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Local especial para mulheres em conferências gera polêmica

Girls' Lounge é um espaço livre - a cobertura de um hotel, por exemplo - onde as mulheres podem relaxar e se reunir entre os encontros e os seminários

Por Brooks Barnes
Atualização:
Shelley Zalis, fundadora do Girls' Lounge, tem como objetivo promover os interesses das mulheres de negócio Foto: Amy Dickerson/ NYT

Mulheres de negócio sérias e de sucesso reunindo-se em grupos como garotinhas para ajudar a acabar com a desigualdade no local de trabalho?

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A noção espanta algumas profissionais. Mas Shelley Zalis, ex-executiva chefe de uma empresa de pesquisa de Hollywood, que está liderando o esforço pelo avanço de mulheres em ambientes corporativos, diz que quer ainda mais cor-de-rosa.

"Sempre me disseram para esconder minhas características femininas, que não há lugar para elas na sala de reunião. Discordo completamente. Uma mulher que tenta ser um homem é um desperdício de mulher", afirma Shelley, tomando um café no Cecconi.

Shelley Zalis, de 53 anos, é a fundadora loquaz e tenaz do Girls' Lounge (Salão das Garotas), que começou quatro anos atrás como um local de encontro arranjado às pressas para o Show Internacional dos Eletrônicos de Consumo. Este ano, Shelley levará o Girls´ Lounge para dez eventos importantes de negócios. Em janeiro, participou do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

No sentido mais básico, o Girls' Lounge é um espaço livre - a cobertura de um hotel, por exemplo - onde as mulheres podem relaxar e se reunir entre os encontros e os seminários. Há frutas para o lanche. Especialistas em cabelos, unhas e maquiagem que oferecem ajuda rápida. Shelley, com quatro pessoas da equipe, algumas vezes traz um "treinador de confiança" para conversas estimulantes. Flores cor-de-rosa, almofadas e sofás macios dão a impressão de uma festa do pijama.

As frequentadoras do Girls' Lounge - mais ou menos cinco mil até agora, segundo estimativas de Shelley - também são encorajadas a fazer networking e explorar negócios, tanto entre elas quanto com os homens que encontrarem. Em 2014, durante uma convenção, Gail Tifford não conseguia encontrar um lugar para discutir questões de negócio com Stephen Quinn, na época diretor de marketing do Wal-Mart. Então pediu que ele a encontrasse no Girls' Lounge.

"Havia mulheres de robe e cabelos enrolados com toalhas", relembra Gail, vice-presidente de mídia e engajamento digital da Univeler North America, rindo. "Stephen e eu fomos para o terraço e tivemos um encontro de uma hora muito produtivo."

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Quinn, que recentemente se aposentou do Wal-Mart, escreveu em um e-mail que o encontro ensinou a ele algo importante sobre como as mulheres devem se sentir quando estão cercadas por homens. "Foi um pouco desconfortável para mim", afirmou. "Eu claramente não pertencia àquele local e tive a sensação clara de que havia vários olhos fixos em mim. A voz na minha cabeça dizia: 'O que ele está fazendo aqui?' Provavelmente não era verdade, mas era o que vinha a minha mente."

"Também era barulhento. Muito barulhento. Todo mundo falando, muitas risadas, secadores de cabelo, música. Foi interessante ver como as mulheres se comportam quando estão umas com as outras sem homens por perto." Gail, disse ele, foi "muito gentil, como sempre".

Shelley, que é casada com um cirurgião e tem três filhos crescidos, é originalmente pesquisadora de mídia qualitativa. Em 2000, depois de um início de carreira na Nielsen, fundou uma companhia de pesquisa chamada Online Testing Exchange para descobrir os interesses dos consumidores em trailers de filmes programados e anúncios de TV de 30 segundos. Em pouco tempo, todos os estúdios importantes se tornaram seus clientes e suas descobertas estavam influenciando a alocação de bilhões de dólares em dinheiro de marketing de filmes.

"Vários homens levam o crédito, mas fui eu que vi o potencial da internet para esse tipo de teste. O negócio do cinema está na internet por minha causa."

Ela vendeu a OTX para uma empresa francesa em 2010 por cerca de US$80 milhões. Desde então, por suas contas, gastou US$1 milhão no Girls´ Lounge e esforços relacionados e conseguiu cerca de US$3 milhões de patrocinadores.

Shelley, de costas, no evento Forbes 30 Under 30. "A abordagem dela é muito colorida, mas há pesquisas que comprovam o que ela está fazendo", diz Nancy Rothbard, professora da Wharton School. "Para mulheres terem sucesso no trabalho, pesquisas apontam que é preciso mostrar competência e ser calorosa" Foto: NYT

Enquanto o negócio crescia, conseguindo parceiros que incluíam a Visa e o Google (e, em alguns eventos, o New York Times), também aumentava a ambição de Shelley. No começo, ela diz, estava apenas interessada no "poder do grupo": fazer com que as mulheres não se sentissem tanto em minoria em eventos de negócios cheios de homens. (Havia cinco vezes mais homens do que mulheres em Davos.) Então, ela percebeu que as frequentadoras do Girls´ Lounge estavam tendo conversas importantes sobre sexismo no trabalho e como combatê-lo.

O Girls' Lounge também tem seus detratores. Apesar de evitarem criticar outra mulher, especialmente uma que trabalha por um objetivo admirável, meia dúzia de mulheres com que falei - altas executivas de mídia, uma juíza aposentada, advogadas - disse que acreditavam que Shelley estava atrapalhando as profissionais por usar a "palavra com G". "Uma garota é juvenil, alguém que ainda não está pronta, e lutei toda a minha carreira para evitar ser percebida como alguém assim", afirmou uma executiva da Warner Bros.

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Entre outros comentários: "Soa como um banheiro"; "Tudo o que nos separa dos homens é prejudicial"; "Eu gosto da minha feminilidade - uso vestidos para trabalhar, faço compras em viagens de negócios - mas se disser aos meus colegas que vou para o Girls' Lounge, isso só reforçará na cabeça deles que não sou tão boa quando eles."

Mesmo várias das apoiadoras de Shelley dizem que precisaram se acostumar com o Girls´ Lounge. "É um nome improvável para o que realmente acontece lá", afirma Joanna Barsh, diretora emérita da McKinsey & Co. "Shelley não está fazendo a diferença porque é tímida. Ela não tem vergonha. É uma força da natureza - tem uma energia extraordinária."

Shelley, que às vezes se descreve como "encrenqueira chefe", sabe que ofende algumas pessoas por usar a palavra "garotas" para descrever mulheres adultas, especialmente as de negócio. E não liga.

"Na verdade, muitas de nós nunca tivemos amigas nos negócios porque sempre estivemos sozinhas. É o chamado clube dos meninos. Por que não podemos ter um Girls' Lounge?"

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