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Com o fim de 'Mad Men', a carreira da figurinista da série está apenas começando

Janie Bryant, a responsável pelos trajes dos anos 60 mais famosos da TV, já lançou linhas de roupas e sapatos e quer tornar seu nome um símbolo de lifestyle

Por Alexandra Jacobs
Atualização:
Em Mad Men, a evolução dos personagens também é mostrada por meio das roupas, mérito da figurinista Janie Bryant 

Janie Bryant, a figurinista de “Mad Men”, está parada em uma área restrita no segundo andar do departamento de calçados do magazine Nordstrom, no distrito de Paramus, em Nova Jersey, em uma tarde de quinta-feira. Ela veste blusa vermelha e saia justa e segura um microfone. “Olá, pessoal!”, diz, sobrepondo a voz à barulheira do local.

Uma multidão formada principalmente por mulheres aplaude e responde à saudação. “Eu sempre a admirei”, afirma uma delas, a designer de interiores Stephanie Macari. Janie fala com entusiasmo a fim de promover sua nova linha para a marca Shoes of Prey, uma empresa australiana de calçados. “Reparem que lindas essas cores vivas”, diz, apontando para os sete modelos de sapatos inspirados na era que se tornou, para o bem ou para o mal, seu cartão de visita: os anos 1960. 

A figurinista Janie Bryant posa em Los Angeles com seus dois poodles gigantes 

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“Mad Men” seguramente fez de Janie Bryant o nome mais conhecido na profissão desde Edith Head (ganhadora de oito Oscars de melhor figurino). Veterana de 20 anos no show business, Janie está reformulando suas ambições. “Quero ser uma marca de estilo de vida”, afirma, enquanto dirige sua Mercedes branca a caminho da sede da Black Halo, em Los Angeles, outra das muitas empresas com as quais têm negócios. “Sou obcecada por roupa de cama, porcelana, prataria, entretenimento, lar...”, conta. “Enxoval, lingerie, roupa de dormir.”

Bryant é “obcecada” também por broches de strass, por perfume, pela cor vermelha; pelos azulejos de porcelana de uma amiga e pelo Emmy conquistado pelo figurino de outra série, “Deadwood”, da HBO (ela foi indicada sete vezes, quatro por Mad Men). O troféu fica no saguão da casa que ela divide com o marido, Peter Yozell - um empresário do ramo musical que viajou com a cantora Lorde -, e os dois poodles gigantes do casal, Lucie e Prince Valiant. “Durante algum tempo, fiquei totalmente obcecada por colecionar peças de pele”, afirma ela, apontando para um nicho no alto de seu closet repleto delas. Mais tarde, examinando um tecido estampado usado em um dos 19 vestidos e macacões que desenhou para a Black Halo, ela exclama, “Sou absolutamente obcecada por este motivo floral!”

A atriz Jessica Paré na sétima - e última - temporada, com um pé nos anos 70 

Apesar de tanta obsessão, a figurinista ainda está reservando suas expectativas para outro modelo da linha: um curto azul claro com mangas dramaticamente bufantes. “Eu queria fazer alguma coisa super editorial”, conta. “Eu quero Vogue. É o que eu quero.” Anna Wintour pode ainda não estar batendo à sua porta, mas ninguém envolvido em “Mad Men” alavancou o programa com tantos projetos ligados à marca. O currículo da figurinista agora inclui Banana Republic, Brooks Brothers, eBay, mobiliário Eko, joias Hearts on Fire, Mack Weldon (roupas íntimas masculinas), Maidenform (roupas íntimas femininas), QVC e até a Sony.

Janie agora assina também os uniformes da equipe do Hotel Watergate, em Washington, que deve reabrir em junho após uma reforma que custou US$ 125 milhões. Em sua cozinha branca com espelhos fumê, ela mostra o esboço de um terno de três peças de tecido quadriculado, a roupa do bartender, que a imprensa já aponta como muito semelhantes aos dos personagens de “Mad Men”. Mesmo quando os enredos do programa esmoreciam, ou os críticos discutiam sobre as habilidades interpretativas da atriz January Jones, as escolhas da figurinista, feitas com a ajuda de um time de dez pessoas, raramente foram mal recebidas nas redes sociais, em que são analisadas com um fervor não visto desde os looks criados por Patricia Fields para Sarah Jessica Parker em “Sex and the City”.

