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'A moda abriu a porta do meu destino', diz Carol Trentini

Aos 30 anos, mãe de dois meninos, modelo vive entre Balneário Camboriú e o mundo

Por Sergio Amaral
Atualização:
A brasileira Carol Trentini, de Panambi, no Rio Grande do Sul, a ícone da moda global Foto: José Pelegrini

Top, capa de revista, estrela de campanhas e desfiles de marcas, como Versace e Marc Jacobs e ícone de moda aos 30 anos, Caroline Trentini tem muitas conquistas. A mais marcante delas, talvez, a de estar na ativa - e com trabalhos importantes - desde que começou a carreira, aos 15 anos, até hoje - uma missão que patrece impossível para a nova geração de hoje.

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Uma das modelos favoritas de Anna Wintour, a poderosa a ex-editora da Vogue norte-americana e atual diretora artística da Condé Nast, ela apareceu nas páginas da publicação considerada "Bíblia da moda" em ao menos quatro ocasiões só no último ano. Esteve também na capa da edição brasileira do título, assim como nas das revistas Marie Claire e L’Officiel, nas campanhas de DSquared e Ellus, na passarela da Bottega Veneta.

Morando em Balneário Camboriú (SC) com o marido, o fotógrafo Fabio Bartelt, é outro o assunto que mais a empolga atualmente: a maternidade. “Tenho outra perspectiva das coisas, me sinto muito melhor trabalhando”, diz a modelo. Em entrevista ao E+, ela fala da família e das mudanças promovidas pelos filhos Bento e Benoah, das denúncias de assédio, dos perrengues, dos momentos memoráveis da sua trajetória e do que aprendeu com eles: “A moda abriu a porta do meu destino”.

Como está sua vida hoje? Hoje em dia a gente mora em Balneário Comboriú, em Santa Catarina, já faz um ano e é uma delícia. A gente morava em Nova York, mas o mercado de trabalho do Fabio é mais no Brasil. Resolvemos vir para Balneário porque não é o local de trabalho nem meu nem dele, e é o melhor para as crianças. Já tínhamos uma casa de praia que hoje é a nossa casa. Assim, nós dois viajamos para trabalhar. No meu caso, que faço trabalhos pelo mundo, são duas horas a mais do que seria morando em São Paulo, mas vale pela qualidade de vida que temos.

Além do Fabio, você tem dois meninos, o Bento e o Benoah. Como a maternidade mudou sua vida?

Mudou completamente. Virei outra pessoa. Sempre fui muito planejada, tudo era muito certo: a hora de trabalhar que nem doida, eu trabalhei que nem doida. A maternidade mexeu e mexe com meu emocional. Achei que teria mais estrutura e descobri que não sou estruturada assim. Aprendo todo dia, sofro todo dia.

Pensa em ter mais filhos?

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Por enquanto não. Meu prato está bem cheio. Sempre tem aquela pergunta: e a menininha, quando é que vem? Talvez depois. No momento, não me vejo [tendo outro filho]. Preciso de mais uns anos para maternar de novo. A maternidade me transformou e me transforma todo dia. É o que move a minha vida. Eu abro meu olho de manhã e não sei o que vai acontecer. (risos) 

Como faz pra conciliar essa agenda familiar com os trabalhos?

Eu vou, trabalho e volto. Não consigo ficar mais que 3 ou 4 dias longe. E temos um esquema que funciona super bem. Eu e o Fabio conseguimos ter nosso tempo, que é muito importante no relacionamento. Se a casa está estruturada, se está tudo em harmonia, tudo funciona melhor.

Pensa em se aposentar da carreira de modelo?

Não penso em parar. As coisas estão funcionando de maneira superlegal. Depois da maternidade, tive outra experiência de trabalho, de carreira, tenho outra perspectiva das coisas, me sinto muito melhor trabalhando.

Que outra perspectiva é essa?

Antes eu fazia de tudo, até coisas que não eram tão importantes. Valia muito a superexposição, a quantidade. Hoje dou mais valor, prefiro qualidade.

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Como se vê nos próximos dez anos?

Ainda não penso a longo prazo, mas acho que vou amadurecendo e vou aprendendo a lidar com esse turbilhão. Penso em achar alguma outra paixão que consiga conciliar, mas não vejo o que ainda. As crianças me ensinaram muito a viver o que a gente está vivendo agora. Meu mundo são eles e o Fabio, meu trabalho ficou em segundo plano. Em dez anos me vejo sendo mãe de adolescentes.

