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Cresce oferta de produtos de beleza 100% naturais

Cosméticos feitos com óleos vegetais, frutas, ervas e outros elementos que vêm da terra ganham status de luxo

Por Mary Macvean
Atualização:
Sara BuschoMarina Stormdãoworkshop sobre como usar plantas medicinais e ervas para criar produtos de beleza naturais Foto: Genaro Molina / Los Angeles Times

Pode reparar: muitas embalagens de alimentos hoje em dia explicam exatamente como as maçãs do suco foram colhidos ou de que maneira as vacas que deram o leite foram criadas. Pois esse cuidado extremo chega agora também ao universo da beleza: as pessoas estão se tornando tão cuidadosas com o que passam no rosto quanto com o que ingerem e investem alto em produtos que vêm da terra ou do mar.

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"Há quatro anos, a ideia de que os produtos de beleza naturais não funcionavam era predominante", afirma Romain Gaillard, um dos proprietários do Detox Market, empresa de cosméticos de Los Angeles. "A situação mudou completamente e o mercado de luxo se voltou para esse segmento”. O clichê do natureba ficou para trás e, hoje, grande parte das embalagens evoca o luxo associado ao produto." O desenho de plantas e belos pássaros nos rótulos da marca Osmia Organics, por exemplo, não se assemelha em nada às embalagens artesanais de poções e barras de outrora.

Entretanto, o fundamental aqui são os ingredientes. A M. Café, uma cadeia americana popular de comida macrobiótica, criou sua própria linha de esmaltes, feitos a partir de ingredientes encontrados em nossa alimentação, como sal, óleo de cártamo, girassol, vitamina e gerânio.“Você deveria poder comer o que usa para a pele”, diz Hugo Saavedra, que comanda ao lado da mulher Debra, a Saavy Natural. Vegano e sem glúten, o sabonete de manga e papaia fabricado por eles, por exemplo, contém jojoba, óleos de amêndoa e pó de beterraba em sua fórmula.

“Não se trata apenas de uma onda. Cada vez mais as pessoas buscam opções saudáveis para cuidar da alimentação e do corpo”, afirma Paula Weiser-Vázquez, proprietária da Beautyhabit, uma drogaria especializada da Califórnia.Embora alguns itens encontrados em farmácias sejam vendidos como naturais,eles passam longe da nova tendência.Isso porque o termo não tem uma definição regulamentada e muitos desses produtos vêm de indústrias cosméticas tradicionais.Segundo Paula, custa mais extrair a essência das pétalas de rosa, por exemplo, do que criar o perfume de rosas em um laboratório. Assim como ocorre no caso dos produtos alimentícios, os consumidores precisam ficar espertos. O próprio termo orgânico (que é regulamentado) exige atenção. “Ele não significa que os ingredientes foram escolhidos pelo motivo certo e para maior eficácia”, afirma a médica Sarah Villafranco, que passou dez anos atendendo em prontos socorros antes de abandonar a profissão para lançar a Osmia Organics, em 2012. 

Vários especialistas dão um conselhos que ouvimos frequentemente a respeito de alimentos: cuidado quando a lista de ingredientes contém nomes que você não consegue pronunciar. O site de Villafranco indica os itens que devem ser evitados (e evidentemente não estão em seus produtos), inclusive fragrâncias sintéticas e parabenos, considerados um perigo para a saúde do ser humano em razão dos seus efeitos colaterais potenciais sobre o sistema endócrino, e ingredientes à base de petróleo, que bloqueiam os poros. "Fora que reduzir a dependência do setor petrolífero seria muito bom para o planeta”, diz a médica.

Os consumidores parecem motivados pelo desejo de apoiar o conceito “da fazenda para o rosto” e pela convicção de que produtos puros são mais saudáveis e têm menor probabilidade de causar problemas. "Esses produtos naturais representaram cerca de 17% dos US$ 3 bilhões em vendas de produtos de “prestígio” para o cuidado da pele em 2014", afirma Karen Grant, analista da indústria global para produtos de beleza da empresa de pesquisa de mercado NPD. Isso sem levar em conta os produtos de butiques, drogarias e outros pontos de vendas. Segundo a Transparency Market Research, o mercado global de produtos orgânicos chegou perto dos US$ 7 bilhões em 2011 e é um setor em pleno crescimento. De acordo com Rachel Berks, proprietária da loja Echo Park Otherwild, o interesse por ervas como matéria-prima de produtos tem aumentado.Cerca de vinte pessoas costumam se reunir na loja para aprender a manipular um bálsamo para os lábios e para a pele e um esfoliante com ingredientes que poderiam comer - mas é claro que ninguém ousa fazer isso. Para desenvolver o bálsamo, por exemplo, usa-se cera de abelha em estado bruto, não filtrada, derretida e misturada a confrei e calêndula. Cada um dos alunos acrescenta ainda essências como gerânio ou óleo essencial de sálvia.

