A moda e a crise

Às vésperas de uma nova edição do São Paulo Fashion Week, estilistas tornam-se ativistas e a indústria busca respostas

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Por Jorge Grimberg
Atualização:

Muitos profissionais de moda brasileiros foram às ruas pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Estilistas, relações públicas, stylists e maquiadores registraram nas redes sociais sua insatisfação. É claro que, como em todo o País, há ideologias diferentes também dentro do universo fashion. Mas é fato que a indústria da moda no Brasil sofre.

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Em meio à crise política e econômica, quem precisa mesmo de uma nova blusa? Moda é desejo, arte e paixão. A crise corta isso e transforma moda em um misto de insegurança e criatividade sustentável. As empresas querem permanecer abertas e, para isso, precisam fazer cortes e ajustar gastos. Cresce o mercado da troca, do escambo. Emerge a tendência da simplicidade, da não-ostentação. 

Às vésperas de uma nova edição do São Paulo Fashion Week, marcada para o fim de abril, as marcas que irão desfilar ainda não foram anunciadas. Rumores de bastidores dizem que muitas ainda não sabem se irão participar. A crise faz florescer o medo de gastar além da conta. Porém, temos aí boas novidades. A marca Cotton Project, de Rafael Varandas, vai estrear nas passarelas seu estilo cool e despretensioso. Amir Slama retorna à nossa festiva semana de moda. E ainda temos a grande surpresa da Riachuelo com o desfile de Karl Lagerfeld. Será que ele vem? 

No momento, o grande desafio da indústria é gerar desejo e demanda. Por isso, blogueiros não estão em crise. Na blogosfera, o look do dia ainda segue valorizado, afinal trata-se de uma vitrine viva, que leva diretamente ao caixa das empresas. O comércio, sim, está sofrendo com a falta de verba para inovar e chamar o cliente. As marcas devem ser mais criativas do que nunca para fazer o brasileiro abrir a carteira. 

Um consolo é que a crise da moda não ocorre apenas no Brasil. Na Inglaterra, a queda em vendas de roupas e sapatos foi a mais alta em 25 anos, segundo pesquisa do jornal britânico The Guardian. A editora Anna Wintour, da Vogue América, disse em Paris que "a mulher deve ser seduzida novamente pela indústria".

Muito se discute ainda sobre a ‘invasão' do público final no mundo fechado dos estilistas e desfiles. Cada vez mais, a moda vem sendo propagada como entretenimento, com um novo canal sobre o assunto na Apple TV, e com os desfiles transmitidos em streaming na internet. Há também a discussão sobre a mudança no calendário e o imediatismo, do veja-agora-compre agora como uma solução para a indústria. 

Será essa a solução? Claro que é bacana comprar algo direto das passarelas, mas isso é para poucos dispostos a gastar muito. Mais interessante pode ser esperar e fantasiar com roupas que ainda não chegaram (e que ninguém tem) ou que virão em edição limitada. Ou ainda, comprar peças em liquidação, que nunca compraríamos com valores cheios. Só o tempo dirá a força dessas mudanças e o real impacto que elas terão no mercado local e global. O importante agora - para todos os interessados - é não deixar de sonhar com a moda.

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