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O mundo mudou muito desde que você começou sua carreira, aos 15, no começo dos anos 2000. Quais os principais reflexos disso na moda e na carreira de modelo?

Muita coisa mudou. Se fosse para começar hoje, seria outra pegada. Quando comecei, eu andava com mapa de SP embaixo do braço - não tinha Waze. A visão do cliente também mudou com redes sociais, tem toda uma bagagem que vai junto. Quando comecei, a gente trabalhava durante temporadas, eu e mais cinco, seis meninas, fazíamos tudo durante muitas estações. Hoje elas fazem Prada ou Gucci uma vez e na outra temporada já não são novidade.

Como enxerga esse movimento #MeToo e as denúncias de assédio no mundo da moda?

Esse assunto é muito sério em qualquer mercado. Comigo, graças a Deus, nunca aconteceu. Nem com ninguém muito próximo. Acho isso superdelicado e apoio essas pessoas que sofrem e sofreram. É uma coisa que traumatiza uma mulher, um homem, para a vida toda. Sou super a favor das denúncias e, se isso aconteceu, elas têm que vir à tona e têm todo meu apoio.

Você trabalhou com praticamente todas as principais revistas e marcas e fotógrafos de moda importantes…. Faltou alguém com quem você gostaria de ter trabalhado?

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Nunca trabalhei no desfile da Prada, apesar de ter feito campanha de Miu Miu. Mas não é uma coisa: “Ah, que pena!”. As coisas [na minha carreira] foram acontecendo e eu não tinha um goal “quero trabalhar para o Marc Jacobs”. Mas nunca fiquei triste, até porque cada marca tem sua visão.

Quais os trabalhos ou experiências mais marcantes da sua carreira?

Fotografar na piscina em que o Michael Phelps treinava para uma matéria da Vogue América foi uma. Minha função era nadar na piscina de salto e aplique no cabelo. E ele é um monstro, um gigante, de tudo. Foi uma experiência muito legal. Meus trabalhos com o  Irving Penn foram muito especiais. Tudo lá é muito antigo, o jeito de ele dirigir, o set todo, ele entendia muito no auge dos seus 90 anos. O [Steven] Meisel é meu ídolo até hoje. Quando trabalho com ele não durmo na noite anterior. Ele e a Grace Coddington são meus ídolos! Também foi muito legal fotografar com os meus filhos. Na Vogue Brasil e na Vogue America, com o Mario Testino. Foram fotos muito fofas e legais no Rio.

E perrengues? Tem muitos também, não?

Nunca tive experiência traumática, mas passei frio demais. Sempre fui tímida e nunca fui de reclamar. Fotografei num frigorífico em Nova York com carne entrando e saindo. Fiz voos absurdos. Para fazer [calendário] Pirelli, fui para a China, fiquei seis horas, minha mala não chegou, fiz as fotos e voltei para Nova York. Eu era uma criança, passei por muitas situações puxadas, mas tudo serviu para aprender.

Que tipo de cuidados você tem para manter a pele e o corpo saudáveis?

Faço exercícios, 45 minutos mais ou menos, três vezes por semana. Sou muito equilibrada, mas como de tudo, não tenho restrição: como chocolate, miojo, mas gosto de me alimentar bem. Em casa temos sempre arroz, feijão, frango, até por conta das crianças.

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Você foi considerada uma queridinha da Anna Wintour, a publisher da Vogue norte-americana. Ela ficou famosa popularmente com ‘O Diabo Veste Prada’... Quais suas impressões sobre ela?

Ela é uma pessoa super séria. A gente trabalha há muitos anos e ela dava depoimento sobre mim dizendo que sou uma modelo que tanto o cliente quanto a leitora se identifica. Frequentei a casa dela, mas não é minha BFF. É uma baita profissional, que as pessoas respeitam - e que é séria.

O que de melhor a moda te trouxe?

A moda me apresentou minha família, meu marido, me deu meus filhos. Vim de uma cidade muito pequena e talvez estaria lá ainda. A moda abriu a porta do meu destino.

Carol Trentini, em 2004, nos bastidores do desfile daCori na São Paulo Fashion Week Foto: Eduardo Nicolau/AE
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