Jovens dizem não às calcinhas pequenas

Empreendedoras americanas criam grifes que focam em lingeries 'da vovó', maiores e mais confortáveis

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Por Hayley Phelan
Atualização:
Novo feminismo: Julia Baylis e Mayan Toledano, da marca Me and You. Foto: Isak Tiner / The New York Times

Uma jovem geração de mulheres está descobrindo um novo estilo de lingerie sexy no lugar mais improvável: as gavetas das suas vovós. ‘Quando entrava em uma loja sempre perguntava onde ficavam as calcinhas grandes e largas’, diz Daphne Javitch, 35 anos, criadora da marca Ten Undies, que compreende vários modelos como tangas de algodão, calcinhas estilo shorts de menino e calcinhas de cintura alta, bem parecidas com aquelas usadas por Renée Zellweger no filme “O Diário de Bridget Jones”. 

Greer Simpkins, da Hello Beautiful, aposta em calcinhas básicas e de cintura alta, bem diferentes das encontradas na Victoria's Secret Foto: Ryan Conaty/The New York Times

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Segundo pesquisa da NPD Group, as vendas de calcinhas pequenas e fio dental caíram 7% no ano passado, ao passo em que peças mais amplas aumentaram no geral 17%. “Entre as consumidoras jovens, hoje é cool usar calcinhas maiores”, afirma Bernadette Kissane, analista da consultoria Euromonitor. Para Erica Russo, diretora de moda da área de acessórios, cosméticos e roupa íntima do magazine Bloomingdale’s, de fato, está se observando uma mudança neste segmento. Talvez motivadas pela busca do conforto e da praticidade, que contribuiu também para o sucesso das sandálias Birkenstock e das pochetes, as mulheres agora estão preferindo lingeries grandes. 

“Só uso esse tipo de peça”, diz a empresária Julia Baylis, de 22 anos. Ela e sua melhor amiga, Mayan Toledano, 27 anos, são donas da marca Me and You e a peça mais vendida é uma calcinha de algodão branca com a palavra “Feminist” impressa em letras cor de rosa na parte de trás. Desde o lançamento da linha, em abril, o produto está esgotado. Além das vendas, as calcinhas inspiraram clientes da marca a postarem selfies de costas no Instagram. Julia e Mayan fazem parte do Ardorous, um grupo criativo composto só por mulheres que explora temas femininos do ponto de vista das jovens nascidas entre os anos 80 e 90, a chamada geração Y, por meio de projetos de arte colaborativos ou individuais. 

Calcinha alta da marca americana Ten Undies Foto: Gus Powell/NYT

Para essa geração, que tem como ícones feministas Beyoncé e Lena Dunham, a sexualidade feminina é usada para o próprio prazer da pessoa. “A lingerie à venda nas lojas em grande parte é criada para atrair os homens, mas não focamos nisso”, diz Mayan. “Para nós, a roupa íntima tem que agradar a quem a veste. Sexy é sentir-se natural e confortável.” Por isso mesmo, muitos homens também aprovam a moda da calcinha da vovó. “Existe uma ideia equivocada de que eles se empolgam apenas com tangas de pérola e itens de renda”, acredita Javitch, da Ten Undies. “Para ser honesta, muitos preferem garotas com camisetas e lingerie branca”. 

Enquanto grandes grifes de lingerie demoram a entender esse novo conceito, as pequenas empresas se tornam cada vez mais capacitadas para preencher o vazio observado no mercado. Quando Greer Simpkins, 28 anos, começou uma pesquisa com o fim de criar sua própria linha de lingerie, visitou uma loja da Victoria´s Secret em Nova York para saber como as mulheres compravam roupas íntimas. “Observei que muitas vinham com a amiga e perguntavam: ‘Você gosta disto? Acha que ele vai gostar?’”, conta. “Elas pensavam em todo mundo, menos nelas.” A empreendedora também estava frustrada com tantas tendências, cores e frufrus das peças. “Queria algo básico para o dia a dia, que fizesse com que me sentisse bem.”

A empresária Daphne Javitch, da Ten Undies Foto: Isak Tiner/The New York Times

Com essa ideia em mente, Greer lançou em dezembro uma linha de lingerie com um único design: uma calcinha de algodão branca com corte alto e estreito. O nome, Hello Beautiful, era uma espécie de afirmação. Entre suas fãs, está a atriz Chloë Sevigny, espécie de juíza de tudo o que é cool na moda hoje. Lingeries maiores são uma alternativa bem-vinda para Myla Dalbezio, que usa tamanho 44. “O estilo de corte e a cintura alta remontam a uma época em que modelos de corpo diferentes estavam na moda”, diz. “A maior variedade de ofertas é um sinal de que o setor de lingerie começa a reconhecer que não existe um corpo ideal, mas muitos”. 

No final, a tendência da calcinha da vovó tem a ver com opções. “Mas não há nada de errado em querer ser mais tradicionalmente sexy e usar uma tanga; isso não quer dizer que você não é feminista”, diz Toledano. “É um passo na aceitação de uma maior variedade do que é oferecido”.

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Tradução de Terezinha Martino 

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