A moda italiana aspira à liderança mundial

Executivos do setor elaboram um plano de mudanças para que a Itália volte a ocupar o centro do debate na moda global

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Por Vanessa Friedman
Atualização:
​Desfile da Empório Armani, na última Semana de Moda de Milão Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

Nos últimos anos, a Semana da Moda de Milão, a terceira no calendário das grandes, depois da de Nova York e de Londres e antes de Paris, parece a prima pobre da temporada: tolerada, mas cada vez mais mal amada. Outrora um dos principais acontecimentos do mundo fashion, o evento perdeu força e a identidade tradicional de suas grifes foi despertando cada vez menos entusiasmo em comparação a criações mais jovens e excitantes. Alguns editores de moda, inclusive, passar a pular a semana da cidade para concentrar energia no brilho conceitual dos desfiles de Paris. 

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Para reverter a situação, os comandantes da moda italiana traçam agora um plano para se reerguer. Carlo Capasa, novo presidente da Câmara Nacional da Moda Italiana, o organismo que dirige o setor na Itália, apresentou um projeto de mudança. Destacando cinco principais áreas de interesse, da colaboração com o governo à formação de novos talentos e à criação de eventos especiais, os planos ainda parecem vagos, mas há pontos a destacar. Em primeiro lugar, Capasa reiterou que todas as marcas italianas que fazem parte da Câmara estão unidas em sua vontade de mudança - o que, na realidade, era uma forma de responder aos boatos relativos a brigas de marcas concorrentes (por exemplo, que Roberto Cavalli não aceitaria a influência de Giorgio Armani e que Armani, por sua vez, teria uma richa com Diego della Valle, da Tod's).

“Não nos permitimos mudar o nosso rumo por causa das disputas sobre as quais a mídia escreve periodicamente”, disse Capasa. “Na realidade, entre nós existe uma total cooperação. Há um acordo das principais marcas com o objetivo de estender os desfiles por vários dias”. Ele se refere, especificamente, a Armani e ao seu desejo de realizar o desfile no último dia da Semana da Moda de Milão, usando o poder de sua grife para prender as pessoas em Milão até o fim do evento. O novo presidente falou ainda de duas iniciativas que começarão em junho, durante os desfiles de moda masculina: um “trem da moda” partirá da Pitti Uomo, grande feira dedicada ao tema que ocorre em Florença, rumo aos desfiles de Milão, facilitando os deslocamentos entre os evento. Há ainda planos para criar uma “concierge da semana da moda” a fim de ajudar os visitantes a usufruírem das oportunidades turísticas da cidade (e, consequentemente, gastarem dinheiro nos restaurantes e museus).

Tudo isso é excelente em termos de marketing. Mas o que realmente impressiona são os planos para as “relações internacionais”, que vão além das negociações do calendário. Entre elas, estão a criação de medidas conjuntas contra a falsificação e a formação de um “painel para a sustentabilidade global”, que pretende se tornar o ponto de referência para governos e países emergentes em relação aos seus projetos no campo da moda”. Considerando que a Itália é frequentemente criticada pelo fato de suas marcas mais fortes dominarem o cenário da moda, deixando pouco oxigênio para as novas e que o uso do couro na indústria traz danos consideráveis ao meio ambiente, pode-se dizer que os objetivos da Câmara são ambiciosos, mas importantes.

Se realizá-los será fácil, é outra questão. Porém, o simples fato de terem sido destacados reflete um esforço concreto para que a Itália volte a ocupar o centro do diálogo da moda global. E o fato dos membros da Câmara serem responsáveis em seu conjunto pela metade da receita de 65 bilhões de euros da moda italiana, ou US$ 73 bilhões (em 2015), certamente ajudará a cumpri-los. Capasa se concedeu 12 meses para pôr em prática tantos planos. Será interessante observar.

Tradução de Anna Capovillan

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