A Moda e a Cidade: Dudu Bertholini

Para ele, São Paulo é uma Gotham City tropical, com vistas incríveis e uma grande variedade de produtos. De jaquetas punks a tecidos finos, o estilista dá dicas preciosas da cidade

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Por Helena Tarozzo
Atualização:
O estilista Dudu Bertholini, da Neon, fala sobre o bairro de Higienópolis Foto: Marcelo Brandt

Com seu estilo único e inimitável, Dudu Bertholini é uma pessoa fácil de ser vista pelas ruas de Higienópolis. Morador do bairro desde que criança, entre uma mudança e outra de casa, ele nunca deixou por muito tempo as ruas arborizadas da região. Ali, ele faz da sua vizinhança a extensão de própria casa. “Não é de brincadeira que digo que o Parque Buenos Aires é meu jardim e a padaria Aracajú, a minha cozinha”, conta o estilista da Neon e stylist, que, como se estivesse numa cidade do interior, conhece e conversa com todos - o dono da barraca de fruta, o atendente do balcão da lanchonete e os moradores de rua. É entre a arquitetura modernista e a tradição dos moradores de meia idade do bairro, que ele encontra a atmosfera perfeita para criar suas estampas psicodélicas. Perto do centro, da Rua Augusta e dos Jardins, na São Paulo de Dudu se acha de tudo um pouco. Desde turbantes e lenços étnicos à melhor jaqueta punk do Brasil.

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Você mora aqui há anos, o que é o melhor de Higienópolis? É um bairro ótimo para fazer as coisas a pé, ele tem todo tipo de serviço, de uma forma super acessível. E também amo a arquitetura daqui. Um dos meus passeios favoritos é simplesmente olhar os prédios ao meu redor. Não deixo de me encantar com essa arquitetura, que mescla o século 20 com os anos 50 e 60. E aqui também tem uma mistura humana muito interessante. Ainda existem os senhores e as senhoras que ocuparam o bairro há muito tempo e transformaram Higienópolis nesse lugar de glamour antigo. Eles até hoje usam roupas lindas nas ruas, uns sueters bordados com lenços coloridos e óculos dégradé. E isso se mistura a pessoas como eu, que gostam de design e não estão a fim de apartamentos pré-fabricados. Gosto muito dessa diversidade.

Em relação ao bairro e ao seu estilo irreverente, como as pessoas te olham na rua? As pessoas me olham muito em qualquer lugar (risos). Seja em Higienópolis ou qualquer outra região. Mas acho que isso faz parte de quem eu sou, da minha história. Acho que estilo tem que ser uma tradução muito verdadeira de quem você é e da manifestação mais real de mostrar seus desejos. E, pelo contrário, Higienópolis e eu temos um caso de amor. Fiz amigos em todos os lugares onde morei aqui no bairro. Dos atendentes da padaria ao vendedor de fruta e o mendigo que mora em frente da padaria e me chama de “Artista”. Acho que é justamente essa minha maneira única de ser que acaba criando uma conexão imediata com todo mundo da minha vizinhança. 

Higienópolis não tem muita tradição de lojas de moda nas ruas. Onde você encontra suas produções aqui por perto? Sou bem envolvido com o pessoal da Sumemo e eles acabaram de abrir uma loja aqui perto, na Rua Doutor Vila Nova, chama Tudo Nosso. Para mim, é a loja mais legal para comprar street wear. Na contramão das lojas de varejo, tem uma tendência de apartment stores, em São Paulo. E quem começou com isso foi a Carolina Glidden Gannon. A loja chama Apartment Store e você marca hora por e-mail para ir ao apartamento dela, no Largo do Arouche. Ela garimpa coisas especiais do Brasil e do mundo - roupas, acessórios, decoração e coisas que ela cria. Tudo super chique. Ali do lado, também no Arouche, tem a loja do Fabio Kawallys. Ele faz os melhores coletes e jaquetas punks do Brasil. Também indico a Loja Choix, na Rua Professor Arthur Ramos, onde atualmente estamos vendendo as peças da Neon. Mas também há várias outras marcas como Amapô e Christopher Alexander.

E acessórios, lenços, turbantes? Um lugar muito especial é o atelier da Christine Youfon, na Rua Pernambuco. Ela faz essas verdadeiras esculturas de vestir, joias maravilhosas de madeira, osso e bronze. São peças que amo de paixão e ela atende com hora marcada. Adoro uma marca de lenços que é do Yassin Lahmar, à venda na Galeria Nacional, na Rua Barão de Capanema. Essa é uma loja linda que vende várias coisas de design brasileiro, indico muito para brasileiros e estrangeiros.

Na onda dos feitos a mão, qual o seu sapateiro e sua costureira em São Paulo? Mando fazer todos os meus sapatos na Gurgel sapataria. Como calço 44 e sou bem específico, faço lá minhas botas e sapatilhas. Minha costureira é a dona Eurídice, ela fica no centro perto da Rua 25 de Março, e uso seus trabalhos para mim e profissionalmente.

Alguma loja para comprar tecidos? Sim, principalmente as da Rua Augusta. A Lorraine e a Firenze, que são lojas que foram muito importantes na moda dos anos 50 ao 80 e hoje elas ainda continuam firmes. Lá tem em um tafetá, uma seda linda e uma cambraia maravilhosa. São um pouco como guardiãs dos fundamentos do estilo antigo. Sempre fui muito ligado aos pilares que formaram o que somos hoje. E essa nostalgia de estilo, elegância e sabedoria são valores legais da gente ter hoje em dia.

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O programa perfeito para conhecer bem a cidade? Acho que São Paulo, para ser entendida, deve ser vista de cima. Então indico o Terraço Itália, para tomar um drink, sentar no sofá de capitonê e olhar aquela vista maravilhosa com um charme old school. E outro lugar é o terraço do MAC - USP, que para mim é a obra mais bonita do museu. De lá você vê o Ibirapuera, com a arquitetura do Oscar Niemeyer, os viadutos, as avenidas e você entende de cima o que é essa Gotham City tropical. Outro lugar é o Mercadão. Mas o sanduíche de mortadela não é muito o meu gosto, adoro ir lá para comer ostras frescas. Uma delícia.

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