Em Nova York, o verão é em preto e branco

Na semana de moda que abriu a temporada internacional de desfiles, o duo clássico ditou o tom não apenas das roupas, mas também da atitude comedida e segura dos estilistas

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Por Giovana Romani e de Nova York
Atualização:
Kendall Jenner no desfile de Riccardo Tisci para aGivenchy, que ocorreu em 11 de setembro e teve direção artística de Marina Abramovic Foto: AP Photo/Bebeto Matthews, File

O desfile mais arrebatador da semana de moda de Nova York, que terminou na última quinta, 17, teve apenas looks pretos e brancos (e suas variações, do off white ao creme). Era 11 de setembro. Era a estreia do estilista Riccardo Tisci, da Givenchy, acostumado a apresentar suas coleções em Paris, na fashion week americana. Era a celebração de seus dez anos à frente da grife e ainda uma performance sobre amor e tolerância concebida pela artista Marina Abramovic, em um cenário feito de materiais reciclados em um píer sobre o Rio Hudson com vista para o novo prédio do Wolrd Trade Center. Estavam lá Julia Roberts, Kanye West, Kim Kardashian e Pedro Almodóvar.

Ao som de cânticos de seis diferentes religiões executados ao vivo, a primeira modelo entrou na passarela vestindo um top branco de cetim de seda combinado a calça ampla preta. Vestidos de renda, peças de alfaiataria soltas e longos de alta costura trabalhados artesanalmente vieram na sequência provando que as roupas, ali, eram as estrelas. “Foi um show emocionante e achei bonito reconhecer em looks novos as várias fases de Tisci na Givenchy”, diz Mariana di Pilla, editora de moda da revista Marie Claire. 

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Muito além da atmosfera grandiosa e das celebridades, está aí o grande trunfo do designer: reinventar-se sem perder a essência que garante o sucesso comercial da marca, no caso, a união da transgressão com a sofisticação. Em um momento de economia instável e crise mundial, na moda, destaca-se quem aposta no preto e branco. Não apenas na cor das peças - já que o duo é um clássico desde sempre -, mas também na forma de conduzir o negócio. Arriscar demais parece fora de questão. Para os grandes designers é tempo de entender os desejos dos consumidores e manter-se fiel ao que sabem fazer melhor.

Michael Kors mostrou como cumprir tal missão ao se valer de duas tendências opostas da temporada: o minimalismo cool meio grunge anos 90 e a estética sofisticada e ultrafeminina. Foi no mínimo curioso ver na mesma passarela, montada em um estúdio cheio de janelões de vidro no Soho, uma modelo usando terno preto molenga e rasteiras de couro ao lado de outra com saia lady like estruturada e top cropped. “Ele foi esperto, pois conseguiu agradar tanto a uptown girl, que vai a festas chiques e jantares, quanto à garota de downtown, mais descolada”, diz Renata Piza, redatora-chefe da revista Elle.

A mulher cool encontra também uma nova forma de se vestir na proposta do brasileiro Francisco Costa, da Calvin Klein, que trouxe um olhar fresco à essência minimal da grife. Sua coleção é pautada nos slip dresses (aqueles vestidos lânguidos de seda e alcinha, que lembram camisolas), um clássico popularizado no desfile de verão 1994 da Calvin Klein. O modelo apareceu em diversos outros momentos na NYFW. Mas nenhum tão contemporâneo quanto o de Costa, que, além de seda, mostrou slip dresses de couro e até paetês, em um exercício incansável de modelagem. Ponto também para os tênis de borracha e tecido, que deixaram a imagem de moda do desfile ainda mais atual. 

Já as senhoras de fino trato, que preferem peças que modelam o corpo, podem respirar aliviadas: Carolina Herrera e Oscar de la Renta continuam fieis ao seu DNA elegante. Inspirado pelas touradas espanholas, Peter Copping, em sua segunda coleção para a Oscar de La Renta, aliou o preto e o branco ao vermelho-carne e mostrou-se capaz de dar um toque casual ao mais glamouroso dos looks.

Conquistar não apenas as clientes abastadas fieis, mas ainda suas filhas, parece ser também o objetivo de Carolina Herrera. Em clima intimista, no jardim do museu The Frick Collection, no Upper East Side, com Penélope Cruz na plateia, o desfile da estilista venezuelana foi aberto por Lily Aldridge, supermodelo da geração Instagram. Ela surgiu de vestido branco feito com tiras de tecido aplicadas sobre uma tela de tule transparente, criando um efeito sexy, jovem e chique. 

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Para as mulheres do meio termo (será que podemos chamá-las de midtown women?), Diane von Furstenberg e Tory Burch permanecem ali, apresentando seu melhor, sempre prontas para oferecer um vestido fluido curinga, um conjunto de short e top certeiro, um caftã despojado… Se alguém arriscou? Marc Jacobs, claro. Sempre no limiar entre o cool e o decadente, o estilista armou um espetáculo no Ziegfeld Theatre, famoso cinema da rua 54, para mostrar sua coleção colorida e brilhante, com inspiração nos filmes e na cultura pop dos anos 40 aos 90 e muitas autorreferências. Como era de se esperar.

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