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A máquina da moda britânica

Em entrevista exclusiva, a CEO do British Fashion Council fala sobre a busca pela inovação e as estratégias para manter o mundo interessado na moda inglesa

Por Jorge Grimberg
Atualização:
Caroline Rush, CEO British Fashion Council 

Caroline Rush é uma empresária fugaz. À frente do British Fashion Council há seis anos, Caroline carrega a missão de promover a moda britânica internacionalmente. O BFC é uma organização sem fins lucrativos baseada em Londres, que foi fundada em 1983, e é responsável pela descoberta de talentos como Alexander McQueen.

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Criada em cinco pilares estratégicos - negócios, reputação, educação, digital e investimento -, o BFC realiza a London Fashion Week duas vezes ao ano e, desde 2012, a temporada London Collections: MEN, focada no universo masculino, além de promover uma série de showrooms ao redor do mundo e diversos projetos para descobrir e desenvolver novos talentos.

Em uma conversa exclusiva na Somerset House, onde aconteceu o London Fashion Week, Caroline dividiu com o Estadão Moda & Beleza como faz para equilibrar todos os músicos dessa orquestra em sintonia. 

Aqui em Londres, sentimos a fashion week por todos os lados. Nos museus, no metrô e nas vitrines, o London Fashion Week está espalhado pela cidade. Como você consegue orquestrar toda essa vibração em volta da semana de moda?É intencional (risos). Muito vem da nossa estrutura de organização e muito das relações com parceiros: os varejistas, instituições e a mídia. Temos painéis com experts para definir nossa estratégia e um grupo de apoio incrível. Além de empresas como Google, Facebook, Twitter e Instagram, que nos ajudam a contar essa história. Tem sido muito poderoso ter todo esse suporte e nós estamos surpresos em ver que essas organizações realmente oferecem bastante tempo para ser parte do que fazemos e nos ajudam a espalhar a mensagem da nossa missão, de que Londres é a melhor cidade do mundo para ver novidades na moda. 

A instalação do London Fashion Week na Somerset House 

Em comparação com outras capitais de moda, o sentimento é de que o novo realmente está aqui. É muito especial. Muitas pessoas falam sobre a energia de Londres, o que é algo muito difícil de quantificar. Isso é pela variedade de estilistas e criadores que temos. Nós valorizamos os talentos emergentes, as mentes criativas, pessoas que criam filmes e instalações para mostrar as suas coleções e até estilistas que estão construindo marcas, como Christopher Kane, que há cinco anos era um jovem talento, cresceu junto com a gente e agora é parte do grupo Kering [grupo detentor de marcas como Gucci, Saint Laurent e Balenciaga]. E, claro, temos as marcas mais fortes, como Burberry, e o que elas trazem para o grupo. Nós vemos uma linha em comum em toda a semana de moda - dos grandes aos pequenos - e o comprometimento com a inovação em todos os envolvidos. Para uma indústria que viaja o mundo e vê tudo, você consegue ainda desafiar a percepção das pessoas e deixá-las animadas com a moda, é isso que os designers procuram fazer em Londres.

O BFC promove projetos como o NEWGEN, que apoia novos estilistas. Como vocês fazem para manter a chama acesa e estimular jovens talentos? Nós temos muitos projetos, sendo o NEWGEN o mais famoso. Logo no primeiro ano do projeto, em 1993, descobrimos Alexander McQueen que tinha algumas araras para expor suas criações. O NEWGEN apoia e financia estilistas a mostrarem seu trabalho em uma plataforma global. Mas também existe um suporte grande fora das passarelas, com foco em como transformar toda essa criatividade em negócios e como comercializá-la. A maneira de fazer isso acontecer é esclarecendo aos estilistas que eles precisam fazer dinheiro para possam continuar com suas visões criativas. Eles devem seguir algumas regras. Existem mentores que trabalham com os estilistas e os ajudam a desenvolver as marcas. Por isso, Londres continua sendo a melhor cidade para começar e desenvolver um negócio de moda. 

A instalação do projeto NEWGEN na Somerset House 

Em São Paulo, somos uma metrópole de moda muito dinâmica, mas temos muitas barreiras para fazer a sincronização dos novos talentos com a indústria e motivar a inovação. Qual é o segredo para encontrar esse equilíbrio? Nós sabemos o valor que a indústria da moda agrega para a cidade e para o país. Isso vai muito além dos jovens ingleses com roupas malucas nas ruas. A moda não é algo frívolo e passageiro. Nosso trabalho é parte da visão criativa de uma indústria de sucesso, incrivelmente poderosa, que promove centenas de milhares de empregos. Por isso, conseguimos cultivar parcerias com empresas que entendem esse valor e desejam participar desse desenvolvimento. 

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O Brasil também é um país muito criativo. Mas, diferentemente da Inglaterra, nossa cultura é de criar com poucos recursos. O que temos a aprender com os ingleses? O Brasil ainda tem um tempo até as Olimpíadas para aproveitar um certo desenvolvimento. Em Londres, as Olimpíadas trouxeram tanto retorno em um momento de crise. O efeito foi incrível! Como uma lição a dividir, acredito que esse é o momento em que o brasileiro deve aproveitar para mostrar e compartilhar tudo de grandioso que faz em termos de percepção criativa. Isso pode ser uma maneira muito forte para abrir parceiras e trazer investimentos. A hora é agora. Quero ir ao Brasil no ano que vem. Todos vão querer!

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