Entrevista: a dona da moda no Recife

"Por que o nordeste não pode ter algo inovador ? Eu sou nordestina e é lá que faço meu trabalho", diz Juliana Santos, empresária que domina o mercado de luxo na região

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
A empresária Juliana Santos, dona da multimarcas Dona Santa Foto: divulgação

Juliana Santos é a precursora da moda internacional no nordeste. Desde 2004, a empresária apresenta na loja Dona Santa, no bairro de Boa Viagem, no Recife, um mix de grifes que vai da francesa Chloé à exclusivíssima MSGM, marca italiana que desponta no calendário internacional.

Dona de um olhar apurado, Juliana tem clientes antenados e representa o novo momento do mercado de luxo na região. A capital de Pernambuco entrou no radar de grandes grifes, a exemplo de Burberry e Prada, que estão abrindo lojas próprias no Shopping Beira Mar, o maior da cidade. Muito antes disso, a multimarcas Dona Santa já funcionava como termômetro do consumo de luxo local. Na loja de 1.800 m2, os consumidores podem conferir algumas novidades em primeira mão no Brasil ainda e ainda contam com serviços de cabeleireiro e restaurante. 

A multimarcas pernambucana Dona Santa Foto: divulgação

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Juliana é avessa à proliferação de tendências e destaca-se ao focar na busca por marcas pouco conhecidas do grande público. Na entrevista abaixo, a empresária, que já é figurinha conhecida nas semanas de moda mundo afora, fala sobre o luxo no nordeste e conta como funciona seu negócio.

Como você define a consumidora de moda do Recife? A pernambucana é muito cosmopolita. Apesar de Recife ser uma cidade de praia, a mulher só se veste como carioca no fim de semana. De segunda a sexta, ela é paulista e, para festas, ela é mineira. Ninguém vai direto da praia para o shopping. As mulheres gostam de se arrumar! 

Foi nesse contexto que a Dona Santa surgiu? A Dona Santa começou com a minha mãe em 1995. Na época, queríamos uma loja de moda que representasse a cultura local. Foi no Instituto Joaquim Nabuco que encontramos o nome Dona Santa, rainha do Maracatu Elefante, uma senhora que passava o ano inteiro juntando dinheiro para desfilar no carnaval toda enfeitada. Minha mãe achou a história fascinante e decidimos que esse seria o nome. Iniciamos com moda feminina nacional, mas logo expandimos para os segmentos masculino, infantil e de importados. 

A empresária na última semana de moda de Milão Foto: divulgação

Como você faz a curadoria de marcas e produtos que entram na loja? Em primeiro lugar, preciso olhar para o comportamento da região e entender o que as pessoas compram. Muitas vezes escolho peças que eu não usaria, mas que as mulheres querem e gostam de vestir. Em segundo, vem o olhar da Dona Santa, de propor coisas novas, trazer informação de moda e fazer essa interseção. 2

E as grifes internacionais? Como escolhe? Procuro sempre trabalhar com novos estilistas e surpreender. Já trabalhamos com tantas marcas, desde nomes reconhecidos como Balmain e Prada, até grifes de vanguarda como Chloé e Charlotte Olympia. Mudamos o mix constantemente. Eu gosto de propor novidades, como a marca italiana MSGM, que chega no segundo semestre. Já tivemos cases de estilistas desconhecidos que se esgotaram na loja em poucos dias. O nosso cliente busca por peças que ninguém tem. 

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Você não acha que poderia exportar seu modelo de negócio para o eixo Rio-São Paulo? Eu realmente tenho orgulho de dizer que a Dona Santa poderia existir em diferentes cidades. Sempre me perguntam porque eu não abro em São Paulo, mas aí eu pergunto o contrário: por que o nordeste não pode ter algo inovador de relevância? Por que tudo precisa ser no sudeste? Eu sou nordestina, é lá que faço meu trabalho. Eu fico muito feliz de saber que podemos ter algo novo vindo da minha cidade e inspirar as demais capitais do país. 

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