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Fórum discute estratégias para estimular o varejo de moda no Brasil

Com a desaceleração da economia, empresas apostam em novos canais de venda e tecnologia para se aproximar do consumidor

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:
Cerca de 280 pessoas estiveram presentes no 2º Fórum Negócios da Moda, que ocorreu na última terça, 2, em São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

O Brasil vive um teste de competitividade no varejo de moda. Diante de um cenário de desaceleração econômica, perda do poder de compra e aperto de crédito, empresas do setor têm o desafio de buscar um diferencial competitivo, apostar em novos canais de venda e se aproximar cada vez mais do consumidor. Estratégias para a inovação foram discutidas por grandes nomes da moda nacional na segunda edição do Fórum Negócios da Moda, promovido pelo Grupo Estado em parceria com a Federação de Comércio de São Paulo.

Quarto maior em confecção e quinto na área têxtil, o Brasil faturou R$ 55 bilhões com o setor de moda no ano passado. Além de driblar gargalos como a pesada carga tributária, os entraves logísticos e a informalidade, a indústria e o varejo de moda precisam, segundo especialistas, sair da zona de conforto para atrair o consumidor.

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“Há alguns anos, quando o País estava crescendo, quem era mais ou menos bom sobrevivia”, afirma José Galló, presidente da Renner. “Hoje, quem não tiver um diferencial competitivo vai ficar pelo caminho. Isso se agrava porque o comércio é o primeiro a sofrer com restrição de crédito.” Para o executivo, a solução está no planejamento empresarial mais minucioso e, sobretudo, na identificação precisa do que o cliente realmente deseja. “O velho varejo - constituído por aquelas lojas de departamento gigantes - tenta adivinhar o que o consumidor quer. O novo varejo sabe dar ao consumidor o que ele quer.”

Equalizar custo, qualidade e eficiência, porém, não é uma tarefa fácil. Para Paulo Borges, diretor de criação da São Paulo Fashion Week, resolver essa equação é fundamental para que o País encontre seu lugar no cenário internacional. “A gente não pode competir com mercados como China e Índia e nem vai ter alto design como Itália e França. Precisamos ocupar um espaço de mercado intermediário”, destacou. 

Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), defende que o varejo deve sim arrumar a própria casa, mas de olho no exterior. “Temos de usar a alavanca do mercado interno e toda essa capacidade de design, inovação e criatividade que temos na base industrial para darmos passos mais ousados e mais distantes, seja por parte da indústria ou do varejo.” Ele afirmou que a instituição, além de pressionar o Congresso por melhorias locais em relação a questões como carga tributária e leis trabalhistas, pleiteia um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, ainda que este não esteja por ora na agenda do governo. “O País se isolou do mundo e ficou apenas com o Mercosul”, afirmou.

Presença online

Na contramão de boa parte do mercado, o varejo eletrônico cresce em ritmo acelerado. Para especialistas, não há saída: é preciso integrar o comércio físico e o virtual para atrair e fidelizar clientes. “O consumidor quer que a empresa o atenda em todos os canais”, afirmou Pedro Guasti, presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP e fundador do e-Bit.

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Os números são animadores. A categoria moda e acessórios é líder no e-commerce brasileiro, tendo abocanhado 13% do volume de vendas de janeiro a abril deste ano. Em faturamento, representou 5,87% no período. “Na contramão da economia geral, vemos o comércio digital crescendo”, disse Ana Isabel de Carvalho Pinto, diretora do e-commerce Shop2gether. 

“Na contramão da economia geral, vemos o comércio digital crescendo.' Ana Isabel de Carvalho Pinto

Alexandre Birman, presidente do grupo Arezzo, afirmou que a empresa tem focado em ser multimarca, para aumentar sua capilaridade, e multicanal, para se aproximar do consumidor. Durante o fórum, o executivo ainda anunciou duas novidades: o e-commerce da Arezzo, que será lançado em agosto, e o aplicativo de vendas da Schutz, já disponível para download.

Referência na moda nacional, Costanza Pascolato afirmou que a tecnologia não pode ser ignorada pelo setor. “Eu, que vim de uma formação diferente, de uma época de revistas e indústrias, percebi que o celular foi uma revolução”, disse. “A velocidade da informação hoje é muito grande. Essa rapidez que não conseguimos calcular me interessa muito - e devemos saber o que fazer com ela.”

O uso de tecnologia, porém, não deve ser incorporado apenas aos canais de venda, mas no próprio processo de criação da marca, o que pode impulsionar sua competitividade. “A Dior, por exemplo, desenvolveu uma coleção inteira em softwares 3D, que facilitam o trabalho de modelagem”, exemplificou Adriana Papavero, diretora da Lectra na América do Sul. “A Louis Vuitton possui uma máquina de corte de couro supertecnológica, que minimiza o desperdício e torna a produção mais sustentável.”

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O dilema do fast fashion

Nos últimos anos, o mundo todo viu a explosão das redes fast fashion: varejistas que buscam assimilar as tendências das passarelas e oferecê-las em produtos com preços mais acessíveis. O malabarismo para equilibrar informação de moda, qualidade e preço, porém, levou muitos a criticar o modelo, alegando apelo excessivo ao consumo e baixa qualidade das peças.

“Como todo novo negócio, há sempre dois lados”, afirmou o estilista Alexandre Hertchcovitch. “Um é o da experimentação, o acesso a tendências, que o fast fashion divulga muito bem. Por outro, há a questão de duração e qualidade das roupas. Vamos passar por um momento de equilíbrio: o consumidor está percebendo que é interessante comprar em lojas fast fashion, mas que também é bom investir em uma peça com um design que cai bem no corpo, feita com qualidade e que durará a vida toda.”

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Para Letícia Abraham, diretora executiva do portal WGSN, o boom do conceito de moda rápida traz uma uma reflexão não só apenas sobre o volume de consumo, mas sobre os processos de produção. “Quando o consumo é exagerado, há uma overdose. Agora, à medida que você tem o acesso a produtos com informação de moda sabendo respeitar e ter consciência da cadeia produtiva de cada um desses varejistas, eu acho que é bom para todo mundo.”

PONTO A PONTO

Em alta
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Informalidade. O mercado informal gera grande concorrência ao varejo de moda brasileiro, já impactado pela alta carga tributária, que reduz a competitividade. Atualmente, cerca de 40% das peças de roupa vendidas no País não possuem nota fiscal. “Ninguém é produtivo sendo informal”, afirma Galló

Logística. Entraves logísticos de estoque e distribuição de produtos não são restritos ao tradicional varejo físico, mas também desafiam o comércio online, em ascensão no País. Do total de compras de itens de moda e acessórios pela internet, 6% acabam em troca e 1%, em devolução - operações que chegam a custar quatro vezes mais do que o valor da entrega. "É um problema que tem de ser enfrentado", diz Guasti

Custos de produção. Além de contribuir na área de inovação, o uso de tecnologia também pode ser um aliado na economia de materiais, com ferramentas que reduzem o desperdício (no corte, por exemplo). Especialistas citaram desde os europeus, com máquinas rebuscadas de 3D, aos asiáticos, que absorveram o expertise de produção e levaram para o design, podendo agregar valor e elevar seus preços

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