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Acabou o romance entre o mundo da moda e a Casa Branca?

Como a vitória de Trump pode abalar a relação entre os estilistas e o governo dos Estados Unidos

Por Vanessa Friedman
Atualização:
Donald, Melania e Barron Trump no discurso da vitória Foto: Eric Thayer/The New York Times - 2016

No dia 9 de novembro, quando Hillary Clinton ficou de pé no New Yorker Hotel para o discurso de adeus, ela o fez usando um dos seus conhecidos terninhos Ralph Lauren. Dessa vez ele era cinza escuro, com lapelas roxas e camisa da mesma cor (e uma gravata combinando para Bill Clinton), para ressaltar um ponto, assim como vários looks dela durante a corrida eleitoral: o modo que as cores dos partidos Democrata e Republicano - azul e vermelho respectivamente - podem se unir para criar algo novo.  Porém também simbolizou, talvez, o fim do que poderia ser uma relação extraordinária. E possivelmente o fim do espaço fashion na Casa Branca.  Mais do que qualquer outra indústria, a moda estava comprometida com Hillary. A Vogue América a apoiou publicamente, e foi a primeira vez que a revista se manifestou sobre uma eleição presiencial. O editor da W Magazine, Stefano Tonchi, declarou sua simpatia pela democrata em uma carta do editor. 

Hillary usou conjunto Ralph Lauren no discurso de despedida. Foto: DOUG MILLS / THE NEW YORK TIMES

A estilista Diane von Furstenberg, presidente do Conselho de Designers de Moda da America, e Anna Wintour, editora da Vogue e diretora artística da Condé Nast, fizeram um levantamento de fundos agressivo para Hillary.  Estilistas, incluindo Tory Burch, Marc Jacobs e Prabal Gurung, criaram para o "Made for History", a loja da campanha de Hillary, e contribuiram para o desfile do projeto durante a Semana de Moda de Nova York. Elie Tahari divulgou um anúncio publicitário de sua marca com uma presidente mulher. Ralph Lauren virou o conselheiro oficial do guarda-roupa da candidata, a ajudando a definir sua imagem na Convenção Nacional do Partido Democrata e nos debates.  Isso foi o ápice de uma relação que começou com Hillary na capa da Vogue em dezembro de 1998, a primeira vez que uma primeira-dama estrelou a publicação.  O relacionamento se estreitou durante o madato Obama com a postura de Michelle, que abraçou o mundo da moda em seu todo, usando marcas acessíveis como J. Crew, novos designers como Jason Wu e Christian Siriano e nomes já estabelecidos na indústria.Michael Kors e Vera Wang são alguns exemplos. (A sra. Obama também apareceu na capa da Vogue em Março de 2009, abril de 2013 e irá de despedir da Casa Branca na edição de dezembro de 2016.) Sabendo como ela poderia usar a moda para "expressar ideias" - como foi dito por Joseph Altuzarra - a atual primeira-dama elevou a indústria moda de superficial para substancial. Ela apresentou as roupas como uma exposição de valores: diversidade, criatividade, empreendedorismo. E Hillary parecia inclinada a continuar com a tendência.  O Trumps, entretando, podem não fazê-lo. 

Com a vitória inesperada do republicano, os estilistas estão presumindo, como foi dito por Altuzarra, que os novos moradores da Casa Branca "terão uma nova relação com a moda", diferente do que o universo fashion se acostumou e colocou suas apostas.  Sem mencionar o relacionamento com os estilistas. Aspectos políticos e sociais não foram os únicos ignorados pelos Trumps.  Foi curioso na noite da eleição, por exemplo, Melania Trump também usar Ralph Lauren (um macacão branco), que, segundo a marca, ela comprou em uma loja e não o criou em parceria com o designer.  De fato, todas as roupas que ela usou na campanha foram frutos de idas ao shopping, o que é oposto de um plano de imagem. Não tem nada errado com isso. Provavelmente isso é o que faz uma mulher que vive em uma cobertura de ouro parecer mais normal (ela faz compras como todo mundo!) mas deixa evidente sua distância da indústria.  E é surpreendente que, mesmo que a Ralph Lauren seja uma marca americana, o que indica apoio à indústria local, Melania também tenha usado Fendi (italiana), Roksanda Ilincic e Emilia Wickstead (britânicas) durante a corrida presidêncial. Quando foi votar, ela estava com um casaco militar camelo da francesa Balmain sobre os ombros.  Nem o seu guarda-roupa nem o do resto da família foi usado da maneira tradicional (veja Jackie Kennedy e Nancy Reagan)e nem para evidênciar as virtudes do "made in america" - mesmo que tenha sido uma das mais divulgadas plataformas da campanha de Trump. 

O próprio presidente eleito se manteve com o uniforme de ternos Brioni feitos na China combinados com gravatas vermelhas de sua própria marca. Ivanka, usou vários estilos e marcas, incluindo roupas de sua marca homônima, o top assimétrico Roland Mouret do terceiro debate e o vestido Alexander McQueen usado no discurso da vitória.  Se existe uma mensagem que unifica o guarda-roupa dos Trump, disse Marcus Wainwright,CEO da Rag & Bone (outra marca que contribuiu para o "Made for History"), é a de "parecer ricos."  De fato, o visual da noite da eleição, onde a família surgiu no palco cercando o candidato triunfante, não foi o branco (em Melania e Barron), azul (Ivanka e Tifanny) e vermelho (Donald e Lara) que os Trump usaram - em partes porque as cores pareceram mais acidentais do que calculadas - mas sim o mar de bonés "Make America Great Again" usados pelo público. 

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