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A importância da volta da Semana de Moda Masculina de Nova York

Evento que não ocorria desde 2001 marca momento de alta do setor: nos últimos cinco anos, as vendas de roupas masculinas aumentaram mais rápido do que as femininas, e as grandes casas de moda ampliaram suas ofertas de roupas para homens

Por Guy Trebay
Atualização:

 

Uma semana que trouxe de volta grandes marcas americanas como John Varvatos foi mais do que simbólica Foto: ennifer S. Altman for The New York Times

Talvez ainda seja cedo para afirmar com certeza, mas as primeiras reações à longamente planejada Semana de Moda Masculina de Nova York, realizada neste mês de julho, indicam que ela pode ter alcançado o sucesso esperado por seus organizadores. Além de uma reação positiva por parte do setor, o evento que não ocorria desde 2001 trouxe outras novidades importantes. Ao separar a moda masculina da feminina e aproximar o calendário de desfiles aos que ocorrem na Europa, o Conselho de Estilistas dos Estados Unidos (Council of Fashion Designers of America) corrigiu uma programação desequilibrada, que obrigava editores e compradores a esperar semanas após as apresentações em Londres, Paris e Milão para ver o que os estilistas americanos tinham a oferecer.

A semana também deixou claro dois efeitos que poucos haviam percebido: o da Internet democratizada, que amplia a passarela para além dos desfiles, e a prática de abandonar a roupa formal no trabalho às sextas-feiras. “Quando 'casual friday' começou, esse era um pesadelo para muitos homens”, diz o estilista Michael Kors. "Eles se perguntavam: 'Nossa, quer dizer que vou parecer um totalmente desleixado?' Mas o hábito abriu espaço para o empreendedor global, interessado na moda para o fim de semana, para o trabalho, para o lazer.” Na opinião de Kors, a moda não é apenas para dândis e gente que gosta de se exibir.   Desde que o termo “metrossexual” foi cunhado, a percepção da moda como algo exclusivo para a elite ficou para trás. Nos últimos cinco anos, as vendas de roupas masculinas aumentaram mais rápido do que as femininas, e o resultado foi que todas as grandes casas de moda ampliaram suas ofertas de roupas para homens. Muitas, inclusive, correram para abrir lojas dedicadas aos novos obcecados compradores. Sob essa perspectiva, uma semana que trouxe de volta grandes marcas americanas como John Varvatos foi mais do que simbólica. “O que legitimou o evento foi o retorno de John Varvatos fazendo honra ao seu nome", afirma o estilista Todd Snyder. 

O estilista Thom Browne criou uma caixa de vidro espelhada para mostrar uma série de ternos com calças de barras mais curtas Foto: Reprodução/ Instagram

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Embora outras grifes, como Calvin Klein e Thom Browne, que normalmente fazem grandes desfiles na Europa, tenham se contentado com simples apresentações nos Estados Unidos, Varvatos montou um desfile monumental. “Isso foi muito importante, pois trouxe compradores e a imprensa europeia para cá”, afirma Matthew Marden, diretor de moda da revista Details, citando representantes do Financial Times, de edições estrangeiras das revistas GQ e Esquire, e de lojas britânicas importantes como Harrods e Selfridges.   Se por um lado a maior parte das apresentações ainda não teve nada da teatralidade dos recentes desfiles de Paris, é possível destacar alguns elementos cênicos, como a caixa de vidro espelhada que Thom Browne criou para mostrar uma série de ternos com calças de barras mais curtas. “Todo mundo sempre fala que Londres e Paris representam a vanguarda criativa e que Nova York é somente comercial”, diz Marden. “Mas não dá para repetir isso depois de assistir a um desfile como o de Thom Browne ou de Duckie Brown”.   Com seus volumes distorcidos, paleta ácida e inesperada elegância, o desfile de Duckie Brown foi, por unanimidade, o grande destaque da semana. Mas os que mais apresentaram evidências de que estão prontos para assumir seus lugares ao lado dos poderosos do setor foram os novatos que se mostraram criativos, rigorosos e impetuosos, como Garciavelez e Boyswear. Só a oportunidade de serem vistos próximos de Ralph Lauren ou Michael Kors já traz enormes benefícios para designers independentes como Jackson McKeehan da Boyswear ou Carlos Garciavelez Alfaro, da Garciavelez. “Para estilistas que estão começando, como é o meu caso, inaugurar a semana desperta uma enorme atenção de compradores, da imprensa e das plataformas de mídia social, o que antes era impossível”, acredita Alfaro. “Já tenho reuniões marcadas na Barneys e Saks. A semana deixou tudo mais integrado, de maneira que agora a moda masculina tem sua própria categoria e sua própria presença."   Para o influente designer Nick Wooster, a volta do evento era um passo aguardado há muito tempo por um setor que reagiu lentamente às mudanças demográficas e sociais. “Foi um esforço hercúleo que compensou amplamente, estabelecendo Nova York como uma fonte de grandes ideias”, diz Wooster. "Mas é sempre o segundo álbum, o segundo livro, filme ou coleção que consolida uma reputação”, acrescentou, referindo-se à próxima Semana de Moda Masculina em Nova York, com data já marcada para 28 de janeiro de 2016. “Agora é que começa o trabalho de verdade."

Tradução de Terezinha Martino 

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