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A moda do emoji

A escritora americana Jessica Bennett discorre sobre o uso dos emoji, linguagem que se tornou popular entre fashionistas e aficionados por smartphones

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Por Redação
Atualização:
Emoji fashion de Karl Lagerfeld, lançado em março desse ano Foto: Reprodução

Tudo começou há cerca de seis meses, com um rosto sorridente aqui e ali, uma sequência de desenhos de corações vermelhos quando os amigos enviavam fotos de bebezinhos ou uma série de beijos para desejar ‘boa noite’. Eu gostei particularmente do rosto com uma careta cheia de dentes, meio sem graça: do tipo “vixe!” , parecia dizer. Perfeito para “Desculpe meu atraso”, ou “Opa, já é 1 hora da tarde e eu só levantei agora”.

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Acabei substituindo palavras com caracteres, acrescentando uma série de bíceps flexionados para o texto “Eu posso fazer isto!” com uma intenção encorajadora. Então, um dia, passei 10 minutos obcecada buscando a maneira perfeita de dizer “Sou uma escritora, não uma matemática” numa mensagem para meu contador. Para encontrar estes emoji (os símbolos que exprimem emoção), e colocá-los em sequência, devo ter digitado a frase umas 17 vezes. No meio da composição, recebi um telefonema de uma pessoa com quem precisava falar. Pressionei a tecla ‘ignorar’. Percebi que precisava parar.

As raízes dos rostos sorridentes e dos emoticons remontam aos anos 1880, mas a história dos emoji, os pequenos ícones desenhados no celular, começou no Japão em meados dos anos 90, quando foram acrescentados como recurso especial numa marca de pagers populares entre adolescentes. Só em 2008 foi criado um alfabeto emoji uniforme (a ideia era minimizar a incoerência entre plataformas), e a Apple o adotou em 2011, acrescentando-o ao seu sistema operacional iOS5.

Mas o que antes era domínio dos geek em tecnologia tornou-se uma epidemia entre as massas. O emoji foi coroado como a palavra da moda deste ano pelo Global Language Monitor, e foi acrescentado ao Oxford English Dictionary (engraçado, porque na realidade é uma palavra que descreve o conceito de não usar palavras). Agora existe um blog, Emojanalysis, que pretende psicanalisar o emoji usado mais frequentemente pelos usuários; o site Emojili, a primeira rede social exclusivamente em emoji (sim, somente em emoji); e o Unicode Consortium, empresa sem fins lucrativos responsável pelo padrão Unicode de escrita em computadores e celulares em emoji em todas as plataformas, informou recentemente que acrescentaria 250 emoji a produtos da Apple, Microsoft e Google. 

Considerei seriamente a possibilidade de incluir uma sequência de emoji no meu currículo, esta semana. “Um sujeito acabou de me convidar para sair em emoji + (caras de menino e menina) +, “ me disse um a amiga, quando perguntei se ela achou que tínhamos chegado a um ponto crucial em emoji. “Conversamos somente em emoji durante cerca de 45 minutos", contou.

Segundo o site Emojitracker, que utiliza o Twitter para calcular o emprego de emoji, as pessoas em média fazem 250 a 350 tuítes em emoji por segundo. Os rostos sorridentes e os corações abundam, mas há também sequências mais complexas. Há emoji como pontuação, ênfase, substituição de palavras (“Não posso esperar por!”) ou substituir totalmente as palavras. (O desenho do emoji que recebi recentemente de uma amiga, descreve um encontro no fim de semana, que começou bem, inclusive uma viagem para os vinhedos de Sonoma County, na Califórnia, mas depois acabou quando ela se deu conta de que o relacionamento não iria adiante. Daí, o símbolo de um rosto frustrado.)

Há emoji para quando você não sabe realmente o que dizer, mas não quer ser rude deixando de responder, e para quando você não quer responder mesmo. “Adoro emoji porque não gosto de falar por falar”, disse uma mulher. Há sequências de emoji para expressar conceitos da vida real também. 

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Em sua breve vida, os emoji conseguiram encontrar um excepcional campo cultural: Um espirituoso da Internet postou uma tradução em emoji de uma música cantada por Beyoncé, Drunk in Love, e uma versão somente em emoji de Moby Dick, chamada Emoji Dick, foi aceita recentemente na Biblioteca do Congresso. 

Especialistas em direito chegaram a discutir se uma ameaça de morte em emoji seria admissível num tribunal. “Não sei ao certo se podemos falar já do emoji como uma linguagem completa”, disse Ben Zimmer, especialista em linguística, “mas parece ter fascinantes possibilidades combinatórias. Todo tipo de sistemas simbólicos, quando usado para a comunicação, evoluirá em dialetos”.

Como acontece em todos os novos meios, haverá problemas. “Mesmo de óculos, não consigo enxergar muito bem aquelas coisinhas pequeninas”, disse Ruth Ann Harnish, 64, escritora e filantropa. Os emoji também tendem a ser mal traduzidos quando enviados entre plataformas, ou se tornam confusos não tendo a fonte certa. Portanto, embora um coração possa ser um coração no seu celular, poderá acabar como uma série de erros no Facebook ou se você ler seu e-mail no Chrome. 

O atual pacote de emoji foi criticado por ser considerado excessivamente limitado: ele não apresentaria suficiente diversidade de emoji. No ápice das férias de verão, nem mesmo um ícone de lagosta (aliás, nem de caranguejos). Há também certo caráter subjetivo nas sequências. Dependendo se você acha que o rostinho com a lágrima na testa está suando ou chorando, um amigo pode ter sido despachado ou participou de uma competição de ciclismo. “Acho que está claro que existe uma gramática primitiva do emoji, ou pelo menos emergente”, disse Colin Rothfels, um desenvolvedor que mantém um feed no Twitter @anagramatron, que colige tuítes (e portanto emoji) que são anagramas.

O Unicode Consortium lançará em breve seus novos ícones em emoji - inclusive uma pimentinha (quente ou apimentado) e um homem de negócios que levita. No entanto, opções novas só poderão exacerbar um problema notório dos que são fluentes em emoji: sem dispor de um teclado patronizado, como poderemos escolher entre todas estas opções? 

Tradução de Anna Capovilla

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