“Adorei que Megan usou este vestido de novo no episódio da noite passada”, escreveu um dos 69.200 seguidores de Janie no Twitter, sobre a peça azul de mangas de chiffon plissadas, com a qual a atriz Jessica Paré recebeu Don Draper em Los Angeles no começo da sétima temporada. Jessica, que na trama interpreta Megan Draper, a segunda mulher do protagonista, credita a Janie a evolução de sua personagem - “dos simples vestidos tubinho, à armadura reluzente da esposa corporativa, aos jeans com batas, lingerie e roupas de banho”.

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Bem diferente do visual da jovem Sally Draper, vivida por Kiernan Shipka, famosa pelos vestidos com gola Peter Pan a botas de cano longo. “Considero Janie minha mentora”, afirma Kiernan. “Ela é uma pessoa muito sábia. Se estamos falando de estilo ou se estamos falando da vida, ela sempre tem um bom conselho.” A figurinista, aliás, é muito requisitada para dar suas opiniões. Na noite anterior ao lançamento da linha de sapatos, ela foi o destaque de um encontro sobre “Mad Men” na sede do Tumblr em Manhattan. Recentemente, voou para o Texas com a missão de ministrar uma palestra na Universidade Baylor. Também publicou um livro,“The Fashion File”, e está desenvolvendo um reality show.

Os figurinos clássicos e elegantes dos anos 60 alçaram a figurinista de Mad Men ao sucesso 

Katherine Jane Bryant nasceu em Cleveland, Tennessee, um pouco antes do que o Google sugere, embora ela se recuse a dizer quando. “Uma amiga da minha mãe certa vez me disse: ‘A mulher que lhe disser sua idade lhe dirá qualquer coisa’”, explica. É a segunda de quatro filhos e herdeira da Bryant Yarns, empresa fundada por sua avó e comandada por seu pai, já falecido. Sua mãe, Dorothea Chestnutt Bryant, uma agente imobiliária aposentada, foi uma ávida colecionadora de tapetes e móveis orientais. “Minha obsessão quando garotinha era desenhar damas chinesas - eu era obcecada pelos chineses”, conta Janie. “Eu queria até fazer uma operação no olho. Eu era uma criança bem maluquinha.”

Segunda ela, a família era “caótica”. Seus pais se divorciaram quando ela tinha 13 anos, e embora a encorajassem a se graduar em administração, ela pediu transferência da Georgia State University para o American College for the Applied Arts, em Atlanta. Depois de se formar ali em design de moda em 1990, ela se mudou para Paris. Com dificuldade para aprender francês, acabava passando as tardes sentada na Place des Vosges, lendo W. Somerset Maugham e Tennessee Williams.

Quando o pai ameaçou cortar sua mesada, ela fez as malas e voltou para Atlanta, onde arranjou um emprego numa companhia de roupas esportivas hoje extinta, suportando, como a personagem Joan Holloway, um chefe atrevido. “Ele era um porco sexista e racista”, lembra Janie. “E ainda usava roupas terríveis - aquelas calças de moleton brancas com meias brancas e mocassins brancos no maior inverno.”

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Depois, ela seguiu para Nova York, e conseguiu um emprego com um designer chamado John Scher. Mas apenas quando conheceu a figurinista Alexandra Welker numa festa, seus olhos brilharam. Era aquilo que queria fazer.

Após alguns bicos em “Louco de Ciúmes”, de Noah Baumbach, e “A Chave do Sucesso”, com Kevin Spacey, ela foi para Los Angeles e encontrou o sucesso na televisão. Seu sucesso em “Mad Men” lhe rendeu a oportunidade de se reinventar como “Janie” (até 2009, ela aparecia nos créditos como Katherine Jane) e também de desfrutar de prazeres como dançar disco na festa do Giorgio no hotel Standard em Hollywood, ou espairecer na mansão da Playboy, para a qual doou suas carpas quando elas ficaram grandes demais para a lagoa no seu quintal.

Sua única queixa? Ser muito chamada para trabalhos com temas de meados do século passado. “Estou à espera de um período diferente. Barroco francês, romântico”, afirma. Isso se ela continuar nos figurinos, já que tem vontade de seguir os passos de seu ídolo, oestilista Oscar de la Renta (mencionado na 7ª Temporada), e fazer prêt-a-porter e licenciar roupas de cama, louças, óculos e bagagens. “Não posso evitar de ser ligada apenas a roupas de época?”, questiona Janie. “As pessoas querem me ver fazendo aquilo pelo que sou conhecida, mas eu me canso rapidamente das coisas.”

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Tradução de Celso Paciornik

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