"Há séculos as plantas são usadas para curar e muitas pessoas estão voltando a ter essa prática", diz Sarah Buscho, que, com Marina Storm, fundou a companhia dermatológica Earth Tu Face, de São Francisco. "Às vezes, vamos visitar alguns amigos que nos servem uma boa comida orgânica, mas quando vamos ao banheiro da casa, encontramos um monte de produtos químicos", diz Storm. Segundo ela, uma mulher usa, em média, doze produtos por dia com mais de 200 ingredientes químicos na fórmula. Mas isso está mudando.Buscho e Storm cultivam ervas e flores , fazem infusões e testam óleos para criar seus produtos para a pele e o rosto. Já a Fiore, uma empresa de São Francisco, utiliza, além de óleos orgânicos certificados e infusões, óleo de sementes de uva prensadas a frio depois de verificar que não contém organismos geneticamente modificados. Os produtos de feitos em pequenas quantidades, à mão, com raízes, folhas, flores, minerais e óleos,

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Gaillard Grandury e sua parceira, Valérie, criaram em 2009 a Odacite, uma linha de produtos para a pele naturais e sem fragrância, quando o médico diagnosticou que ela tinha câncer de mama. "Agora, os clientes nos procuram frequentemente quando encaram algum tipo de reação aos produtos convencionais", diz ele. “Alergias e problemas assim não pareciam ser tão predominantes há alguns anos", complementa Debra Saavedra, cujos produtos Saavy devem chegar às lojas já neste início de ano. “É por isso que as pessoas estão voltando para a natureza e buscando esses ingredientes.” Hall Newbegin inaugurou sua loja, a Juniper Ridge, há 15 anos, na esperança de vender os perfumes dos montes Cascades ou da Sierra. “Eu era apenas um andarilho que vendia essas coisas a estudantes no mercado dos produtores rurais de Berkeley”, diz Newbegin, que é originário do norte de São Francisco.Ele ainda acha necessário explicar que os seus produtos - à base de ingredientes encontrados nas matas - diferem dos perfumes tradicionais. “O que está no balcão dos perfumes da lojas de departamento não tem nada a ver com o que era o perfume de 2000 anos atrás até os anos 60. Antes, simplesmente, colocava-se a natureza em um recipiente."

O bê-á-bá dos ingredientes naturais

Aloe vera, lavanda e manteiga de cacau são elementos comumente encontrados em produtos convencionais para a pele e para o cabelo.Rosemary Gladstar, autora do livro Herbs for Natural Beauty, explica de onde eles vêm e quais são os seus usos. 

Aloe vera: o suco das folhas da planta é eficaz contra queimaduras ou como hidratante.

Óleo de argan: o óleo, extraído das nozes da árvore de argan, tornou-se recentemente popular como um produto quase milagroso. Ele é usado como condicionador e para tratamento próprio para rosto, cabelo e unhas.

Borato de sódio: o mineral é usado como limpador e para retirar o cálcio da água.

Calêndula: as flores, amarelas e secas, são usadas em preparados para cicatrizar a pele, como bálsamo para os lábios e para dar brilho a cabelos loiros e ruivos. Como age delicadamente, é usada em produtos dermatológicos infantis.

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Óleo de espinheiro amarelo: laranja brilhante, é o produto prensado das bagas da planta. É rico em ácidos graxos essenciais, caroteno e outros nutrientes para a pele.

Argila branca: por ser mais suave (feita de óxido de alumínio e de óxido de zinco), compõe cosméticos, máscaras e sais de banho.

Faça você mesmo

Ficou curioso para testar a ideia de usar ingredientes de sua horta ou cozinha para cuidar do cabelo e da pele? Há vários livros sobre o tema. Entre eles, Homemade Beauty, de Annie Strole, que traz 150 receitas com ingredientes naturais para fazer em casa. Confira duas delas:

Desodorante condicionadorO desodorante feito em casa suaviza e hidrata, evitando odores desagradáveis.

Em uma tigela, misture 2 colheres de sopa de óleo de coco não refinado, 2 colheres de sopa de manteiga de caritê, 1/4 de xícara de fermento e 1/4 de xícara de araruta ou amido de milho. Guarde o creme numa pequena embalagem a vácuo. Para usá-lo, passe uma pequena quantidade sobre a axila limpa e seca. 

Tratamento para o couro cabeludoA receita ajuda a combater a caspa e pode ser usada em todos os tupos de cabelo.

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Você vai precisar de quatro colheres de sopa de óleo de coco virgem. Se estiver solidificado, derreta-o durante 15 segundos no micro-ondas ou em uma pequena frigideira em fogo baixo. Acrescente 20 gotas de óleo essencial de chá até misturar totalmente. Aplique a mistura no couro cabeludo (com o cabelo seco) e massageie por um ou 2 minutos. Deixe por pelo menos duas horas. Se desejar, cubra o cabelo com uma touca plástica e deixe noite toda.Para retirar, lave bem com xampu até que o óleo saia completamente e finalize com um condicionador.

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