A Geração Z: fim da linha e recomeço

'A turma que nasceu em meados de 90 vê a internet como uma plataforma para promover a união em torno da ideia de que está na hora de correr contra o tempo e salvar o que nos resta", escreve a colunista Michelli Provensi

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Por Michelli Provensi
Atualização:
A capa da revista I-D traz a modelo Natalie Westling como símbolo da Geração Z Foto: Reprodução

Quando pisei pela primeira vez em Londres, tacaram um guia "de A a Z" na minha mão e falaram que eu chegaria em qualquer lugar da cidade com o tal mapa, que não precisava me preocupar, que a cidade estava desvendada ali. Na última edição da revista inglesa I-D (aquela da piscadinha), a publicação mais cool que existe, a chamada de capa apresenta a "Geração Z” como a nova turma que vai mudar e salvar o mundo.

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Até onde eu sei, no alfabeto, só vamos do A ao Z se chegarmos no final da linha. Fico imaginando o peso nas costas dessa geração. Se a anterior, a Y, ficou marcada por expor seu ego nas mídias, como a revista Time bem apontou em um matéria chamada“Geração me me me", a Z representa os nascidos na era pós internet, profundos conhecedores do mundo digital, que estão conectados 24 horas, mas com um upgrade na alma: a capacidade de se importar com os rumos do planeta. 

Bem diferente da geração X, a turminha dos anos 80 que acreditava no consumismo e na abundância de reservas, o pessoal que nasceu em meados de 90 vê a internet como uma plataforma para promover a união em torno da ideia de que está na hora de correr contra o tempo e salvar o que nos resta, lutando para quebrar paradigmas do passado. Na web, esta mãe da consciência coletiva, é normal ter que desviar de um monte de lixo para chegar a algo relevante (como nas semanas de moda, em que apesar do vai e vem de modelos e looks, apenas duas ou três peças vão fazer sentido no seu guarda-roupa). 

Natalie Westling tem 18 anos e é defensora das causas LGBT Foto: Reprodução

Vivemos de tendências que designam instintos e certos impulsos da sociedade. A moda agora celebra o que faz a pessoa ser diferente e se destacar na multidão. Se seguirmos o pensamento da I.D, esta é o momento de quem nunca se sentiu incluso em padrões virar o jogo. A mocinha dando a piscadela na capa da revista, simbolizando a Geração Z, tem 18 anos, se chama Natalie Westling, vem de uma pequena cidade no Arizona e luta pelas causas do movimento LGBT. 

A garota não se encaixa em estereótipos de beleza e sabe da importância do mundo digital, mas é evoluída a ponto de não se tornar escrava dele. Natalie diz que dá para ser ativista e deixar o smartphone de lado de vez em quando para andar de skate. Tenho visto o movimento de outras modelos – muitas das gerações X e Y – aproveitando o poder que têm nas redes sociais para compartilhar campanhas de movimentos que saem do raio do consumismo e focam em questões humanas e políticas. No topo dessa lista, está Liya Kebede. Nascida na Etiópia, ela estrela grandes campanhas, mantém uma fundação em seu país natal para ajudar mães de baixa renda e é embaixadora da boa vontade da Organização Mundial de Saúde.

E de letra em letra, chegamos ao Z, ponto final e de recomeço. Se eu tivesse que nomear uma próxima geração, partiria para o alfabeto sânscrito. O idioma tem uma palavra única, mudita, que significa "a felicidade vem do sucesso e da alegria do outro" e é um dos pilares do budismo. Medita mundo, mudita.

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