décadas de 1950, 1960 e 1970, Paris (um lugar muito especial para mim), exposições que visitei e até mesmo pessoas que caminham pela rua. Posso ver uma roupa que alguém está usando ou registrar a cor de um cabelo e desenvolver paletas a partir desses tons. Livros também podem me transportar para outros universos e estimular o meu trabalho. A maneira que crio as coleções é muito espontânea, nada é muito planejado.
Quais produtos são mais especiais para você?
O Blush Orgasm, lançado em 1999, é especial por ser versátil; serve para todas as nuances de pele e traz luminosidade e um rubor natural. O interessante é que considero o blush um produto essencial no ritual da maquiagem - uma crença herdada de minha mãe, que não vivia sem ele. O bronzant Laguna [idolatrado por maquiadores por criar um bronzeado natural, sem brilhos excessivos] e o batom Schiap [com acabamento mate e tom fúcsia] são outros itens campeões.
Depois de um passar um período afastado das semanas de moda, você voltou a assinar desfiles em 2009, desenvolvendo looks de beleza para o estilista Marc Jacobs - uma parceria que se mantém até hoje. O que ainda o desafia a enfrentar a correria desses eventos?
A Semana de Moda de Nova York estava trazendo looks muito naturais e sem graça, quis retornar para levar um novo olhar para a beleza da passarela. Nossa primeira colaboração [outono-inverno 2009/2010] teve como tema “Nova York à noite nos anos 1980” e me inspirou a criar looks impactantes, teatrais, com um twist de balada. Vivemos, Marc e eu, essa era juntos. Tínhamos a cumplicidade necessária para trazer esse tipo de energia de volta.
Que tendências de beleza você identifica no horizonte?
Tento manter uma certa distância das tendências, prefiro balancear as novas informações - de texturas, de cores - que surgem em cada temporada com referências clássicas. A mulher nunca vai errar juntando um olho com contornos definidos e uma boca poderosa ou um sombreado mais esfumado e um batom natural. São looks que vão além das propostas de uma só estação. Para as mais ousadas, recomendo juntar dois elementos fortes: olho esfumado e batom de cor intensa. Maquiagem é diversão, e se você não gostar do resultado, sempre é possível tirar tudo e recomeçar a produção.