Amor na palma da mão

Namoro virtual: especialista aponta que smartphones e internet estão consolidados como alternativa social, mas ressalta cuidados.

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Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

smartphones e internet estão consolidados como alternativa social, Foto: Sebastião Moreira/EFE

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O rapaz era bonito, papo fluía, uma bela voz. Conversa foi, histórias se entrelaçaram e a estudante de Sorocaba Flávia Alves, 21 anos, viu-se “amarrada” a um jovem que conheceu pelo Facebook. Chamava-se Renan e morava no Rio de Janeiro. Trocaram contatos no Skype e mantiveram o diálogo por um mês. A paixão seria certeira, não fosse um pequeno detalhe: o galanteador virtual nunca aceitava conversar pela webcam. O mistério aguçou o interesse da jovem, mas também a desconfiança. Foi descobrir mais tarde que o rapaz era, na verdade, mulher. Um baque para Flávia, que marcava até viagem para encontrá-lo. 

A “armadilha” foi bem planejada. “Renan” imitava voz de homem e sempre mantinha uma desculpa para não aparecer. “O cara me enrolou, até que resolveu ligar a câmera. Para minha surpresa, na verdade ele era ela. Fui sacaneada legal, foi um baque, mas hoje dou risada. Me divertir com a situação foi o que me restou”, contou Flávia.

Escorregou também no encanto das redes sociais a cantora A. C., de 24 anos. Aproximou-se virtualmente de um sujeito que usava como imagem do perfil a foto do cantor Tom Rezende. "Ele ainda era desconhecido na época, eu não fazia ideia", conta. Cautelosa, não marcou nenhum encontro antes de conhecer o homem das fotos. Dali a três meses, tomaria consciência da farsa ao ver o mesmo rosto que lhe encantava estampado em sites da imprensa. Ou o rapaz era famoso mesmo, ou haveria ali apenas mais uma vítima. "Pra mim era só um cara bonito. Não fui encontrá-lo. Se você descobre que a pessoa não é quem ela dizia ser por três meses, não vai conferir o que se passa", brinca. A.C. 

Mas o panorama das relações intermediadas pelas ferramentas da web é vasto, abrange todo tipo de história. O professor de inglês paulista Filipe Galhardo viu-se noivo de uma gaúcha recentemente graças ao esquecido Orkut. “Conheci a Gabrielle aleatoriamente em uma comunidade do Orkut em 2006, quando eu tinha 16 e ela 14 anos”. Namoraram por um ano à distância e decidiram se conhecer em 2010. Deu tão certo que Gabrielle mudou-se para o sudeste e os dois já vivem juntos. 

No percurso de viagem, Filipe relembra que “quase foi preso” por um incidente. “Eu voltava do Rio Grande do Sul (para São Paulo), com uma escala em Curitiba. Tinha umas duas horas para matar, e acabei saindo para dar uma volta no aeroporto. Me distraí em uma livraria no saguão e a hora que me dei conta, já estava na hora do embarque. Saí correndo e trombei com uma senhora que deveria ter uns 70 anos, com um milhão de malas e uma caixa com um câozinho. Ela achou que eu fosse um ladrão e começou a gritar por um segurança. Até eu conseguir explicar, levou quase uma hora e perdi o voo”, lembra. 

Novas linguagens, mesmos desejos

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A consolidação das redes sociais como meio de comunicação trouxe aos relacionamentos uma gama de novas opções aos mais tímidos, preguiçosos ou mesmo que apenas buscam uma aventura. Do Orkut, que teve 40 milhões de usuários brasileiros em seu auge, ao polêmico Tinder, aplicativo em que o usuário “seleciona” pretendentes por fotos e gostos em comum, as histórias de casais só se multiplicam na web. O que há uma década era visto ainda com receio e preconceito, hoje é prática comum e se tornou mais uma forma de envolver-se afetivamente. É o que afirma a psicóloga Luciana Rufo, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Para Luciana, a vinda dos smartphones ampliou significativamente o uso afetivo das redes. “Antes a tecnologia se restringia ao momento em que você estava sentado ao computador. Com o smartphone, criamos uma geração que quando tem cinco minutos sobrando, vai mexer num aplicativo. Estes programas começam a fazer sucesso porque estão inseridos num canal de comunicação que os facilita”, argumenta.

Luciana não vê mudanças drásticas nas formas de se relacionar por causa destas novas ferramentas, que para ela são apenas mais um meio de se conhecer pessoas. “A tecnologia em si não traz nada de tão novo. O que ela traz é uma mudança na velocidade para que as coisas aconteçam. Antigamente as pessoas se relacionavam de um mesmo jeito. A diferença é que precisavam de um preparo, de um investimento num entorno social muito grande. Mas a questão é a mesma: conhecer pessoas.

Grande vantagem para a psicóloga está em como o usuário vai investir seu tempo, não precisando necessariamente de um espaço específico para novas relações. “Não é preciso mais investir nos relacionamentos só em um momento específico. Posso estar até de pijama na cama, pois a internet dá a possibilidade do lugar. Podemos fazer contatos rápidos”. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A especialista ainda ressalta as vantagens da web: “com a interação de regras sociais, o indivíduo acaba se comportando visando a forma como os outros o estão vendo. Eles enxergam seu rosto, o lugar que frequenta, etc. Quando se está pela internet, nem precisa ter rosto. O papo já deve começar mais profundo, papo de bar não vai funcionar. A imagem se torna quase secundária. Você até escolhe quem te agrada, mas isso não é o principal”.

O especialista em coaching para habilidades sociais, Eduardo Santorini, é da mesma opinião. “Além daqueles que preferem uma alternativa à balada, hoje a internet é uma forma relativamente fácil de filtrar pessoas que você tem interesse. Você pode filtrar localização, idade, interesses, aparência”. No entanto, o profissional ressalta baixa adesão ao "novo método". Santorini menciona uma pesquisa americana feita por um site de relacionamentos que aponta que apenas 17% dos casais se conheceram pela internet. “Quase dois terços dos novos casais se conheceram por meio de seus círculos de amizade, como local de trabalho, faculdade ou foram apresentados por amigos”, destaca.

 

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Veja algumas dicas destacadas por Luciana Rufino e Eduardo Santorini para não se enganar antes de um encontro

1. Sempre que for sair, tenha mais contatos da pessoa além de um telefone celular. Se conheceu no Tinder, peça o Facebook.

2. Analise o Facebook desta pessoa. Veja se ela tem amigos, se a página existe na rede há algum tempo. Veja se ela escreve em sua timeline, se os amigos dela interagem.

3. Busque alguns dados de referência: o que esta pessoa faz, onde ela trabalha, o que estuda.

4. Peça mais de uma foto: quando você cria um fake, dificilmente tem mais de uma foto em um mesmo perfil.

5. Encontre sempre a pessoa em locais públicos e sempre deixe alguém avisado. Evite ficar muito a sós com a pessoa no começo.

6. Muito cuidado com aquelas pessoas apressadas, que conhecem hoje e amanhã já querem marcar um jantar. Converse bastante com a pessoa no próprio aplicativo, veja se existem pontos de interesse comuns e se vale a pena prosseguir.

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